quinta-feira, 29 de novembro de 2012

UM DEDO DE PROSA



COMENTÁRIOS SOBRE UM POETA

            Em nossas vidas, as pessoas vêm e vão. E nessas vindas e idas, algumas delas se perdem no esquecimento; outras se perpetuam em nossas mentes, agregam-se às nossas vidas, fazem morada em nossos corações...
            E quis o destino que uma dessas pessoas entrasse em minha vida e em meu peito se instalasse, deixando ali plantada a semente da eterna amizade cujos frutos colho-os diariamente e frequentemente: o prazer e a satisfação de se saber que, em algum lugar do mundo, um amigo nos espera para nos dar um abraço ou um simples bom-dia, seguido de um fraterno sorriso no rosto.
            Em 2002, esse amigo surgiu-me trazendo na sua bagagem a tristeza pela morte da sua grande amada - companheira de quase meio século de cumplicidade amorosa - e alguns versos entristecidos com a perda da musa que tanta felicidade proporcionara ao seu autor.
            Refiro-me ao autor dos versos diversos e encantadores que muito contagiam quem os lê com o coração aberto às emoções mais diversas e sublimes que possam se instalar no peito do homem. Refiro-me ao poeta cujos pensamentos esparsos não se diluem com o tempo nem se perdem no nada, pois que seus pensamentos são direcionados aos grandes amores que o senhor Destino lhe trouxe ao longo dos oitenta e tantos anos de vida, muitos dos quais dedicados à poesia e às mulheres, ou vice-versa.
            E foi justamente essa sua dedicação às mulheres e à poesia que o levou a ficar de coração fragmentado, de alma debilitada e, principalmente, de cabeça vulnerável às lembranças que o fizeram sofrer.
            Como eu bem disse anteriormente, “as pessoas vêm e vão”. E não poderia eu partir desse orbe sem deixar aqui registrada a passagem, pela minha vida, daquela pessoa que muito contribuiu para o meu crescimento pessoal e para o meu enriquecimento enquanto reles mortal: o poeta e amigo Vivaldo Bernardes de Almeida. E que Deus o mantenha entre nós ainda por muitos anos!...

          
MEUS VERSOS LÍRICOS



VENENO
(Joésio Menezes)

Em teu corpo moreno,
Um suave veneno
Instiga meu pudor,
Que, feito um vulcão,
Entra em erupção
E me leva ao furor.

Em teu corpo pequeno,
Esse doce veneno
Faz o que quer de mim:
Me leva ao desatino
E, qual um assassino,
Decreta o meu fim.

O teu jeito sereno
Camufla o veneno
Que tanto me faz bem.
E quando dele eu bebo,
Em meus lábios recebo
O teu pudor, também...


BENDITO SEJA...
(Joésio Menezes)

Por ocasião do 29º aniversário
do nosso matrimônio

Desde que o mais esperado SIM
Foi ouvido pelo meu coração,
A felicidade chegou-me, enfim,
E dela eu não penso abrir mão,

Pois sei que foi obra dum querubim
Destinado a ser meu guardião
Essa dádiva concedida a mim...
Bendita seja a nossa união!

E sempre que tu estás ao meu lado,
Sinto-me um homem abençoado
Pelo Deus-Pai, o nosso Criador;

Considero-me um cara de sorte
E, até que nos separe a morte,
Bendito seja o nosso Amor.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA



QUANDO TU CHORAS
(Casimiro de Abreu)

Quando tu choras, meu amor, teu rosto
Brilha formoso com mais doce encanto,
E as leves sombras de infantil desgosto
Tornam mais belo o cristalino pranto.

Oh! nessa idade da paixão lasciva
Como o prazer, é o chorar preciso:
Mas breve passa - qual a chuva estiva -
E quase ao pranto se mistura o riso.

É doce o pranto de gentil donzela,
É sempre belo quando a virgem chora:
- Semelha a rosa pudibunda e bela
Toda banhada do orvalhar da aurora.

Da noite o pranto, que tão pouco dura,
Brilha nas folhas como um rir celeste,
E a mesma gota transparente e pura
Treme na relva que a campina veste.

Depois o sol, como sultão brilhante,
De luz inunda o seu gentil serralho,
E às flores todas - tão feliz amante -
Cioso sorve o matutino orvalho.

Assim, se choras, inda és mais formosa,
Brilha teu rosto com mais doce encanto:
- Serei o sol e tu serás a rosa...
Chora, meu anjo, - beberei teu pranto!


SACRÁRIO 
(Cassiano Nunes)

Poesia:
aprendizado perene
ou perito artesanato?

Ofício
é o que é:
modesto,
proletário.

Parvos
os que se proclamam
ricos,
vencedores.

Não há vitória
nesta parda rotina,
não obstante
o invisível resplendor.

Conserva, pois, humilde
em eucarístico silêncio,
encerrado no peito,
o deus.
CRÔNICA DA SEMANA
 

POR TRÁS DA MÁSCARA
(Carlos Motta)

Tive um sonho esquisito.
Sonhei que fui a uma tal de Feira das Vaidades, um lugar imenso, cheio de estandes luminosos, coloridos, com garotas exuberantes que faziam a propaganda dos produtos exibidos.
Por curiosidade, entrei numa dessas tendas. Ao fundo, vi um velho de barba branca, sentado, que lia um livro com uma capa de vermelho berrante. Um sininho tocou assim que dei dois passos. O velhote largou o livro, olhou para mim, sorriu, se levantou, veio em minha direção, estendeu a mão como fosse me cumprimentar, e aí, sem mais nem menos, passou direto e deu um caloroso abraço num sujeito que estava atrás de mim e vestia um terno prateado, fosforescente.
Fechei os olhos e quando os abri estava novamente no meio da multidão.
Dessa vez, porém, notei algo estranho: parecia que as pessoas estavam usando máscaras, pois os rostos eram quase iguais, com um ou outro detalhe, um nariz mais torto, diferente.
Fui andando, levado pela massa e, de repente, a multidão virou uma fila longuíssima que ia em direção ao que parecia um palco, pairando acima das cabeças, com uma pessoa sentada numa espécie de trono.
Quem estava na fila subia no palco por uma escadinha, parava em frente ao sujeito no trono, fazia uma mesura e descia pelo outro lado, desaparecendo como por mágica.
Curioso, continuei na fila.
Não conseguia segurar a ansiedade para saber quem era o tal personagem a quem todos prestavam homenagem.
E, quando chegou a minha vez, surpreendentemente o indivíduo se levantou, caminhou até mim, e foi aí que vi que seu rosto era muito parecido com o de todos os outros da fila.
Ele deu mais uns passos, ficou bem perto de onde eu estava e, num gesto repentino, começou a puxar a pele da cara, apenas uma máscara de borracha ou algo parecido.
Debaixo dela vi dois olhos, uma boca e um nariz como se fossem um desenho feito por uma criança, traços imperfeitos e vacilantes.
Levei um susto, tropecei nos meus próprios pés e acordei.
Abri a janela e estava um dia cinzento, chuvoso, carrancudo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

UM DEDO DE PROSA



NEM CATEDRÁTICO NEM ANALFABETO POLÍTICO

Minha relação com a política não é das melhores e vai aos extremos: evito o máximo discuti-la, entanto, não sou ANALFABETO POLÍTICO, como bem descreve Bertolt Brecht.
Sei pouco sobre o tema, é verdade, mas o pouco que sei é o bastante para perceber que a política engana os mais humildes; ilude os metidos a espertos; alicia os ambiciosos; corrompe os honestos e aliena a população. Porém, a grande vilã da história não é a Política em si, mas sim quem a faz, quem a coloca em prática, quem nela se mete para levar vantagens em tudo, quem a usa em benefício próprio, quem a vê como meio de enriquecimento ilícito.
Para Aristóteles, o termo política categorizava “funções e divisão do Estado e as várias formas de Governo, com o significado mais comum de arte ou ciência do Governo”. Entretanto, a atual crise generalizada e sem precedentes na política brasileira sugere algumas reflexões sobre o problema da falta de ética no meio político. E é isso que a torna desprezível e repugnante aos que, assim como eu, têm aversão à política.