quinta-feira, 25 de novembro de 2010

UM DEDO DE PROSA

A POUCOS DIAS DO FIM...

Aproxima-se o final do ano letivo. Os professores - hoje com menos cabelos que ontem devido ao estresse diário (e aos diários) – fazem das tripas coração para chegarem vivos às provas finais enquanto os alunos usam suas calculadoras e fazem as contas de quantos pontos necessitam para serem aprovados e, consequentemente, saírem de férias sem problemas com o boletim.
As mães (pobres mães!) acendem velas para São Judas Tadeu (o santo das causas impossíveis) e fazem-lhe promessas para que seus filhos não sejam reprovados, caso contrário elas terão que antecipar o pedido de perdão (e de um pouco mais de paciência) a Deus, pois seus filhos serão alvos de pancadas; e elas, alvos das críticas dos maridos que nunca comparecem às escolas em busca de informações acerca do rendimento escolar dos herdeiros dos seus problemas.
E alheios a esses (e a outros mais) “insignificantes” problemas de rotina nas escolas, os governantes estouram seus champanhes comemorando a antecipação da “gorda” Gratificação Natalina - que sempre vem acompanhada dos 13º, 14º e 15º salários - enquanto fazem contagem regressiva para a chegada do recesso de final de ano, o qual, em muitos casos, se estenderá até após o carnaval.
MEUS VERSOS LÍRICOS

LASCÍVIA
(Joésio Menezes)

Se para mim te insinuas
Olhando-me de través,
Desejo-te sempre nua,
Mesmo sabendo quem és:

A diva que me alua
E me põe sob os seus pés,
Por isso, lasciva Lua,
Não me olhes de viés!


Esse teu oblíquo olhar
Me leva a te desejar,
Acende meu estopim...

E se assim continuares
Lançando-me teus olhares,
Não responderei por mim!


VIDA
(Joésio Menezes)

Afinal, para quê serve a vida
Se não posso eu vivê-la sem ti?
Talvez ela sirva de sobrevida
Ao romance que contigo vivi.

Pode ser ela, também, a guarida
Das dores que outrora eu senti
Quando da minha paixão proibida
Por aquela que jamais esqueci

E até hoje habita meu peito,
Fazendo de mim um pobre sujeito,
Incapaz de viver longe de ti...

Afinal, para quê chorar a vida
Se, logo após a tua despedida,
Me senti melhor depois que morri?...
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

PARA A VERTIGEM!
(Raul de Leoni)

Alma em teu delirante desalinho,
Crês que te moves espontaneamente,
Quando és na Vida um simples rodamoinho,
Formado dos encontros da torrente!

Moves-te porque ficas no caminho
Por onde as cousas passam, diariamente:
Não é o Moinho que anda, é a água corrente
Que faz, passando, circular o Moinho...

Por isso, deves sempre conservar-te
Nas confluências do Mundo errante e vário.
Entre forças que vem de toda parte.

Do contrário, serás, no isolamento,
A espiral, cujo giro imaginário
É apenas a Ilusão do Movimento!...


SONETO DA SEPARAÇÃO
(Vinícius de Moraes)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
CRÔNICA DA SEMANA

DESPEDIDA DE ONTEM
(Pâmela S. de Melo)

Talvez eu saiba o propósito dessa chuva fria e insistente. Ela veio lavar meu caminho, selar um capítulo de minha história e inaugurar outro. E isso provoca em mim um bocado de angústia.
Finalizar um período, saber que daqui pra frente ele só vai existir no canto melancólico de minhas lembranças machuca um pouco, deixa meu coração pequenininho e apertado, ele caberia na ponta de uma estrela de tão encolhido e frágil que está. Eu sei que ele está se preparando para novas emoções e aventuras, e essas promessas de esperança é que fazem a semente germinar e dar frutos, mas, hoje, só hoje, as lágrimas insistem em cair só pra se despedir de ontem. Vou deixá-las chover em mim.
Amanhã, eu guardo essas lembranças tão recentes no meu baú de preciosidades, transformo essa angústia em coragem, e vou voar, alto, livre... vou semear meu campo de flores, porque a minha primavera é certa, e está pra chegar!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

UM DEDO DE PROSA

DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Sábado, dia 20/11, comemorar-se-á o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA. Essa data foi estabelecida pelo projeto de lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, pois foi neste dia (no ano de 1695) que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
A homenagem a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período Colonial. Ele morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma resistência ao sistema escravista e também uma forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.
Historicamente falando, a criação dessa data foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram (e muito!) nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país, por isso, o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA deveria ser comemorado nas escolas, nos espaços culturais e em outros locais, como forma de valorização da cultura afro-brasileira.
Vale ressaltar ainda que no Brasil sempre ocorreu uma valorização extremada e errônea dos personagens históricos de cor branca, como se a nossa história tivesse sido construída somente pelos europeus e seus descendentes. Imperadores, navegadores, bandeirantes, líderes militares entre outros foram sempre considerados heróis nacionais.
Felizmente, temos hoje a valorização de um líder negro em nossa história. Esperamos que em breve outros personagens históricos de origem africana sejam valorizados por nosso povo e por nossa história.
Amém!...

Fonte: www.suapesquisa.com/datascomemorativas
MEUS VERSOS LÍRICOS

PRECONCEITO
(Joésio Menezes)

Que culpa tenho eu
Se tua pele é branca,
Se minh’alma é franca,
Se o preconceito é teu?

Orgulho tenho eu
Da minha negritude,
Pois essa é uma virtude
Que Deus-Pai me deu.


Que culpa eu posso ter
Se nada fiz pra merecer
De Deus tanto amor?...

Rasga do teu peito
O infame preconceito
Contra minha negra cor!


APARTHEID
(Joésio Menezes)

Sou filho do apartheid,
O sofrer é meu irmão...
Soweto, sou gueto, sou preto
Vítima da segregação.
Dizem que sou inferior
E por causa da minha cor
Não me estendem a mão.

Não tenho meus direitos
Políticos ou sociais.
E até a própria liberdade
Eu não a tenho mais,
Pois fora de Soweto
Sou gueto, sou preto
Nas páginas policiais.

A violência do apartheid
Noticiada nos jornais
Mobilizou a humanidade
E por isso não sofro mais,
Mas ainda sou do gueto
E me orgulho de ser preto,
Como os meus ancestrais.

Meus filhos hoje sofrem,
Por serem filhos de um “negão”
E netos do apartheid
Que só lhes trouxe humilhação.
Sou preto... sou do gueto,
Mas a eles eu prometo
O fim da segregação.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

PRETO NO NEGRO
(Jorge Amâncio)


grana preta peste negra
minha preta pérola negra
faixa preta cambio negro

negropreto
musica negra
poesia negra
artista negro


um preto
pretinho básico
pretaporter

pretonegro
negro gato
gato preto
caixa preta
buraco negro


DILACERAÇÕES
(Cruz e Sousa)

Ó carnes que eu amei sangrentamente,
ó volúpias letais e dolorosas,
essências de heliotropos e de rosas
de essência morna, tropical, dolente...

Carnes, virgens e tépidas do Oriente
do Sonho e das Estrelas fabulosas,
carnes acerbas e maravilhosas,
tentadoras do sol intensamente...

Passai, dilaceradas pelos zelos,
através dos profundos pesadelos
que me apunhalam de mortais horrores...

Passai, passai, desfeitas em tormentos,
em lágrimas, em prantos, em lamentos
em ais, em luto, em convulsões, em dores...
CRÔNICA DA SEMANA

RACISMO
(Luis Fernando Veríssimo)

Preconceito racial e discriminação racial são duas coisas diferentes.
O preconceito é um sentimento, fruto de condicionamento cultural ou de uma deformação mental, mas sempre incorrigível. Não se legisla sobre sentimentos, não se muda um habito de pensamento ou uma convicção herdada por decreto. Já a descriminação racial é o preconceito determinando atitudes, políticas, oportunidades e direitos, o convívio social e o econômico. Não se pode coagir ninguém a gostar de quem não gosta, mas qualquer sociedade democrática, para desmentir o nome, deve combater a descriminação por todos os meios – inclusive a coação.
Não concordo com quem diz que uma política de cotas para negros no estudo superior é discriminação. É coação, certo, mais para tentar corrigir um dos desequilíbrios que persistem na sociedade brasileira, o que reflete na educação a desigualdade de oportunidades de brancos e negros em todos os setores, mal disfarçada pela velha conversa da harmonia racial tão nossa. As cotas seriam irrealistas? Melhor igualdade artificial do que igualdade nenhuma.
Agora mesmo caíram em cima de quem disse – numa frase obviamente arrancada do contexto – que racismo de negro contra branco é justificável. Nenhum racismo é justificável, mas o ressentimento dos negros é. Construiu-se durante todos os anos em que a última nação do mundo a acabar com a escravatura continuou na prática o que o tinha abolido no papel. Não se esperava que o preconceito acabasse com o decreto da abolição, mas mais de 100 anos deveriam ter sido mais do que suficientes para que a discriminação diminuísse. Não diminuiu.
Igualar racismo de negro com racismo de branco não resiste a um teste elementar. O negro pode dizer – distinguindo com nitidez preconceito de descriminação – “Não precisa me amar, só me dê meus direitos”. Qual a frase mais próxima disto que um branco poderia dizer, sem provocar risos? “Não precisa me amar, só tenha paciência”? “Me ame, apesar de tudo”?. Pouco convincente.
É uma questão que vai e vem, como as marés. A velha oposição, na seleção brasileira, do time do povo e o time do técnico. Quando as coisas vão bem (Brasil 4, Chile 0) não há discussão, quando as coisas vão mal (Brasil ali ali, Gana 0) volta a questão. O povo quer os melhores sempre no time. Isto se repete há anos. Mudam os técnicos, mudam os melhores, muda, em boa parte o povo, e a questão continua indo e vindo. Como as marés

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

UM DEDO DE PROSA

E QUANDO DEZEMBRO CHEGAR?

Essa é a época do ano que mais angústia me traz, pois o Natal e o Réveillon se aproximam e hoje não mais vejo motivos para tanta comemoração.
Costumam dizer que essa é a época de confraternizarmo-nos, mas a cada ano que se passa as pessoas estão perdendo esse espírito de confraternização e, consequentemente, o interesse por esse tipo de festa. Talvez pelo estresse acumulado ao longo do ano, ou até mesmo pelo fato de estarem “ocupados” demais para disponibilizarem um pouco do seu “precioso tempo” àqueles que sempre fizeram parte dos momentos mais importantes da sua vida, os familiares.
Também não mais vejo o Natal e o Réveillon como outrora, época em que as pessoas abriam seus corações e entregavam-se de corpo e alma às fartas festas. Egoisticamente, as pessoas (não todas, é claro!) estão pouco se importando quantas famílias desejam um simples prato com arroz e feijão na noite de Natal, ou quantas crianças frustram-se pelo fato de o Papel Noel nunca visitar as suas casas, levando-lhes nem que seja um carrinho de plástico, daqueles comprados nas lojas de R$ 1,99. Muitos são os que jogam fora as sobras da ceia, e muitos mais são aqueles que as catam no lixo para levarem aos seus filhos, que nada têm para comer.
É justamente esse o motivo da minha angústia e da minha falta de interesse em comemorar as festas de final de ano. É justamente por isso que há alguns anos sinto meu peito apertado sempre que se aproxima o mês de dezembro.
MEUS VERSOS LÍRICOS

OLHAR ESMERALDINO
(Joésio Menezes)

Aquele olhar esmeraldino
Penetrou o âmago do meu tino
E me deixou com insônia;
E eu jamais esquecerei
Aqueles olhos que flertei,
Olhos verdes de Rondônia.

Observador e idealista,
Apaixonei-me à primeira vista
Pelos olhos daquela menina
Que de muito longe veio
Para deixar-me maluco e meio
E com sua imagem na minha retina.

Ah, aquele olhar esmeraldino!...
Fez de mim um menino
Sem sono e de alma insana
Que sonha rever, algum dia,
Os encantos e a magia
Dos verdes olhos de Joana.


DESATINO
(Joésio Menezes)

Meus pensamentos foram em busca de ti...
Pela janela da vida saíram sem tino.
De carona no vento eu os segui
e juntos viajamos sem destino.
Ambos vagamos pelo orbe celeste,
E de Norte a Sul, de Leste a Oeste -
o que encontramos foi o desatino
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

ÁRIA AO VIOLÃO
(Alphonsus de Guimaraens Filho)

Que sonâmbula campânula
embala o íncola na insula
campanulando?

Cantagalo cantagálico
no áulico tez gaulesa
cantagalando.

Só, na sombra solitária
estrelinha latejante
é chama, é flor, e madruga
num rio que ri ou geme,
campanulando.

Sobre a memória madura
a cálida, a alva aurora
desce doce se incorpando,
campanulando.


EU
(Álvaro Viana)

Eu tenho amor pelo meu tipo feio,
Esguio e magro, muito magro e alto.
Às vezes fico embevecido e creio
Que o meu semblante é de terroso asfalto.

E noite adentro sonho um lago e em meio
Às águas calmas que em meu sonho exalto,
Vejo entre os astros, a mim próprio alheio,
O meu perfil tristonho de pernalto.

Entre os dois céus iguais em que me perco,
De um grande amor pelo meu Ser me cerco
Abrindo as asas deste Ideal que é meu.

E assim perdido na quimera, absorto,
Espera pela paz, depois de morto,
Quem nunca soube para quê nasceu.
CRÔNICA DA SEMANA

PAIXÃO
(Delasnieve Daspet)

Nunca consegui dimensionar o sofrimento do homem Jesus Cristo. Pessoas de minha geração leram e leem a bíblia. Muitos praticam os ensinamentos. Acho que me faltava a fé. A fé no imponderável. A fé no Onisciente. A fé que do amor faz bastar as dúvidas e tornar a paixão incomensurável. Como é que eu, pés de barro, poderia entender esse amor, essa entrega, esse sacrifício, essa doação...?
Num louco momento, ouso (todo poeta ousa sonhar e imaginar coisas impossíveis e vãs) comparar nossas vidas com a vida de Jesus. Ouso confrontar nossos sofrimentos com os Seus. A nossa morte diária com a Sua. Coloco-me frente a vida, olho-me no espelho de minha consciência, avalio minhas cicatrizes, as cicatrizes que a vida nos deixa...
Por que Ele morreu por mim? Eu seria capaz de morrer por alguém? Como entender esse amor? Como aceitar essa doação? Tantas coisas questionamos nas coisas que vemos no dia a dia...
Lá na rua jaz, em poças de sangue, uma criança de seus quinze anos... Seu corpo franzino, humilde, tatuado, encontra-se abandonado ao léu, carente de uma atenção que não lhe foi dada!
A violência está em todos os nossos momentos e atos, sintomático resultado da desagregação social, do desajuste familiar, da exclusão, pela falta de ocupação...
É Jesus que tem sua paixão diária em todos os lugares do mundo? É Jesus quem morre todo momento na situação endêmica em que vivemos? É Jesus quem morre com o fracasso do ser humano... Com o fracasso do amor?! Ou somos nós a morrermos na solidão do dia a dia e na falta da compaixão por nós? Ou nem sabemos amar?
Só pode entender o amor da Paixão quem saiba amar, quem olhar o semelhante como a si mesmo. Há tanto a aprender! Há tanto a perdoar! Há tanto a amar e a viver o sonho da vida!...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

UM DEDO DE PROSA

VIDA QUE SE SEGUE

Passados os turbilhões provocados pelas urnas, retomemos o leme das nossas vidas, pois o tempo não para e, felizmente, HÁ VIDA APÓS AS ELEIÇÕES!... Deixemos, pois, o destino do nosso país por conta daqueles que ajudamos a eleger.
Sigamos em frente na busca da harmonia entre o corpo, a mente e o espírito. Façamos por onde merecer os espetáculos que a Natureza nos oferece e aproveitemos isso para refletir um pouco mais sobre o nosso futuro, sobre o futuro do nosso Planeta cuja ignorância dos seus habitantes está levando-o ao caos.
Busquemos viver em paz com o meio em que vivemos e, principalmente, conosco mesmos. Deixemos de lado as diferenças, as desavenças e as más querenças que porventura nos façam infelizes e permitamos ao amor a chance de nos brindar com a sua presença.
Cuidemos melhor das nossas crianças. Eduquemo-las a fim de que tenhamos uma sociedade mais justa, uma população mais unida, um povo mais gentil, um mundo mais humano, um planeta menos violento...
Pensemos um pouco mais em Deus, mas não cruzemos os braços esperando que Ele faça tudo sozinho. Façamos, também, a nossa parte, que certamente seremos lembrados por Ele e ao Seu lado estaremos, se assim for a Sua vontade e se fizermos por merecer tão grandioso júbilo.
Enfim, deixemos a vida nos levar, ainda que por caminhos incertos, pois ao final da nossa jornada muito ainda teremos a receber do Criador.
MEUS VERSOS LÍRICOS

ASCENÇÃO E QUEDA DE UM CORONEL GOIANO
(Joésio Menezes)


Certa vez um coronel
Lá das terras de Goiás
Fez morada em Brasília
E não saiu nunca mais.
Ele era bem mais astuto
Que o próprio Satanás.


Aqui chegou de mansinho,
(Como quem nada queria!)
E logo lhe concederam
Liberdade em demasia.
Como se estivesse em casa
O coronel se sentia.

Foi aí que lhe surgiu
A ideia infernal
De política fazer
Na Capital Federal.
Desde então nossa Brasília
Vive num inferno astral.

Na política entrou
Para se aproveitar
Dos menos favorecidos
Que sonhavam encontrar
Alguém de “bom coração"
Capaz de lhes ajudar.

Os pobres só não sabiam
Que aquele coronel
Veio lá das “profundezas”,
Lá da “casa do chapéu”,
Para fazer de Brasília
A sede do seu cartel.

Prometendo vida fácil
Seu exército formou;
Com cargos de confiança
Autoridades comprou
E com o poder nas mãos,
A Justiça subornou.

Aos pobres ele doou
Lotes que não eram seus,
Com isso foi conquistando
O status de semideus.
Para eles era “um anjo”,
Um “enviado de Deus”.

Pai dos “desfavorecidos”
Por alguns era chamado,
Mas pelos esclarecidos
Sempre foi repudiado,
Pois o falso “semideus”
Era o cão disfarçado.

Foi co’a política que ele
Fez tudo o que sempre quis:
Aumentou seu patrimônio
Na Capital do país
E empesteou a cidade
Co’a dinastia RAPORIZ.

Nas falcatruas políticas
Ele manda e desmanda.
É ele o manda-chuva
Da quadrilha que comanda
Os atos de corrupção
Junto à justiça nefanda.

Mas sua grande ambição
De o mundo conquistar
Ele viu por água abaixo
Rapidamente escoar
Quando da bezerra d’ouro
Começaram a falar.

Temendo a cassação,
Renunciou ao mandato
De Senador da República
E sumiu, de imediato,
Antes que os jornalistas
Dessem destaque ao fato.

Afastou-se da política,
Mas, provisoriamente...
Tão logo deram início
Às inscrições referentes
Ao governo do DF,
Fez-se ele concorrente.

O coronel inscreveu-se,
Mas a sua candidatura
Foi levada a julgamento
Por causa da linha dura
Que impôs a Ficha Limpa,
Lei da probidade pura.

Porém, a astuta raposa
Renunciou novamente.
Não mais era candidato,
Mas disse ser inocente.
Inda disse confiar
No perdão da sua gente.

E como não se bastassem
Os atos horripilantes
Do tal coronel goiano,
Tem outro mais intrigante:
Ele expôs sua esposa
A um papel humilhante.

No seu lugar colocou-a
Confiando no seu nome,
Provando mais uma vez
Que tem ele grande fome
De estar sempre no poder
Cuja falta lhe consome.

E a pobre miserável
À “luta” foi enviada
Pra, em nome do amor,
Nas urnas ser humilhada.
Sem experiência alguma,
A mulher foi massacrada.

O coronel também viu
O Supremo Tribunal
Torná-lo inelegível
Por um período igual
A dois longos mandatos
Do Senado Federal.

E foi assim que se deu
A queda do infeliz
Que trouxe de Luziânia
A maldição Raporiz...
Brasília hoje respira
Sem medo de ser feliz.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

INEXPLICAVELMENTE
(José Décio Filho)

Eu não precisava de luares,
porque eles fazem sonhar perdidamente
e eu já tenho a cabeça pesada de sonhos.

Não precisava do teu indeciso amor,
porque o meu amor é imenso e vário,
transbordante e humilde.

Não precisava da ternura
que esperei dos teus lábios,
porque uma voz mais legítima,
voz que se perdeu nas distâncias,
já derramou nos meus ouvidos
rios de consolo e de afeto.

Alegrias, torturas, aflição,
mágoa violenta e crispante,
solidão, desdém, insultos,
noites e manhãs virginais,
caminhos de sombra e de luz,
esperanças, paisagens e ruídos,
esperanças que não mais se esgotarão.
De nada disso eu precisava,
pois tenho tudo dentro de mim
como dádiva do mundo
e herança de outras vidas.

Mesmo assim, porém,
tudo isso procuro ansioso
pra me afligir ainda mais,
para ver se transbordo de uma vez!


CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE
(Mário Quintana)

Tão bom viver dia a dia…
A vida assim, jamais cansa…
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu…
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência… esperança…
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas…
CRÔNICA DA SEMANA

AS VACAS DE OURO
(Taís Luso de Carvalho)

Acho que o nosso futuro já está traçado: não adianta esbravejar. O negócio é relaxar e gozar como mandou nossa ‘Ministra do Botox’. Até isso temos de ouvir.
Dias atrás, escutei uma amiga - esperançosa, a coitada! - perguntar se não daria pra termos uma visão menos pessimista, de ver revertido alguns valores da sociedade e ver mais seriedade por parte das instituições governamentais. Ai, que ingenuidade...
Não, querida, isto é u-to-pi-a; tira teu cavalinho da chuva. No Brasil, onde a miséria é crescente, onde a saúde, a segurança, a educação são menosprezadas, o que esperar para os próximos anos? O que esperar de um país cuja mentalidade dos nossos políticos é de se esbaldarem com o dinheiro público através dos carrões, das várias mansões, de aviões luxuosos, e do ‘resto’ da graninha nos paraísos fiscais? É muito; isso agride. Vejo uns ‘homenzinhos’, já caindo aos pedaços, roubando como loucos, como se tivessem uma vida inteira para torrarem o nosso dinheiro. Já não estão lá com toda essa ‘Brastemp’ de vigor...
O SUS? – ah, bobagem! O Presidente não disse que o tal SUS está perto da perfeição? A miséria não existe; é invenção nossa. E trabalhar pra pobre não dá resultado. É como fazer saneamento básico, não aparece. O negócio é encher a cidade de viadutos gigantes e pomposos! Nem que seja nos cafundó; e fazer rolar dinheiro para todos os cantos e pra todos os bolsos. Só espero que não queiram reproduzir, aqui, as pirâmides do Egito. Mas qualquer dia aparece um louco com uma idéia mirabolante pra faturar. Eles faturam e nós relaxamos.
Os pobres estão sendo empurrados para mais longe, subindo o morro, pra lá das moitas. Mas estão descendo com maior violência, igual a bumerangue.
Olha, gente: não adianta falar mais; esse nosso apelo nos ouvidos da ‘turma’ é música. ‘Música para Ouvir e Sonhar’, uma antiga coleção.
Precisamos de tudo, mas vivemos num país que não nos dá nada. Ficamos correndo dos marginais, colocando grades nas portas, evitando sair à noite e não dormimos enquanto nossos filhos não chegam. Estamos enfartando.
Concluindo: tudo é uma disparidade. Ninguém se candidata a fazer o povo brasileiro mais feliz; ninguém aparece para pôr ordem na casa.
E, contudo, ainda precisamos conviver com aquele 'Paraíso Anárquico', com aquela 'Praça da Alegria' que fica lá no centro do país, onde virou moda comprar e vender vacas por milhões. Logo vacas... São de ouro? Isso mata a gente de gargalhar.
E ainda temos de seguir o conselho: ‘relaxem!