quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CRÔNICA DA SEMANA
 

POR TRÁS DA MÁSCARA
(Carlos Motta)

Tive um sonho esquisito.
Sonhei que fui a uma tal de Feira das Vaidades, um lugar imenso, cheio de estandes luminosos, coloridos, com garotas exuberantes que faziam a propaganda dos produtos exibidos.
Por curiosidade, entrei numa dessas tendas. Ao fundo, vi um velho de barba branca, sentado, que lia um livro com uma capa de vermelho berrante. Um sininho tocou assim que dei dois passos. O velhote largou o livro, olhou para mim, sorriu, se levantou, veio em minha direção, estendeu a mão como fosse me cumprimentar, e aí, sem mais nem menos, passou direto e deu um caloroso abraço num sujeito que estava atrás de mim e vestia um terno prateado, fosforescente.
Fechei os olhos e quando os abri estava novamente no meio da multidão.
Dessa vez, porém, notei algo estranho: parecia que as pessoas estavam usando máscaras, pois os rostos eram quase iguais, com um ou outro detalhe, um nariz mais torto, diferente.
Fui andando, levado pela massa e, de repente, a multidão virou uma fila longuíssima que ia em direção ao que parecia um palco, pairando acima das cabeças, com uma pessoa sentada numa espécie de trono.
Quem estava na fila subia no palco por uma escadinha, parava em frente ao sujeito no trono, fazia uma mesura e descia pelo outro lado, desaparecendo como por mágica.
Curioso, continuei na fila.
Não conseguia segurar a ansiedade para saber quem era o tal personagem a quem todos prestavam homenagem.
E, quando chegou a minha vez, surpreendentemente o indivíduo se levantou, caminhou até mim, e foi aí que vi que seu rosto era muito parecido com o de todos os outros da fila.
Ele deu mais uns passos, ficou bem perto de onde eu estava e, num gesto repentino, começou a puxar a pele da cara, apenas uma máscara de borracha ou algo parecido.
Debaixo dela vi dois olhos, uma boca e um nariz como se fossem um desenho feito por uma criança, traços imperfeitos e vacilantes.
Levei um susto, tropecei nos meus próprios pés e acordei.
Abri a janela e estava um dia cinzento, chuvoso, carrancudo.

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