quarta-feira, 31 de março de 2010

UM DEDO DE PROSA - ESPECIAL DE PÁSCOA


O SIGNIFICADO DA PÁSCOA
(www.culturabrasil.pro.br)

A Páscoa é uma festa cristã que celebra a ressurreição de Jesus Cristo. Depois de morrer na cruz, seu corpo foi colocado em um sepulcro, onde ali permaneceu, até sua ressurreição, quando seu espírito e seu corpo foram reunificados. É o dia santo mais importante da religião cristã, quando as pessoas vão às igrejas e participam de cerimônias religiosas.
Muitos costumes ligados ao período pascal originam-se dos festivais pagãos da primavera. Outros vêm da celebração do Pessach, ou Passover, a Páscoa judaica. É uma das mais importantes festas do calendário judaico, que é celebrada por 8 dias e comemora o êxodo dos israelitas do Egito durante o reinado do faraó Ramsés II, da escravidão para a liberdade. Um ritual de passagem, assim como a "passagem" de Cristo, da morte para a vida (...).
MEUS VERSOS LÍRICOS


ROMANCE SEM OUTRO IGUAL
(Joésio Menezes)

Se não paras de pensar em mim,
não te preocupes, isso não é o fim,
mas o recomeço de uma outra vida
que faz parte do nosso passado;
e mesmo não estando ao meu lado,
serás sempre minha Musa preferida.

Me ausentei da tua vida, admito,
mas o fato de eu não mais ter escrito
a ti alguns versos sentimentais
não significa que a paixão acabou
ou que a inspiração me faltou,
restando-me as lembranças e nada mais.

Tudo o que vivemos foi verdadeiro,
mas quis o destino que o roteiro
do nosso amor tivesse outro final;
e ainda que piegas isso pareça
eu peço que não te esqueças:
tivemos um romance sem outro igual.


TROCA DE VERSOS
(Joésio Menezes)

Mesmo a quilômetros de distância
Mantemos contato constantemente.
Tu me envias versos em abundância;
A ti, os devolvo frequentemente.

Teus versos me vêm cheios de elegância
Trazendo-me tua paixão descontente
Com a minha suposta ignorância
A respeito do que por mim tu sentes.

Meus versos escrevo e os envio...
Eles levam a ti meu desvario
Presente em cada palavra escrita.

E nessa troca constante de versos
Surgem sentimentos dos mais diversos,
O que faz minh’alma ficar aflita.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


TEU OLHAR
(Kora Lopes)

Gosto de te ver me olhando
Ansiosamente, sem nada falar...
Gosto de te ver me amando
Apenas com os olhos, sem se declarar.

No entanto, esse teu olhar
Me enche de ansiedade,
Um desejo de te amar
Apesar da tua idade.

Saber que alguém me quer,
Pensa em mim com muito afã,
Faz-me sentir mais mulher
E me esquecer do amanhã...

Por que pensar no amanhã
Se no meu não hás de estar
E jamais irás saber
Que perturbou-me teu olhar?...


LÁGRIMAS
(Vivaldo Bernardes de Almeida)

Escrevo-te, chorando, estes meus versos,
as marcas no papel logo as verás.
São lágrimas que caem dos olhos tersos;
são manchas que tu nunca apagarás.

Os pingos que tu vês no meu escrito
vêm da alma e os olhos me inundam
e caem quando eu os teus eu fito
e tremem quando os olhos se aprofundam.

Justos são os soluços que me abrasam
ao pensar nas palavras que disseste,
impondo condições que te comprazam.

Penso eu que o amor jamais se vende,
e não há um amante que conteste
depois do fogo que nele se acende.
CRÔNICA DA SEMANA


UM PAÍS DESARRUMADINHO...
(Taís Luso de Carvalho)

Felizmente nem todos pensam como eu: tem gente que é feliz, que tem esperança, tem seu partido político, e acredita em mudanças. Dizem por aí que um dia a casa se arruma. Ter esperança é fundamental para uma vida saudável. Gostaria de tê-la, quanto ao nosso país.
Atualmente nossos políticos nos oferecem duas alternativas: a terapia da aceitação e a terapia do riso. Segundo alguns entendidos em saúde mental, rir é uma forma de libertar-se e de se comunicar. E quando perdemos o hábito de rir começamos a morrer. Então penso que chorar não adianta mais; me matar não resolverá nada, ninguém sabe que existo... (Acho que hoje estou um pouco dramática, vou suavizar.)
Bem, mas seguindo os conselhos mais saudáveis, resolvi, todas as segundas feiras entrar em terapia de apoio - antes de ficar pinel -, assistindo o humorismo do CQC, que na minha opinião é o melhor no estilo. Entro em alerta máximo: fico sabendo de tudo, sem estresse, e ver nossos deputados e senadores constrangidos com o sarcasmo ferino do CQC - que não leva ninguém pra compadre; apenas mostram o que está acontecendo, e dão os nomes...
É muito engraçado ver tanta gente destrambelhada, fugindo dos repórteres, tentando esconder suas caras. Sim, porque poucos falam coisa com coisa naquela casa... A casa do povo precisa ser mais arrumadinha. Decente. Sem vícios.
Deu pra ver que tem gente por lá que não sabe nada sobre os projetos em votação. Eu não tenho obrigação de saber sobre os projetos, mas eles têm: estão ganhando pra isso. E constatar tal descaso, dá medo. As eleições estão chegando e a turma vai viajar como nunca. E os projetos serão empurrados com a barriga. Não estou dizendo nada que já não se saiba. Constataremos tudo no torturante Horário Político Nacional - quando a podridão aflorará à escala máxima. Mas acredito que tais permutas de agressões não farão muita diferença no contexto geral.
Cansei de ser generosa; perdi a capacidade de lidar com certos imprevistos e de ver cuecas, meias e bolsas servirem para outras coisas mais.
Algumas almas caridosas - que ainda acreditam nos homi - andam dizendo por aí que o sofrimento eleva o espírito e serve para o nosso crescimento; e que um dia a gente acerta no alvo. Tá bom...Tô achando uma baita notícia.
Mas quem pensa em crescer e elevar seu espírito vendo seu emprego ir pro brejo e sua família morrer à míngua? Como dá pra crescer se existe – lá pelas bandas de Brasília – gente preocupada em fazer um bom pé-de-meia?
Como dá pra crescer com tanta corrupção sem punição?
Como dá pra crescer com escolas, postos de saúde, asilos e hospitais - em muitos lugares – esquecidos e funcionando à meia-boca?
Como dá pra crescer se os médicos que trabalham na rede pública, por ganharem um salário minguado, precisam trabalhar em outros empregos ficando a população à deriva?
Como dá pra crescer com bueiros entupidos e o caos se instalando, à menor chuvinha, levando tudo pro brejo e a coisa sem solução?
Como dá pra crescer sem emprego, faltando escola, faltando professor e os alunos perdendo o respeito e se atracando nos colégios?
Como dá pra alguém crescer sabendo que segurança é ilusão; que nos parques, nas lojas, nos escritórios, nas ruas e nos Bancos podemos trombar com um '38' fincado na testa?
A base de uma sociedade saudável são suas crianças, e enquanto estiverem abandonadas seremos apenas o que somos, nada mais.
Ah, que programaço sentar na frente da televisão, nesse torturante horário político, com bandeirinha na mão e esperança no coração...

quarta-feira, 24 de março de 2010

UM DEDO DE PROSA


UM FUTURO DE PAZ

Segundo Ellanos Roosevelt, "o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos". Então, acredito que em breve o terei em minhas mãos, pois sou um sonhador “de carteirinha”, e os meus sonhos ultrapassam as fronteiras do inalcançável na busca incessante da paz entre as nações, da harmonia entre o homem e a natureza, da redenção da raça humana diante das suas fraquezas, do lúcido equilíbrio emocional do homem para com as suas aspirações, do amor verdadeiro...
Se de fato "o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos", acredito que a humanidade pode esperar um futuro promissor, pois, assim como eu, muitos são os que acreditam na beleza dos seus e buscam meios de torná-los possíveis de se realizarem, fazendo por merecerem um Futuro melhor para eles e para todos à sua volta.
Sei que esse Futuro Promissor é um projeto cujo resultado não nos beneficiará de imediato (se fosse, não justificaria sua denominação: futuro), mas isso é o que menos importa àquele que semeia seus sonhos em prol de um futuro melhor para todos.
Se o futuro do Planeta for como nós, os sonhadores, sonhamos, daremos por concluída a nossa tarefa: deixar aos nossos descendentes um Mundo onde se possa viver em PAZ.
MEUS VERSOS LÍRICOS


AH, ESSA TAL TPM!...
(Joésio Menezes)

Ah, essa tal TPM intrusa!...
Como pode ela se intrometer
No que de mais belo pode haver
Entre o poeta e a sua Musa?

Sempre que chega, ela abusa
E transforma a mulher em outro Ser,
Mas cabe ao homem compreender
E deixá-la no seu canto, reclusa.

Sempre que vem, ela muda a rotina
De humor de toda e qualquer menina,
Seja ela calma ou estressada.

E o poeta – pobre coitado! –
Sente-se o principal culpado
Pelo “destempero” da Musa amada.


**O QUE ME FAZ FELIZ
(Joésio Menezes)

O que me faz ser feliz
É deslizar sobre o corrimão,
É fazer bolinhas de sabão,
É tomar banho no chafariz.

O que me faz ser feliz
É comer quiabo no feijão;
É mortadela dentro do pão,
É cortar o mal pela raiz.

O que me faz ser feliz
É ler revistas do Cascão,
É trabalhar sem ter patrão,
É ser dono do próprio nariz.

O que me faz ser feliz
É recordar uma grande paixão,
É ouvir no rádio uma antiga canção,
É poder fazer o que sempre quis.

E o que me faz ser infeliz
É guardar rancor no coração,
É por toda vida ouvir um NÃO,
É a palavra que nos maldiz...

É não entender os textos que fiz,
É estar brigado com um irmão,
São os problemas sem solução,
É a política do nosso país.

**Resposta à pergunta de Arnaldo Antunes (O QUE FAZ VOCÊ FELIZ?)
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA



SIDERAÇÕES
(Cruz e Sousa)

Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...



Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo...

Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta...

E as ânsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta...


RABISCOS QUAISQUER
(Aline Menezes)

O poeta que rabisca algumas linhas
é solitário por fazer sua própria arte.
O poeta que rabisca algumas linhas
traz da alma a sombra de sua luz.
O poeta que rabisca algumas linhas
olha o canto das palavras pra contar.
O poeta que rabisca algumas linhas
é um poeta como eu:
angustiado e vazio;
perdido e duvidoso;
estranho e só,
assim como a pedra
no meio do caminho.
CRÔNICA DA SEMANA


A FITA MÉTRICA DO AMOR
(Martha Medeiros)

Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.
Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto.
Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.
É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes.
Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho.

terça-feira, 16 de março de 2010

UM DEDO DE PROSA


AINDA SOBRE AS MULHERES

Muito temos a falar sobre elas.
Quando digo “falar sobre elas”, não estou referindo-me às fofocas que surgem de pessoas maldosas, invejosas, que não têm nada melhor a fazer...
O “falar sobre elas” a que me refiro é falar PARA ELAS, COM ELAS, POR ELAS. É poder espalhar pelos quatro cantos do mundo (e sem peso na consciência) o que de melhor elas têm. E se me fosse dado esse poder, eu levaria séculos e séculos falando e não esgotariam as suas qualidades.
É uma pena que mundo afora ainda existam aqueles que não têm sensibilidade o suficiente para perceberem ao menos uma única qualidade nelas, como por exemplo, o simples fato de serem MULHERES, e por serem MULHERES, elas simplesmente são o feminino de DEUS, ou seja, ONISCIENTES, ONIPRESENTES e ONIPOTENTES.
Infelizmente, ainda existem homens que as espancam, que as humilham, que as ignoram, que as consideram seres inferiores cuja única “utilidade” é servir-lhes quando eles bem quiserem. Mas esses trogloditas são seres de outra civilização; e tenho a esperança de que um dia eles sejam “espécimes” em extinção.
Reiterando o que eu disse no início deste texto, se me fosse dado o poder de espalhar pelos quatro cantos do mundo que as MULHERES são o que de melhor Deus fez, isso o faria cheio de lisonja, ainda que eu levasse um milênio para fazê-lo.
MEUS VERSOS LÍRICOS


VIDAS
(Joésio Menezes)

A concepção,
O nascimento,
A infância,
A adolescência,
Os sonhos,
A maturidade...
O encontro,
O primeiro beijo,
O namoro,
A paixão,
O matrimônio,
Dois corpos,
O amor,
Um bebê...


ENCANTOS E SEGREDOS
(Joésio Menezes)

As Letras levam Encanto à poesia,
que encanta as mulheres
que encantam os homens
que tentam desvendar os segredos
do encantamento das Letras,
da poesia e das mulheres.

E quando conseguem desvendá-los,
os homens desencantam-se
e percebem que as três - Letras,
poesia e mulheres – pertencem
ao mesmo gênero: o feminino,
daí o motivo de encantarem tanto.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


CANÇÃO
(Cecília Meireles)

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas


AO AMOR ANTIGO
(Carlos Drummond de Andrade)

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
CRÔNICA DA SEMANA


UM TRISTE RELACIONAMENTO
(Tais Luso de Carvalho)

Pois é, existem pessoas que já nascem com cara de festa, e seguem festeiras pelo resto da vida. É o caso da minha amiga Janaína, bonita, olhos verdes, e com aquele jeito de mulher 'eu me basto'.
Tudo aconteceu por volta de seus 45 anos. Lembro que seu primeiro casamento foi por amor, eu acompanhei, éramos bem próximas. Do segundo não lembro muito, estávamos um pouco distanciadas. Mas, após o primeiro casamento ela não pensava mais em compromissos sérios, queria apenas curtir a vida. Nada de amarrações.
Lembro que gostava de ler Dostoiewsk, Saramago, Dürrenmatt... Bom gosto tinha a guria. E sua admiração era por homens intelectuais, que curtissem cinema, teatro, artes... Mesmo assim, volta e meia saía com a gurizada. Talvez para abrandar a sua vida meio solitária.
Certo dia conheceu André: um homem inteligente e sensível, mas longe de ser um intelectual, era apenas bem informado. Seu hobby era cuidar de seu sitio, de seus animais e de suas orquídeas. Geralmente quando um homem cuida de flores já é um indício de sensibilidade.
Desse encontro nasceu uma sólida amizade e, por parte dele, transformou-se num amor sereno e intenso: um sentimento que não exigia trocas, ele queria, apenas, estar junto e compartilhar a vida com Janaína.
O relacionamento, meio que morno, conseguiu chegar ao terceiro ano. Volta e meia ela desaparecia, inventava uma viagem, sozinha. Lembro que ela me escrevia do exterior, contando um pouco de suas maluquices. Lembro, também, do meu esforço para não dar palpites, uma vez que não concordava com certas coisas. Isso nos afastou um pouco. Não que eu fosse careta, mas apenas não gostava de presenciar certas ‘desordens’.
Numa tarde, nublada e fria, Janaína foi ao correio. E lá estava um rapazote que lhe chamou a atenção por ter o rosto muito parecido com o de André. Porém um rosto com expressão de dor. De súbito - contou-me -, foi tomada por uma sensação estranha. Saiu intrigada, com um certo mal-estar e com náuseas.
Chegando em casa, um recado dependurado em sua porta dizia que André estava hospitalizado. Aquilo a intrigou; quem teria dependurado aquilo? Por que não telefonaram para o seu celular? E com o coração meio que descompassado dirigiu-se ao hospital. Chegou tarde; André já não estava mais presente: aos cinquenta e quatro anos seu coração desistiu de viver. E não contou tempo para despedidas. Talvez, acredito, a vida lhe poupou das dores e lhe deu o direito de morrer em paz.
Fui ao encontro de Janaína. Para ela estava difícil de acreditar que André não estava mais presente; que não estaria mais presente para ler seus jornais, suas revistas e vibrar com seus filmes policiais e suas comédias-pastelão; que não estaria mais ali para continuar amando-a intensamente. Mas, agora, era tarde. Nada mais a fazer com seus sentimentos miseráveis. O que conseguiu foi entrar num processo de depressão.
Um ano se passou. Em dezembro, finalmente, ela pode visitar o túmulo de André – e, a seu pedido, fui com ela. Levou orquídeas brancas. Ajoelhou-se, e pela primeira vez sentiu que precisava conversar com ele: contou-lhe de sua solidão, de sua angústia e da saudade que estava difícil de suportar. Lembrou do pouco que André exigia; lembrou de seus jornais, de seus filmes... E lembrou que seu companheiro nunca havia feito exigências; e que também nunca foi feliz ao lado dela.
E ali, ao lado de seu túmulo - onde tudo acaba e todos se tornam iguais -, declarou o seu amor... Deu-se conta como eram verdadeiras as atitudes de André. E aprendeu com ele que amar é aceitar as diferenças, coisa do qual ela se esquecera. Deslizou sua mão sobre a fria lápide, num consternado pedido de perdão...
Quero esquecer daquele ano de 2004; e também de Janaína - mesmo porque seu nome nunca foi Janaína...

segunda-feira, 8 de março de 2010

UM DEDO DE PROSA

EDIÇÃO ESPECIAL AO "DIA INTERNACIONAL DA MULHER"

Ah!... que bom seria se os homens reconhecessem todos os dias do ano como sendo o DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Tenho certeza que nós, os homens, seríamos os maiores beneficiados, pois elas teriam mais tempo para nos brindar com a sua beleza, com o seu encanto, com a magia do seu sorriso... Teríamos mais tempo para com elas aprendermos muito, inclusive a bem administrar os três turnos do dia e, ao final do expediente, ainda termos um riso no rosto e um brilho no olhar, os quais serviriam de porto seguro aos nossos filhos e, principalmente, aos nossos cônjuges;
teríamos mais tempo para conseguirmos controlar as emoções e não nos deixarmos atingir pelo cansaço da lida, pelo tédio da rotina, pelo mal-humor da TPM, pelo estresse do trânsito congestionado...; teríamos mais tempo para contemplarmos a Terra girando em torno delas, pois são elas o Astro Maior do planeta, o equilíbrio do Universo, a essência da vida, a razão da existência, as donas do nosso Ser.
Parabéns, Mulheres, por esse dia tão especial, e muito obrigado por vocês existirem.
MEUS VERSOS LÍRICOS




MULHER
(Joésio Menezes)

És tu, ó divina mulher,
O maior encanto do Universo;
A beleza poética de todo verso
Rimado ou sem rima qualquer.


És também, mulher amada,
A razão da nossa existência...
Do verdadeiro amor és a essência
Pelos mortais tão desejada.

És, inclusive, sinônimo de vida!
És pelos deuses a preferida,
És o retrato fiel do labor.

És a predileta da Mãe Natureza;
E para o poeta, com toda certeza,
És Musa, és deusa, és Mulher, és flor...


A MULHER E A SAUDADE
(Joésio Menezes)

O velho cancioneiro já dizia:
“- Saudade já tem nome de mulher
Só pra fazer do homem o que bem quer”,
E isso sinto na alma hoje em dia...

Ela - a saudade - vorazmente me judia
Sem remorsos, sem receios quaisquer,
Deixando longe de mim a mulher
Que felicidade e amor me trazia.

Sabendo disso, a mulher amada
Diz não estar sentindo nada,
Deixando meu coração angustiado.

E lado a lado com a saudade
A mulher, sutilmente, invade
O peito desse velho apaixonado.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


MULHER II
(Vivaldo Bernardes)

Tu és pura e nobre, origem do homem;
da Terra és rainha, do lar segurança;
aos entes do mundo não tens semelhança;
carinhos tens muitos que não se consomem.

És luz que se acende no escuro das noites;
farol que indica o roteiro a seguir;
bonança que trazes no rosto a sorrir
depois da borrasca, no fim dos açoites.

És fonte segura d´amor desvelado;
cansaço não queixas ou dores quaisquer,
só tendo por mira o amor acendrado.

O amor genuíno que trazes no peito
é próprio de ti, pois te chamas mulher,
por mais dores sintas não mudas teu jeito.


MULHER, MUSA INSPIRADORA
(Francisco Edival A. Silva)

Mulher, sempre mulher
Dos vates renascentistas
Com suas belas cantigas.

Mulher, musa inspiradora
De Byron e de Azevedo
Com seus poemas trigueiros.

Mulher, musa inspiradora
Do real do Realismo
Dos romances de Assis.

Mulher, musa inspiradora
Dos romances de Vinícius
Dos escritos de Morais.

Mulher, musa inspiradora
Das letras de Buarque
De Leandro e Leonardo.

Mulher, musa inspiradora
Do moderno Modernismo
De Drummond e de Camargo.

Mulher, musa inspiradora
Das canções melodiosas
De Mineiro e Marciano.

Mulher, musa inspiradora
De Martinho, de Luciano
Também de Gil e Caetano.

Mulher, musa inspiradora
De Camões a Lampião
Amada de Magalhães.

Mulher, musa inspiradora
De Caminha, Lee e Erasmo
Cantando seu sexo frágil.

Mulher, musa inspiradora
De Roberto, Bruno e Marrone
Gravando pra Mariane.

Mulher, musa inspiradora
Mulher, sempre mulher
Que em nosso Assaré
Nesta terra criativa
É também de Patativa
CRÔNICA DA SEMANA


MULHERÃO
(Martha Medeiros)

Peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar do tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80m, siliconada, sorriso colgate. Mulherões, dentro deste conceito, não existem muitas: Vera Fischer, Leticia Spiller, Malu Mader, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas. Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma a cada esquina.
Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir ao trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome. Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matricula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 Reais.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento. Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista. Mulherão é quem leva os filhos à escola, busca os filhos na escola, leva os filhos para a natação, busca os filhos na natação, leva os filhos para a cama,c onta histórias, dá um beijo e apaga a luz. Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.
Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expediente de oito horas e enfrenta menopausa, TPM, menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.
LUMAS, BRUNAS, CARLAS, LUANAS E SHEILAS: Mulheres nota dez no quesito “lindas de morrer”, mas MULHERÃO É QUEM MATA UM LEÃO POR DIA.

terça-feira, 2 de março de 2010

UM DEDO DE PROSA


APOCALÍPTICO

Não me lembro de ter falado a vocês que sou chorão. Desmentindo tudo aquilo que me foi dito quando eu era criança (cansei-me de ouvir falarem que “homem não chora”), digo-lhes agora: EU SOU CHORÃO.
A coisa se agravou ainda mais depois que passei dos trinta: chorei quando Ayrton Senna morreu; com o episódio de “11 de setembro”; quando o Brasil foi pentacampeão; quando Cielo e Maurren conquistaram a medalha de ouro nas Olimpíadas e, mais recentemente, na Formatura do meu filho... Só não chorei quando meu time foi rebaixado!... Ah, isso não!... Isso é lá problema deles!
Emociono-me facilmente, e como bem diz Zeca Baleiro, “ando tão à flor da pele que qualquer cena de novela me faz chorar”... E se chorar nos faz perder peso, creio ter emagrecido alguns quilinhos desde 1º de janeiro até hoje, pois diariamente tenho assistido nos telejornais a cenas de catástrofes naturais (algumas delas com uma “mãozinha” do homem), as quais mataram centenas de milhares de pessoas e deixaram outras tantas desabrigadas, com sequelas físicas e psicológicas difíceis (ou quem sabe impossíveis) de serem esquecidas.
Como não chorar pelas vítimas da tragédia de Angra; das enchentes Brasil e mundo afora, dos terremotos no Haiti e no Chile...? Como ficar alheio ao sofrimento das famílias que, em alguns lugares do mundo, nada têm a oferecer aos seus famélicos filhos?
Os mais religiosos costumam dizer que tudo isso está escrito em Apocalipse; que é sinal de que o mundo está perto do fim.
Às vezes também penso nessa hipótese, mesmo acreditando que o mundo só acaba para quem morre!...
MEUS VERSOS LÍRICOS


EU E O (EN)CANTO DO PATATIVA
(Joésio Menezes)

Patativa e eu
Temos algo em comum:
Ele era cego de um olho
E eu só enxergo com um;
Somos filhos do Nordeste,
Terra dos “caba da peste”
Que não têm medo algum.

Inda meninos nós perdemos
A figura do progenitor;
Tarde ingressamos na escola;
Cedo conhecemos o labor...
Somos também semelhantes
Quando nos fazemos amantes
Das letras e dos versos de amor.

E em cada verso escrito,
Deixamos ali registrado
Tudo aquilo que sentimos
Sem medo de termos errado
Na dosagem do sentimento
Que provoca o sofrimento
Dos que sonham acordado.

Mas essas tais semelhanças
Entre mim e ele existentes
Vão ficando bem limitadas
E cada vez mais ausentes,
Pois as suas belas poesias
Ele as escreve com maestria,
As minhas faço timidamente...

Enquanto meus versos engatinham,
Os dele já ganharam o mundo;
Enquanto aos meus me dedico,
Nos dele eu mais me aprofundo
Em busca da rara sobriedade
Existente nos vates de verdade
Que fazem versos profundos.

Busco, porém, inspiração
Na poesia matuta e criativa
Solta pelo mundo encantado
Dos poetas de alma efusiva...
Assim, quem sabe um dia
Encontrarei a doce magia
Implícita nos cordéis de Patativa?

Voltada ao povo marginalizado
E oprimido do sertão nordestino,
A poesia do Mestre Patativa
Atravessou as fronteiras do Ensino
Mostrando a todos a simplicidade
Dos versos escritos com habilidade
Por quem soube fazer seu destino.

Já os versos da minha poesia
Em muito tenho que aprimorar,
Também é longo o destino
Que eu pretendo desbravar,
Pois no meu fadário sou infante;
Na arte de versejar, um estudante
Inda longe de se formar...

Considero-me um aprendiz
De poeta, mas tenho fé
Que os meus versos sejam um dia,
Mesmo remando contra a maré,
Mundo afora reconhecidos
Muito embora eu não tenha sido
Um Patativa do Assaré...

Patativa pouco estudou,
Porém não teve dificuldade
Em assimilar que própria vida
É a melhor faculdade
Para se aprender de tudo,
Inclusive que, sem estudo,
É possível ter felicidade.

Embora eu tenha estudado
E muitas coisas aprendido,
Não me é possível alcançar
O mesmo nível do falecido
Patativa do Assaré
Que há muitos anos é
Dentre tantos o mais lido.

Como bem podemos ver
Nestas brancas folhas de papel,
As semelhanças que existem
Entre mim e o grande Menestrel
Não passam de mera pretensão
De um poeta cuja intenção
Foi só escrever este cordel.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


DOCE AMOR
(Gonçalves Dias)

Doce Amor — a sorrir-se brandamente
Em sonhos me falou com tal brandura,
Que eu só de o escutar vida mais pura
Senti coar-me n'alma fundamente.

Depois tornou-se o tredo fogo ardente
Que o instante, o ano, a vida me tortura.
Bem longe de gozar tanta ventura,
Cresta-me o rosto agora o pranto quente.

Homem, se homem és no sentimento,
Não zombes, não, de mim tão desditosa,
Nem seja o teu alívio o meu tormento.

Deixa-me a teus pés cair chorosa,
Soltar no extremo pranto o extremo alento,
Que eu morrendo a teus pés serei ditosa.


UM DIA DE VERÃO
(William Shakespeare)

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na eterna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
CRÔNICA DA SEMANA


EU GOSTO E PRONTO
(Felipe Peixoto Braga Netto)

Eu gosto de sol, gosto de árvore, eu gosto de cerveja. Não, não há nenhuma relação óbvia entre os três, eu só queria dizer que gosto de cerveja, mas estava com vergonha de dizer assim, dizer só isso, sem outros gostares juntos.
Sempre gostei. Não gosto de outra bebida. Detesto uísque. Não tomo pinga. Tudo bem, a única infidelidade é um vinhozinho. Mas só para acompanhar uma massa ou, às vezes, num jantar romântico. Gosto mesmo é de cerveja.
Na Europa, no verão, toma-se sorvete. Aqui se toma cerveja. Está certo? Não sei. Mas por que não fazer os dois? Toma-se uma cerveja e depois um honesto sorvete. Vivemos no mundo do pluralismo. Gente, é preciso aprender a não discriminar. (Ah, falando nisso, também gosto muito de sorvete, tem um lá perto de casa que é ótimo. Um dia vamos lá!).
É uma bebida que agrega. Talvez pelo fato do álcool da cerveja ser menos agressivo que o das outras bebidas. Quem bebe uísque, vodca, é muito mais solitário que quem bebe cerveja. Não sei, mas acho que as outras potencializam o que é depressivo. A cerveja, ao contrário, agrega, diminui as restrições individuais, a dificuldade de socialização. Claro, desde que sem exageros. Quem perde o chão fica chato e perigoso.
Em Minas, e eu acho isso bonito, as meninas (algumas) também bebem cerveja, também gostam. Claro que só é certo fazer isso comigo, sem minha presença é arriscado, fica perigoso e talvez feio.
É, acho que é só isso que eu tinha a dizer. Quase nada, você viu. Era só uma pequena homenagem lírica à cerveja. Acho até que ela combina com Belo Horizonte. É, combina. De tarde ou de noite, num boteco com mesas na calçada, debaixo de uma árvore gorda, tomando cerveja e pedaços de sol. Ah, é bom, faz bem, não é errado não.
E nessas horas você pode, ninguém proíbe, pensar nela, fazer planos, achar que sua vida será bonita e boa. Pode até ser que não seja. Mas é bom se enganar um pouquinho assim, é um engano inocente, não faz mal a ninguém.