CRÔNICA DA SEMANA
(Carlos Motta)
Tive um sonho
esquisito.
Sonhei que fui a
uma tal de Feira das Vaidades, um lugar imenso, cheio de estandes luminosos,
coloridos, com garotas exuberantes que faziam a propaganda dos produtos
exibidos.
Por curiosidade,
entrei numa dessas tendas. Ao fundo, vi um velho de barba branca, sentado, que
lia um livro com uma capa de vermelho berrante. Um sininho tocou assim que dei
dois passos. O velhote largou o livro, olhou para mim, sorriu, se levantou,
veio em minha direção, estendeu a mão como fosse me cumprimentar, e aí, sem
mais nem menos, passou direto e deu um caloroso abraço num sujeito que estava
atrás de mim e vestia um terno prateado, fosforescente.
Fechei os olhos
e quando os abri estava novamente no meio da multidão.
Dessa vez,
porém, notei algo estranho: parecia que as pessoas estavam usando máscaras,
pois os rostos eram quase iguais, com um ou outro detalhe, um nariz mais torto,
diferente.
Fui andando,
levado pela massa e, de repente, a multidão virou uma fila longuíssima que ia
em direção ao que parecia um palco, pairando acima das cabeças, com uma pessoa
sentada numa espécie de trono.
Quem estava na
fila subia no palco por uma escadinha, parava em frente ao sujeito no trono,
fazia uma mesura e descia pelo outro lado, desaparecendo como por mágica.
Curioso, continuei na fila.
Não conseguia segurar
a ansiedade para saber quem era o tal personagem a quem todos prestavam
homenagem.
E, quando chegou
a minha vez, surpreendentemente o indivíduo se levantou, caminhou até mim, e
foi aí que vi que seu rosto era muito parecido com o de todos os outros da
fila.
Ele deu mais uns
passos, ficou bem perto de onde eu estava e, num gesto repentino, começou a
puxar a pele da cara, apenas uma máscara de borracha ou algo parecido.
Debaixo dela vi
dois olhos, uma boca e um nariz como se fossem um desenho feito por uma
criança, traços imperfeitos e vacilantes.
Levei um susto,
tropecei nos meus próprios pés e acordei.
Abri a janela e
estava um dia cinzento, chuvoso, carrancudo.
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