domingo, 8 de março de 2020

UM DEDO DE PROSA


O BEIJO
(Joésio Menezes)

            Naquela manhã eu estava sorumbático, de mal com a vida, com o mundo e comigo mesmo. Sentia-me o pior dos seres, a mais desprezível das criaturas.
            Cabisbaixo eu caminhava pela calçada, quando de repente um rapaz segurou fortemente meus braços e beijou-me a face. Foi um beijo demorado, afetuoso, sincero, úmido... Enquanto ele beijava-me, eu permanecia inerte e à minha mente vinha o ósculo de Judas em Jesus.
            Desesperadamente uma moça, puxando-o pelo braço, ordenava-o que me deixasse em paz. Foi quando percebi que estava em frente a uma escola para Portadores de Necessidades Educacionais Especiais e que aquele amável beijoqueiro era um portador da Síndrome de Down. Disse, então, àquela moça que não se preocupasse, pois o que fazia o rapaz não me tiraria pedaço algum, tampouco me incomodava.
            Ao largar-me, presenteou-me com um sorriso desdentado, porém tão sincero quanto o beijo que acabara de dar-me, tão meigo quanto o seu olhar, tão puro quanto ele próprio.
            Novamente fiquei inerte e, à distância, observava aquele rapaz que, na companhia de outros jovens com a mesma síndrome, fazia sua caminhada matinal seguido por algumas monitoras. À medida que se distanciava, observei que o jovem alegremente cumprimentava todos que passavam por ele, no entanto, ninguém mais ele beijou. Senti-me, então, lisonjeado e aquele sentimento de desprezo para comigo mesmo começava a esvair-se de mim.
            Durante o restante do dia não pensava noutra coisa, senão naquele beijo. Não era um beijo qualquer, mas um beijo com a força de nos fazer superar os problemas que, às vezes, nós mesmos criamos; um beijo que mudaria (e para melhor) o meu dia, o meu estado de espírito, a maneira de tratar as pessoas à minha volta.
O gesto daquele jovem me fez parar para refletir e perceber o quanto um beijo pode nos fazer tão bem, mesmo que ele seja dado por um desconhecido, por uma pessoa do mesmo sexo.
            Aquele rapaz, que aparentemente tinha pouco a nos oferecer, carregava em seus ombros mais problemas que muitos de nós, ditos “normais”, devido à rejeição e ao preconceito impostos pela sociedade, mas mesmo assim mostrava-se feliz e capaz de doar a um estranho o que possuía de mais valioso: o amor ao próximo, o qual revelou-se por meio daquele beijo afetuoso, sincero, úmido...


MEUS VERSOS LÍRICOS


TODA MULHER É MARAVILHA
(Joésio Menezes)

Toda mulher tem poder
Tem querer,
Tem direito de sonhar...
Tem espírito de guerreira,
Encanto de feiticeira
E raio-X no olhar.

Toda mulher é sensitiva,
É instintiva,
É sinônimo de ousadia;
E, movida pela emoção,
Quando perde a razão,
É pura valentia.


Toda mulher é heroína
Com sonhos de menina
No auge da vaidade;
E se preciso for,
Abraça o despudor
Em prol da felicidade.

Toda mulher sente dores,
Sofre horrores,
Mas segue firme sua trilha...
Toda mulher é princesa,
É rainha, é alteza,
É Mulher Maravilha.


PALAVRAS ÀS MULHERES
(Joésio Menezes)

Se poeta eu fosse,
talharia alguns versos
exaltando as qualidades
e os fascínios da Mulher.
Depois os entregaria ao vento
para que ele os soltasse
pelos quatro cantos da Galáxia,
a fim de que a humanidade
tomasse conhecimento do valor
que só ela tem e da delicadeza
que só a ela pertence.

Caso fosse um cronista,
algumas poucas palavras
bem esculpidas eu dedicaria
ao cotidiano da Mulher
como homenagem
ao que ela representa
às nossas vidas
e à existência do Universo.

Se me fosse dado o dom de compor,
uma bela sinfonia eu comporia
aos encantos da Mulher e - tão logo
a composição estivesse pronta –
a entregaria ao grande Maestro
(criador da Natureza e do Universo)
para que Ele, juntamente
com um coral de afinados rouxinóis,
a executasse num dia
exclusivamente dedicado a ela.

E se porventura
eu tivesse habilidade para esculpir,
um grande monumento,
em forma de palavras.
eu esculpiria às Mulheres.
Nele, eu deixaria implícito
todo o meu sentimento,
toda a minha admiração
e todo o meu respeito e gratidão
por aquelas que bem representam
o sentimento AMOR
e melhor personificam a presença de Deus
na vida de quem muito delas depende:
o “bicho-homem”.


O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


MULHER
(Ivone Boechat)

Um aroma suave
exalou das mãos do Criador,
quando seus olhos contemplaram
a solidão do homem no Jardim!
Foi assim:
o Senhor desenhou
o ser gracioso, meigo e forte,
que Sua imaginação perfeita produziu.
Um novo milagre:
fez-se carne,
fez-se bela,
fez-se amor,
fez-se na verdade como Ele quer!
O homem colheu a flor,
beijou-a, com ternura,
chamando-a, simplesmente,
Mulher!


QUANDO CHEGAR
(Martha Medeiros)

Quando chegar aos 30
serei uma mulher de verdade
nem Amélia nem ninguém
um belo futuro pela frente
e um pouco mais de calma talvez

e quando chegar aos 50
serei livre, linda e forte
terei gente boa ao lado
saberei um pouco mais do amor
e da vida quem sabe

e quando chegar aos 90
já sem força, sem futuro, sem idade
vou fazer uma festa de prazer
convidar todos que amei
registrar tudo que sei
e morrer de saudade.


CRÔNICA DA SEMANA


O AMOR NÃO ACABA, NÓS É QUE MUDAMOS
(Martha Medeiros)


            Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba?
            O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são substituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades. O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos. O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos.
            Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda. Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito.
            O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.