quinta-feira, 23 de julho de 2015

UM DEDO DE PROSA

O DIA DA MINHA PARTIDA
(Joésio Menezes)
  

Se eu pudesse escolher o dia da minha partida, escolheria um dia da primavera em que as flores estivessem esbanjando vitalidade e beleza; em que os majestosos colibris, encantados e inebriados com o perfume que delas exalam, nos presenteassem com a leveza e a elegância do seu voo; em que as borboletas exibissem seu balé de asas coloridas ao som de um belíssimo coral formado por rouxinóis e bem-te-vis; em que os ventos espalhassem pelo ar o cheiro afrodisíaco da felicidade que as flores nos proporcionam.
Se eu pudesse escolher o dia da minha partida, e não me fosse permitido partir na primavera, eu escolheria um dia em que o homem estivesse em harmonia com a Natureza; em que o amor tivesse derrotado o ódio; em que a fome e a miséria fossem extintas do planeta Terra; em que os conflitos políticos, religiosos e raciais não mais existissem entre os homens.
Ah!... se eu pudesse escolher o dia da minha partida, escolheria o dia em que a inspiração do Criador superasse aquela do dia que Ele soprou as narinas da primeira mulher e a ela deu vida, pois certamente meus parentes e amigos não chorariam a minha morte, mas sim celebrariam o fim do ciclo de uma vida.
Enfim, seu eu pudesse escolher o dia da minha partida, e não me fosse possível escolher nenhum dos dias anteriores, eu escolheria o dia em que todos os povos estivessem festejando a PAZ mundial.


MEUS VERSOS LÍRICOS

VERSOS ALADOS
(Joésio Menezes)


Aos meus versos dou asas
para que, livremente, possam voar
em busca do encantamento
que provocam os olhos teus...

Aos meus poemas, a liberdade
de encontrar-se com o teu sorriso
que, livre de qualquer pudor,
revela em ti a pureza
de um anjo ilibado.

A mim, reservo tão somente o dever
de admirar-te constantemente
sem maiores pretensões –
mesmo contrariando meu coração –
e o direito de elevar-te
a deusa imaculada da beleza,
rainha suprema da perfeição,
musa eterna dos meus versos
que voam livremente
em busca do encantamento
que provocam os olhos teus...


MINHA LUCIDEZ
(Joésio Menezes)


Não sou único,
Nem mediúnico,
Nem médico.
Não sou mágico,
Nem trágico,
Nem enciclopédico.

Não sou clássico,
Nem jurássico,
Nem frenético.
Não sou prático,
Nem fanático,
Mas sou ético.

Sou onírico,
Sou lírico,
Sou lúdico.
Sou pávido,
Sou ávido
Sou lúcido...


O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

FLORES
(Marcos Alagoas)


Deixem-me em flor viver!...
Deixem minha cor aparecer,
Deixem-me em pétalas
A vida florescer...
Quero ver o amanhecer.
Levem-me somente em fotografias;
Admirem-me apenas
Com o seu sensível olhar.
Amem-me
Sem precisarem arrancar-me!
Deixem-me em flores
Vermelhas, azuis, brancas, amarelas...
Deixem-me nascer,
Deixem-me sentir esse prazer!
Sou a vida que acalma,
Sou cores que afloram a alma;
Sou flor do cerrado, dos jardins,
Dos bosques, dos campos,
Das várzeas, das mata ciliares...
Sou vida,
Sou flor,
Sou amor...


DEDICATÓRIA
(J.G. de Araújo Jorge)


Este meu livro é todo teu, repara
que ele traduz em sua humilde glória
verso por verso, a estranha trajetória
desta nossa afeição ciumenta e rara!

Beijos! Saudades! Sonhos! Nem notara
tanta cousa afinal na nossa história...
E este verso – é a feliz dedicatória...
onde a minha alma inteira se declara...

Abre este livro... E encontrarás então
teu coração, de amor, rindo e cantando,
cantando e rindo com o meu coração...

E se o leres mais alto, quando a sós,
é como se estivesses me escutando
falar de amor com a tua própria voz!



CRÔNICA DA SEMANA

UM CHICLETE PARA ENGANAR A FOME
(Carlos Delano Rebouças)


Em plena década de 80, por dificuldades imensas passava Carlinhos e seus quatro irmãos, mãe e pai, desempregados, sofridos, estes, sem condições para sequer alimentar a sua família. Coitados... Eram somente mais uma família brasileira dentre tantas outras daquele Brasil de meu Deus, que não conseguiam ver uma luz no fim do túnel, escuro, sob a penumbra de um militarismo dominante, que comandava a nação.
Um dia, Carlinhos se dirigiu a sua mãe e baixinho perguntou: “Tem alguma coisa para comer”?
Já passava do meio-dia e sequer tinha feito uma refeição no dia. Estava faminto aquele garoto de 12 anos, raquítico, magrelo, e pálido, que mais parecia um menino de 06 anos de idade.
Quando seu pai ouviu o clamor do filho pródigo, sem ter muito a oferecer, deu-lhe una goma que ganhara como parte do troco de um cigarro comprado, dizendo: “Mastigue, mas não engula. Depois tome um copo d´água e vá deitar-se, que a fome passa”.
Assim o pobre menino fez, obedecendo às ordens do pai e sem dizer nada aos irmãos, que se encontravam na mesma condição. A princípio, mostrou-se feliz por está mascando um chiclete por inteiro, quando no máximo, ganhava um minúsculo pedaço de seus amigos, de condições mais favoráveis. Aqueles filhos de pais mais abastados da vizinhança.
Eram os mesmos garotos que lhe cediam suas roupas perdidas, muitas vezes rasgadas, mas muito bem recebidas, como se fossem novas, saídas da loja.
Carlinhos não largou aquele chiclete. Mascava-o incessantemente, até que o mesmo já estava esbranquiçado, perdendo totalmente a sua cor e o doce originais, mas que nada impedia a volúpia daquele carente menino.
O sono chegou e seu maxilar já estava cansado de tanta mastigação. Seu estômago, também cansado, de esperar a queda de alguma coisa, de onde só vinha saliva e nada mais. Sua fome estava enganada temporariamente, e o menino, exaurido, caído na sua rede furada, num sono profundo, ainda teve tempo para sonhar com dias melhores, e neste sonho, tudo estava superado, sem fome a passar com sua família. Assim contou posteriormente a todos.
Pena que Carlinhos não demoraria a acordar e a realidade mostraria a sua face real e verdadeira. Pena, também, que seu pai não teve mais chicletes para oferecer aos outros irmãos, esposa e a si mesmo. Todos ficaram invejosos com o sono profundo de Carlinhos.