terça-feira, 23 de dezembro de 2008

RESENHA LITERÁRIA


O PRIMO BASÍLIO - LER O FILME OU VER O LIVRO?
(Por Helder Bentes)

Minha intenção é escrever sobre O Primo Basílio – romance do século XIX, de Eça de Queirós. Mas dei uma pesquisada e vi que na internet o que não falta é coisa sobre este bendito primo, principalmente depois que Marisa Monte usou um trecho do romance para ilustrar uma de suas canções.
Decidi, então, escrever um pouco sobre a transposição da linguagem literária para a linguagem imagética, haja vista não ser o filme a primeira vez em que "O Primo Basílio" passa por essa adaptação, pois já houve uma minissérie da TV Globo, também baseada no famoso romance queirosiano, em 1988. Aliás, esta minissérie completa 19 anos (9 de agosto de 2007).
Luísa e Jorge têm três anos de casados e moram em Lisboa. Ele é engenheiro e trabalha num ministério. Ela adora ler romances, o que a influencia a ser sonhadora. O casal acredita na felicidade tal qual fora pintada pelos poetas românticos: um amor, um lar, uma família! E planejam ter um filho, mas Jorge viaja a trabalho para o Alentejo, a 130 km de Lisboa.
Enquanto Jorge está fora, Luísa reencontra Basílio, um primo que havia sido seu primeiro amor e que a abandonara há muito tempo. Ao rever a prima, Basílio pretende usá-la para passar o tempo enquanto fica na cidade até cumprir suas obrigações de trabalho. Luísa cede aos impulsos de Basílio, que a seduz tornando-se uma espécie de narrador-personagem de aventuras amorosas e, de certa maneira, fazendo-a sentir-se como uma personagem de romances. Começa assim uma história tensa, de mexericos e chantagens que giram em torno deste adultério.
Juliana, a criada de Luísa, representa uma categoria social desprestigiada e tem, nas cartas trocadas entre Basílio e Luísa, o instrumento de que necessita para executar sua vingança contra todas as patroas. Lançando mão da chantagem, Juliana obriga Luísa a servir de empregada em seu lugar.
Basílio abandona Luísa depois de haver lhe prometido levá-la para Paris. Jorge chega e descobre que Luísa é quem está fazendo todo o serviço de Juliana e demite a criada. Mas a chantagem continua. Juliana quer extorquir dinheiro de Luísa. Ela reza, joga na loteria e tenta prostituir-se para um banqueiro a fim de conseguir o dinheiro da chantagem, mas acaba desabafando com Sebastião (amigo de seu marido). É ele quem consegue recuperar as cartas que Juliana usa para chantagear Luísa. Juliana morre de colapso.
Basílio escreve a Luísa, mas a carta vai parar nas mãos de Jorge, que lê tudo e fica dividido entre matar ou perdoar a esposa, mas esta adoece, ao saber que Jorge descobriu tudo, e acaba morrendo.
Os romances realistas de Eça de Queirós sempre desbancam o romantismo, induzindo o leitor a perder a fé no amor romântico. Ele sempre ridiculariza aquilo que fazemos motivados por este tipo de amor. Em "O Primo Basílio", esta ridicularização aparece através da ironia que perpassa o necrológio sobre as virtudes de Luísa, feito pelo Conselheiro Acácio, representando o convencionalismo da sociedade.
A volta de Basílio – que, ao tomar conhecimento da morte da prima, lamenta-se com um amigo por não ter trazido Alphonsine, sua amante francesa – é outro exemplo dessa ridicularização.
Há quem prefira assistir ao filme porque a linguagem imagética é bem mais fácil de ser apreendida. No entanto, uma adaptação de obra literária cuja origem é a linguagem verbal escrita sempre implica uma perda da literariedade. Sem falar que uma adaptação inclui mudanças estruturais nos componentes da narrativa.
Por exemplo, se o romance de Eça ambienta-se em Lisboa do século XIX, o filme de Daniel Filho desenvolve-se em São Paulo, nos anos 50. Isto provoca uma mudança nas falas das personagens, na descrição de cenários e figurinos – e a obra de Eça é muito detalhista quanto a isto – e estas mudanças acabam afetando o enredo da obra.
O que se pode depreender, porém, permanece. O romantismo de Luísa continua sendo combatido, mas o espectador que não leu a obra talvez consiga inferir apenas o mau caratismo de Basílio, ou nem isto...

(Fonte: www.resenhando.com)

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