quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

UM DEDO DE PROSA

SOBRE A FORÇA DO AMOR

Há coisas que, por mais simples sejam, nos deixam em estado de êxtase: o nascer do Sol, o desabrochar de uma flor, o balé das borboletas, o voo do colibri, o riso de uma criança, o corpo de uma mulher sem a roupa que o veste...
Há coisas que, por mais insignificantes sejam, nos fazem refletir um pouco mais sobre a vida: uma folha que cai ao nascer o Sol, a família da flor que está por desabrochar, a função do casulo após o nascimento da borboleta, o tempo de voo do pequeno colibri, os dentes que o riso da criança nos mostra, a etiqueta da roupa que veste o corpo da mulher.
Também há coisas que, por mais inocentes sejam, nos conduzem aos mais diversos pensamentos e sentimentos: o por do Sol, a flor desabrochada, a inércia das borboletas, o pouso do colibri, a sisudez da criança, a roupa de uma mulher aos olhos que a despem.
E todas essas coisas que nos extasiam, que nos fazem refletir e que nos conduzem a pensamentos e sentimentos diversos, relacionam-se entre si por meio de um Amor inenarrável e inesgotável cuja força é capaz de unir todas as nações, de todas as raças, de todos os credos...
Refiro-me ao Amor de Deus, que nos permite desfrutar de toda essa maravilha: o nascer do Sol, o desabrochar de uma flor, o balé das borboletas, o voo do colibri, o riso de uma criança... e nos ensina a ver o corpo da mulher - despido da roupa que o veste - sem a maldade pervertida existente nos olhos e no coração do homem de mente já maculada.
MEUS VERSOS LÍRICOS

TRISTE FADO
(Joésio Menezes)

O menino desce a rua
Com seu estilingue na mão.
Nada leva na mente sua,
Também nada no coração...

Eis que surge à sua frente
Uma rolinha a voar,
No bico levando sementes
Pros filhotes alimentar.

O menino, então, prepara
A arma que traz na mão
Com uma pedra e dispara
Contra a pobre, que cai no chão.

A pontaria do menino
Na rolinha foi certeira:
A pobre teve seu destino
Abreviado na primeira

Tentativa do matador,
Que assistiu à inocente
Ser vítima do desamor
Que há no coração da gente.

Mas... enquanto, ali no chão,
A rolinha se debatia,
O menino viu seu coração
Se encher de agonia...

Quando já é quase lua,
Sem o estilingue na mão,
O menino sobe a rua
Com muita dor no coração,

Pois acabara com a vida
Daquele pobre passarinho
Que estava levando comida
Aos filhotes, lá no ninho...

Hoje, o menino cresceu,
Mas na lembrança inda traz
A rolinha que ele abateu
Alguns anos atrás

E essa triste história
Deixo registrada aqui
Na linguagem bem simplória
Destes versos que escrevi.


MATEMÁTICA
(Joésio Menezes)

Como dois e dois são quatro
E quatro e quatro são oito,
Então, cinco e cinco são dez;
Nove e nove, dezoito.

Se três vezes quatro são doze
E quatro menos três é um,
Assim, três mais quatro são sete;
Mas sete vezes três, vinte e um.

Gosto muito dos números,
Principalmente o Um e Seis,
Mas quem quiser minha amizade...
Nada de “regra de três”!
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

MINHA MUSA
(Machado de Assis)

A MUSA, que inspira meus tímidos cantos,
É doce e risonha, se amor lhe sorri;
É grave e saudosa, se brotam-lhe os prantos.
Saudades carpindo, que sinto por ti.

A Musa, que inspira-me os versos nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,
Sufoca-me os tristes e longos gemidos
Que as dores que oculto me fazem trair.

A Musa, que inspira-me os cantos de prece,
Que nascem-me d’alma, que envio ao Senhor.
Desperta-me a crença, que às vezes ‘dormece
Ao último arranco de esp’ranças de amor

A Musa, que o ramo das glórias enlaça,
Da terra gigante - meu berço infantil,
De afetos um nome na idéia me traça,
Que o eco no peito repete: - Brasil!

A Musa, que inspira meus cantos é livre,
Detesta os preceitos da vil opressão,
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,
Na lira engrandece, dizendo: - Catão!

O aroma de esp’rança, que n’alma recende,
É ela que aspira, no cálix da flor;
É ela que o estro na fronte me acende,
A Musa que inspira meus versos de amor!


ASSIM SERÁ...
(Rangel Alves da Costa_

Vasto e belo mundo
de vida bela e vasta felicidade
ainda que digam que não
sei que existirá sempre
um mundo e uma vida assim
aqui mesmo nessa fronteira
aqui mesmo dentro de nós

e me vem essa doce manhã
me vem esse canto de pássaros
me vem o som das folhagens
me vem o segredo dos bichos
me vem a natureza cantante
me vem as alegres miragens
me vem a estrada aberta
me vem o destino de hora incerta
para encontrar com a realidade
e construir o desígnio de Deus
alicerçar a paz e a felicidade

ainda que digam não
ninguém quer a escuridão
ao abrir a porta e a janela
mas o vasto e belo mundo
de vasta felicidade e vida bela.
CRÔNICA DA SEMANA

PNEU FURADO
(Luís Fernando Veríssimo)

O carro estava encostado no meio-fio, com um pneu furado. De pé ao lado do carro, olhando desconsoladamente para o pneu, uma moça muito bonitinha.
Tão bonitinha que atrás parou outro carro e dele desceu um homem dizendo
"Pode deixar". Ele trocaria o pneu.
- Você tem macaco? - perguntou o homem.
- Não - respondeu a moça.
- Tudo bem, eu tenho - disse o homem - Você tem estepe?
- Não - disse a moça.
- Vamos usar o meu - disse o homem.
E pôs-se a trabalhar, trocando o pneu, sob o olhar da moça.
Terminou no momento em que chegava o ônibus que a moça estava esperando. Ele ficou ali, suando, de boca aberta, vendo o ônibus se afastar.
Dali a pouco chegou o dono do carro.
- Puxa, você trocou o pneu pra mim. Muito obrigado.
- É. Eu... Eu não posso ver pneu furado. Tenho que trocar.
- Coisa estranha.
- É uma compulsão. Sei lá.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

UM DEDO DE PROSA

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Hoje, quarta-feira de cinzas, o dia amanheceu com ressaca...
Talvez para nos fazer lembrar que há vida após o carnaval e que nem tudo é festa; que nem todos são foliões; que enquanto alguns esnobavam fantasias luxuosas, outros fantasiavam o pão sem margarina acompanhado apenas de um ralo cafezinho preto (talvez a única refeição do dia) como sendo o seu banquete de carnaval.
Talvez para não nos deixar esquecer que enquanto muitos festejavam os quatro dias de folia, outros muitos sofriam com a perda do emprego, da dignidade ou até mesmo de um parente.
Talvez para nos fazer refletir sobre as máscaras da inveja, do rancor, da corrupção, da falsidade, da hipocrisia que os homens, ao invés de pô-las, deixam-nas cair durante as festas carnavalescas, máscaras estas usadas nos 361 dias que antecedem o carnaval.
Hoje, quarta-feira de cinzas, é, também, o início da quaresma, período voltado à reflexão, cujos cristãos se recolhem em oração e penitência a fim de preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa. Nesse período, a igreja propõe (e nos impõe) o jejum não somente como forma de sacrifício, mas também como uma maneira de nos educar, de irmos percebendo que o que o ser humano mais necessita é de Deus. Entretanto, muitos cristãos o fazem simplesmente por não terem o que comer.
Hoje, quarta feira de cinzas, sob o céu cinzento de uma manhã fria, agradeci a Deus por ter chegado ao final de mais um carnaval, com saúde, com meu emprego, com minha dignidade e, principalmente, com meus entes queridos saudáveis, motivos que me fazem festejar a vida que há antes, durante e depois do carnaval.
MEUS TEXTOS LÍRICOS

UM VAZIO
(Joésio Menezes)

- numa quarta-feira de cinzas -

Um vazio tomou conta de mim
Nesses quatro dias de carnaval...
Um vazio sem outro igual
Que me trouxe uma dor ruim.

Pensei ter chegado o meu fim
Nesses dias de angústia letal,
Pois esse vazio, cruel e infernal,
Acendeu do meu peito o estopim...

Prestes a explodir de ansiedade,
O meu peito, inflamado de saudade,
Chorava tua ausência noite e dia.

E tentando preencher esse vazio,
Uma saída meu peito descobriu:
Escrever para ti esta poesia.


FLOR DO NORDESTE
(Joésio Menezes)

- à Sylkya Lara, a flor piauiense -

Eu jamais poderia imaginar
Que em terras áridas e quentes
Uma flor pudesse brotar
E encantar o coração da gente.

Mas, eis que uma linda flor
Lá das bandas do Piauí
Surgiu esbanjando vigor
E simpatia como nunca vi.

Ela chegou sorrateiramente
E, de maneira bem envolvente,
Em nossos corações fez moradia.

E antes que pudéssemos notar,
A flor já estava a nos cativar
Com todo o seu vigor e simpatia.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

POEMA DE UMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
(Manuel Bandeira)

Entre a turba grosseira e fútil
Um pierrot doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
feita de sonho e de desgraça…

o seu delírio manso agrupa
atrás dele os maus e os basbaques.
Este o indigita, este outro apupa…
indiferente a tais ataques,

Nublava a vista em pranto inútil,
Dolorosamente ele passa.
veste-o uma túnica inconsútil,
Feita de sonho e de desgraça…


O DIA DO NOSSO BAILE
(Patrícia Ximenes)

Nosso baile será encantador
Eu de Colombina e você de Pierrot
Buscando um doce afeto
O amor de quem eu tanto quero.

Nossa dança será muito linda
Cheia de emoção e de magia
Os beijos serão infinitos
Será o encontro mais bonito.

Quando a orquestra finalizar
Não iremos nos separar
Caminharemos a um lugar
Onde lá poderemos nos amar.

Nosso amor será tanto!
Depois não haverá mais pranto
De você não irei largar
Para sempre um belo par.

As recordações permanecerão vivas
Até o fim de nossas vidas.
Pois o amor verdadeiro é ilustre
Lindo e infinito enquanto dure.

(Texto inspirado na música “ Baile de Máscaras”, de Guilherme Arantes.)
CRÔNICA DA SEMANA

UMA CRÔNICA SOBRE O CARNAVAL
(Renato Chimirri)

Fiquei pensando se os carnavais de ontem são iguais aos de hoje.
A conclusão? É claro que são. A festa nunca passa, não muda, tem sempre o mesmo significado,mas o que realmente muda são as pessoas, a maneira de brincar o carnaval, de se esbaldar na folia, de viver um tempo onde se pode tudo.
O carnaval deveria ser um período mágico de aproximação das pessoas, de vida em plenitude, onde todos se encontrariam em nome da alegria, do amor, do afeto, mais uma oportunidade da humanidade se congregar. Porém, o homem com a sua maldade- quase que natural- conseguiu perverter até a ilusão do carnaval. São as popozudas, as lacraias, as melancias, os bailes funk e outras invenções midiáticas que ganham as páginas dos jornais durante o reinado de Momo. O sexo, algo natural e bonito, foi elevado à categoria de perversão, de simples curtição, sem aquele significado especial.
A festa do carnaval, insisto, continua a mesma, porém em nome do politicamente correto mudaram até o gordinho do Rei Momo. Pode uma coisa dessas? O Rei Momo ser magrinho por causa da saúde?! Estamos vendo os valores sendo pervertidos, não que eu defenda a obesidade, mas onde está o lúdico de quem vive o carnaval?
Os próprios desfiles de escolas de samba são uma grande competição, as transmissões de TV que são profundamente chatas querem dar um caráter técnico que o carnaval não deveria ter. Despejaram o carnaval no meio do caracol da indústria cultural e o transformaram apenas em mais um período do ano com algumas festividades.
O verdadeiro carnaval está nas ruas. Os blocos é que deveriam desfilar por aí e fazer a alegria da galera. Em São Carlos nem carnaval de salão que era tão bacana se tem mais. O que aconteceu com a festa? Os clubes só querem dinheiro? Sou do tempo em que a banda Falso Brilhante começava a tocar na Abasc no famoso "Grito de Carnaval" e só parava na quarta-feira de madrugada. Era um tempo bom onde os bailes ainda faziam a alegria da moçada.
Confesso que não gosto muito de trio elétrico. Sempre achei um saco ficar observando o povo cantarolando essas músicas muitas vezes sem pé e nem cabeça dos axés da Bahia, mas tem gente que acha bacana. Seria tão bom se os blocos se espalhassem pelas cidades brasileiras com as marchinhas famosas, as fantasias tão legais. Numa analogia, o Halloween americano nada mais é que um período de carnaval na terra do Tio Sam onde as pessoas se fantasiam e soltam sua imaginação. Por isso gostaria neste carnaval de ser dono de uma máquina do tempo onde pudéssemos voltar para a época do "abre-alas" de Chiquinha Gonzaga para vivermos um sonho que nunca irá se apagar, falta romantismo. O carnaval é o período do sempre, onde a Terra do Nunca dá as mãos para a fantasia do agora. Saibamos viver isso com tranqüilidade.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

UM DEDO DE PROSA

O ÚLTIMO CARNAVAL DO MUNDO

Das 16 horas do sábado (dia 11/02) às duas da madrugada de domingo (dia 12), na Praça Cel. Salviano Monteiro Guimarães (Pracinha do Museu), em Planaltina-DF, aconteceu a 6ª edição do Festival Multimídia PalaColetiva, evento cultural organizado pelo Coletivo Palavra, que contou com o apoio do Portal Planaltina e do Intervalo Virtual.
Com o tema O ÚLTIMO CARNAVAL DO MUNDO (alusivo às “profecias” do fim do mundo em 2012), os organizadores promoveram um “senhor evento” na cidade, evento este em que o público interagiu com os artistas e, juntos, deram um espetáculo de alegria e entretenimento, como se realmente fosse aquele o último carnaval das suas vidas.
Nem mesmo a forte chuva que caiu no meio da tarde e invadiu a Praça do Museu impediu o espetáculo cênico do grupo teatral Farra da Comunidade, que deu o “pontapé” inicial às apresentações. Foram mais de três horas de espetáculo. Enquanto isso, no interior do Museu Histórico de Planaltina, a dupla Francinéia Ehlers e Vinícius Borba (da Poética Trupe) contava histórias infantis à meninada que se fez presente ao evento e que – encantada - não perdeu uma palavrinha sequer dos articuladores culturais.
E como o show não podia parar, no início da noite subiu ao Palco Caos (no centro da praça) a banda Os Malucos, que levantou o público presente com o seu dançante repertório de axé. Logo a seguir, foi a vez dos meninos da banda planaltinense The Nóis, que com o seu som pesado fez a “molecada” presente extravasar a adrenalina típica da sua juventude. Por fim, foi a vez dos jovens da banda Rádio Central (de Sobradinho) subir ao palco e levar o público ao delírio com o seu rock de excelente qualidade. Nos intervalos das apresentações musicais, os poetas Luiz Felipe Vitelli e Girlene Pascoal (ambos da Tribo das Artes) revezaram-se nas declamações de poesias.
Simultaneamente ao que acontecia no centro da praça, no Palco Aurora (no quintal do Museu), os apaixonados pela MPB puderam deleitar-se com belíssima performance dos cantores Michele Lara e seu grupo Corpo livre, Zeca Mendes e Eros Trovador, além do saxofonista Israel Colona. Lá também houve declamação de poesias, e os responsáveis pela apresentação foram a poetisa Geralda Vieira (presidente da APL) e os integrantes da Tribo das Artes, os poetas Dijair Diniz, Cumpade Anselmo e Ruiter Lima, que levaram o público às gargalhadas com a sua poesia matuta.
Atentos a tudo que acontecia nos dois palcos, as equipes do Portal Planaltina e do Intervalo Virtual – cuja sala de imprensa fora montada na biblioteca da Academia Planaltinense de Letras - transmitiram o evento, ao vivo, por meio da internet Wi-Fi.
Esperamos que as profecias estejam erradas e que não seja esse O ÚLTIMO CARNAVAL DO MUNDO, pois a população planaltinense anseia por outros eventos culturais como esse do último dia 11 de fevereiro.
MEUS VERSOS LÍRICOS

DOR DE POETA
(Joésio Menezes)

O que sente o poeta
não é uma dor doída
nem "a dor que deveras sente",
tampouco uma dor fingida,
mas uma dor quase discreta
presente no coração de quem sente
prazer em viver sua vida
meio abstrata, meio concreta
ou meio-vida, simplesmente...


ANTÍTESE SENTIMENTAL
(Joésio Menezes)

Entre o doce do mel e o amargo do fel
Prefiro o sabor dos teus beijos,
Pois nele sou capaz de distinguir
O doce e o amargo do desejo.

Entre os raios do Sol e o clarão da Lua
Prefiro o brilho dos teus olhos,
Pois através dele posso enxergar,
Com maior clareza, a verdade.

Entre o certo e o errado
Prefiro estar ao teu lado,
Pois certo é de ti estar perto...
Errado é negar-me esse prazer!...

Entre a fúria do vulcão e a inércia do iceberg
Prefiro a têmpera dos teus carinhos,
Pois somente o calor dos teus afagos
É capaz de derreter a geleira que há em mim.

Entre viver ou morrer
Prefiro estar contigo,
Pois somente em teus braços
Vivo e morro de amor...
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL

DESCENDO
(Rommel Werneck)

Pelos degraus vou seguindo escorregando...
Quem sabe eu me torne um grande pé de valsa...
Decadentemente, apenas deslizando
Por antigas águas duma vida falsa!

Os elevadores caem em tom brando
Descendo as fatais cascatas numa balsa
Estilosamente, apenas inclinando...
Eu já disse, sou recente pé de valsa!

A balsa prossegue pelas velhas águas...
E como não posso nunca com as mágoas
Continuo pelo mar do retrocesso

E por desejar talvez um bom progresso
Eu vou rastejando até sobreviver
Descendo até onde não dá pra descer!


QUANDO FAÇO ACONTECER
(Vitalves, www.vitalves.com)

Se me entendes é um gênio
Se me ouves é louco
Já sonhei um milênio
Só vivi um pouco
Sigo os traços de um laço
Rego as ondas do mar
Transfiro ondas no espaço
Faço um astro girar
Tenho um pouco de louco
Tenho passos de mago
Sigo em fé no sufoco
Sou o vilão num estrago
Amo ouvir o silêncio
Adoro fazer barulho
Faço lágrimas molharem um lenço
Sou uma serpente num embrulho
Sou a fúria do entendimento
De repleta ignorância
Vigor de conhecimento
E rigor de tolerância
Eu sou fonte de prazer
Quando faço acontecer.
CRÔNICA DA SEMANA

É CARNAVAL?
(Mário Prata)

Antigamente, quando o carnaval tinha lança-perfume da Rhodia (chamada Rodouro) e era vendida na porta do clube, a coisa era mais organizada. As pessoas esperavam pelo carnaval. Hoje tem carnaval todo dia. Naquele tempo, já dizia Jesus a seus discípulos-foliões, todo mundo trabalhava os outros 361 dias do ano. Ou estudava. Então, quando chegava o carnaval, o negócio era pra valer. Homem vestido de mulher era o mínimo que se permitia.
O evento – sim, era um evento – começava meses antes. Os compositores, os melhores compositores brasileiros, faziam as músicas “para o próximo carnaval”. Os cineastas brasileiros faziam os musicais da Atlântida para lançar as pérolas. Quando chegava fevereiro todo mundo já sabia “de cor e salteado” umas dez delas. Cidade Maravilhosa, Olha a Cabeleira do Zezé, Pierrô Apaixonado, Chiquita Gonzaga, lá da Martinica, Letra Ó, De Caniço e Samburá, Coração Corinthiano.
E, em função das músicas, se faziam os blocos para o clube. Famílias se reuniam, se organizavam, bolavam os figurinos, gastavam uma “nota preta”.
Nos dois sábados que antecediam as quatro noites, tínhamos o que era chamado de “pré”. Não, não tinha nada a ver com cheque-pré. O baile pré-carnavalesco já vinha embutido no preço das mesas para as quatro delirantes noites. Era o aquecimento, o treino, o bate-bola, o bate-coxa.
As pessoas cheiravam (lança) e caiam no meio do salão e aquilo era uma festa, não era uma droga. Outras bebiam e iam regorgitar (acabo de descobrir que esta palavra não tem nem no Aurélio, nem no Houaiss) lá na varanda. E depois, é claro, tinha uma bela duma sopa de cebola que ia até lá pelas oito da manhã. Sendo que no sábado e na terça tinham as matinês para a “gurizada”. E os jovens pais aproveitam para colocar os filhos nos ombros e cairem na gandaia naquele calor carnavalesco.
Namoros começavam naqueles dias. Outros, terminavam por causa de algum rapaz ou moça da capital que vinham cativar a caipirada. E quem “animava” os bailes eram grandes orquestras com mais de quarenta músicos. Orquestras que eram contratadas a preço de ouro um ano antes.
O carnaval era uma coisa séria, minha senhora. Hoje todo dia é dia de carnaval. Mas sem ter lança-perfume para jogar na bundinha das meninas, não tem a menor graça.
Agora quando chega o carnaval as pessoas procuram uma praia para descansar do carnaval que foi o ano todo. Onde já se viu?
E eu, como atualmente moro numa praia, estou pensando – seriamente – em cair na gandaia daqui a pouco. Vestir uma camisa listrada e sair por aí, “botando bezerro, botando pelo ladrão, deitando o verbo, destripando o mico, deitando carga ao mar, falando aos peixes”.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

UM DEDO DE PROSA

VIAGEM PELO BRASIL-CANÇÃO

Lançado em dezembro de 2011, o livro VIAGEM PELO BRASIL-CANÇÃO, do professor e escritor Joésio Menezes (da Academia Planaltinense de Letras) apresenta uma nova forma de se fazer poesia.
A fim de dar uma nova roupagem aos seus textos, Joésio Menezes garimpou o que de melhor a Música Brasileira vem nos oferecendo ao longo da sua história e escreveu VIAGEM PELO BRASIL-CANÇÃO, em que todos os versos contêm pelo menos um título de composições nacionais (assinalado com aspas). Ao todo, são mais de mil títulos dos mais variados ritmos e compositores. Porém, o autor não abriu mão da necessidade de se dar coerência e coesão aos novos textos escritos.
VIAGEM PELO BRASIL-CANÇÃO é uma singela homenagem aos maiores compositores brasileiros e um pequeno presente aos que apreciam a poesia e a música - não necessariamente nessa ordem -, presente este que pode ser adquirido na Papelaria MC (Qd. 03, Conj. B, Lote 21 – Vila Buriti, Planaltina-DF) ou com o próprio autor (pelo fone 84243347 ou pelo e-mail: joesiomenezes@gmail.com).
MEUS VERSOS LÍRICOS

PERFEITA HARMONIA
(Joésio Menezes)

-Ao grande amigo Vavado -

Teus dedos percorrem suavemente
As cordas do saudoso violão,
Relembrando o passado e o presente
Por meio de valsas, MPB ou baião.

Vão reacendendo-me, sutilmente,
As saudades que trago no coração,
E assim, sucessivamente,
Meus versos surgindo vão.

Tua arte inspira, também, a minha
E aos meus versos se alinha
A essência da tua sensibilidade...

Juntas, a música e a poesia,
Vão selando, em perfeita harmonia,
Para sempre a nossa amizade.


DO CÉU AO INFERNO
(Joésio Menezes)

Já vivi no céu,
Mas o amargo do fel
Na ponta da língua
Tirou-me a paz
E de forma voraz
Deixou-me à míngua.

Largou-me ao léu
Sem os lábios de mel
Daquele anjo-mau
De pele morena,
Boca pequena,
Olhar sensual...

Hoje sinto-me no inferno,
No castigo eterno
De não mais ter a alegria
De escrever para ela,
Minha doce Cinderela,
Uma simples poesia.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

LIRA AZULADA
(LuHess Strümpell, Recanto das Letras)

Toco as notas plangentes
Suaves da lira sorridente.
Navega em mim deliciosas
Sensações de paz e serenidade.

A lira de tons azulados
Vivifica a minha alma
Cansada de enlevos lânguidos!


Ah harpa de de tons aéreos,
O som vem a mim como
A subida para as montanhas!

Voa alado som para os
Hiperbóreos atravessa
As camadas finas do tempo.

Tinge-te de todos os
Tons de azul e seja alada
Nas notas saídas do éter!


NÃO SE MATE
(Carlos Drummond de Andrade)

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, pra quê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
CRÔNICA DA SEMANA

CONFISSÕES DE 28
(Patrícia Ximenes)

Chega um momento em nossa vida que a gente para e percebe que o tempo realmente passa. E rápido.
Então se chega aos 28. Feliz por ainda não ser 30 e triste por já está um pouco distante dos 20.
Apenas 28.
Se já realizou tudo o que desejas, ótimo! Se não, a cor marrom dos 28 apunhala o coração.
Então se percebe que a vida começa agora. Pois é nesse estágio que se nota o quanto ser tornar 'grande' é benéfico a alma.
E aos 28 a gente vê que os esforços poderiam ter sido maiores. Que a coragem esteve sempre alí do lado. Que o grande amor de nossa vida não chega em um cavalo branco. Que os verdadeiros amigos estarão sempre alí, mesmo que na maioria das vezes não tenhamos tempo de enxergá-los como merecem.
Ao 28 você se questiona mais, se desafia mais.
Você analisa seu emprego, seu talentos. Você escolhe ser feliz ou ser magérrima (sempre sonhei em escrever isso!) Você até pensa que já viveu tudo o que tinha pra viver...
Quanto engano! Puro 28.
Muitos seguem a emoção. Outros seguem a razão. Grande medo. Temem que não possa dar tempo para fazer tudo, ou que há tempo demais e pouco a se fazer. É pura contradição.
Para muitos, 28 é liberdade. Para outros, 28 é prisão. Falta de ousadia, talvez. Ou quem sabe, falta de oportunidade. Vai saber...
Temer os 28? Jamais.
Vivê-lo sim. Pois acredito que ninguém vai querer que sua vida acabe aos 27 do primeiro tempo...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

UM DEDO DE PROSA

A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE; OS POLÍTICOS, OS PRIMEIROS QUE SORRIEM...

Eu queria ter nas mãos o poder de mudar a linha do destino. E se isso me fosse permitido, eu tentaria mudar a mente dos políticos e dos governantes, que nada fazem em prol dos menos favorecidos, em especial daqueles que neles depositam - nas urnas - toda sua esperança de uma vida mais digna.
Alguns anos atrás, eu tinha esperanças de que, unidos, nós poderíamos mudar – se não o mundo – ao menos a mentalidade dos parlamentares e o ponto de vista dos eleitores acerca da compra e, principalmente, da venda de votos. Como eu bem disse, EU TINHA esperanças!... não tenho mais.
Não mais tenho esperanças de que um dia eles (os políticos) sejam gente de bem; sejam humanos confiáveis; sejam adversos à corrupção, à roubalheira, à falta de vergonha na cara, ao egocentrismo e ao mau-caratismo; enfim, esperanças de que algum dia eles possam ser homens honestos.
O fato de eu não mais ter esperanças de que essa “corja de bandidos” um dia seja dizimada não quer dizer que eu tenha desistido de tentar. E já que não tenho o poder de mudar a rota da grande nau brasileira chamada Corrupção, a cada nova eleição tento muda alguns dos seus timoneiros.
Quem sabe um dia os demais eleitores não fazem o mesmo?
MEUS VERSOS LÍRICOS

CORPOS NUS
(Joésio Menezes)

Despe-te do vestido furta-cor
E deixa teu corpo sentir o meu.
Prometo-te despir-me do pudor
E deleitar-me sob o fogo teu.

Permite-me conhecer o furor
Do teu cio, cujo cheiro acendeu
Em mim um fogaréu abrasador,
Capaz de levar-me ao apogeu.

Dá-me o prazer de contigo estar
E permite-me, também, desfrutar
Tudo que ao deleite nos conduz...

E bem no clímax da excitação,
Nossos gemidos se transformarão
Numa ode aos nossos corpos nus.


DELÍCIAS DO PECADO
(Joésio Menezes)

Eu quero me mostrar voraz
E – sem pudor- morder tua nuca.
Eu quero te deixar maluca
Dando-te o que te apraz.

Peço que te entregues a mim,
Que me permitas te beijar
E –por inteiro– te amar
Sem restrições, ou coisa assim.

Deixemos de lado, de vez,
Essa aparente timidez,
Esse recato disfarçado...

Esqueçamos nosso pudor
E entreguemo-nos ao amor,
Às delícias do tal pecado.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

MULHER
(Carlos Walter)

Quem és tú que trazes o cabelo solto?
Os olhos confiantes e sonhador?
O rosto em grande beleza envolto,
És a materialização do amor?

És alfa, és ômega, és o infinito?
És a alma, enfim és o próprio céu?
És a encarnação do amor um mito?

Quem és enfim com teus olhos de mel?
Sonho, realidade ou fantasia?
Com todos os sonhos de eternidade,
És enfim a própria felicidade?

És uma musa e deusa da poesia?
Não poeta, toques-me se puder,
E verás que sou sómente mulher.


SONETO PERPÉTUO
(Lourdes Neves Cúrcio)

Poetizar é dar mais cor e encanto à vida
É externar os sentimentos mais velados
Deixar o sonho em versos ser transformado
E a emoção em estrofes ser traduzida

A arte de expressar o amor é do poeta
Que das mãos divinas recebeu o dom
Da inspiração de versejar em suave tom
Que toca a alma, reconforta e aquieta...

Seja o poeta aquele que irá transmitir
O que o âmago em silêncio está dizendo
E o coração está deveras a sentir

E o ecoar dos versos vai ultrapassando
A tênue linha imaginária do horizonte
Para com o cosmos ir então se perpetuando...
CRÔNICA DA SEMANA

O MISTÉRIO DA POESIA
(Rubem Braga)

Não sei o nome desse poeta, acho que boliviano; apenas lhe conheço o poema, ensinado por um amigo. E só guardei os primeiros versos: Trabajar era Bueno em el Sur. Cortar los árboles hacer canoas de los troncos.
E tendo guardado esses dois versos tão simples, aqui me debruço ainda uma vez sobre o mistério da poesia.
O poema era grande, mas foram essas palavras que me emocionaram. Lembro-me delas às vezes, numa viagem, quando estou aborrecido, tenho notado que as murmurro para mim mesmo, de vez em quando, nesses momentos de tédio urbano. E elas produzem em mim uma espécie de consolo e de saudade não sei de que.
Lembrei-me agora mesmo, no instante em que abria máquina para trabalhar nessa coisa vã e cansativa que é fazer crônica.
De onde vem o efeito poético? É fácil dizer que vem do sentido dos versos; mas não apenas do sentido. Se ele dissesse: Era Bueno trabajar em el Sur , não creio que o poema pudesse me impressionar. Se no lugar de usar o infinitivo do verbo cortar e do verbo hacer usasse o passado, creio que isso enfraqueceria tudo. Penso no ritmo: ele sozinho não dá para explicar nada. Além disso, as palavras usadas são, rigorosamente, das mais banais da língua.
Reparem que tudo está dito com elementos mais simples: trabajar, era Bueno,Sur, cortar, árboles, hacer canoas, troncos.
Isso me lembra um dos maiores versos de Camões , todo ele também com as palavras mais corriqueira de nossa língua:
"A grande dor das coisas que passaram".
Talvez o que mais me impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia. Nesse poema sul-americano a idéia da canoa é também motivo de emoção.
Não há coisas mais simples e primitiva que uma canoa feita de tronco de árvore; e acontece que muitas vezes a canoa é de grande beleza plástica. E de repente me ocorre que talvez esses versos me emocionem particularmente por causa de uma infância de beira-rio e de beira-mar. Mas não pode ser: o principal sentido dos versos é o do trabalho; um trabalho que era bom não essa "necessidade aborrecida" de hoje. Desejo de fazer alguma coisa simples, honrada e bela, e imaginar que já se fez.
Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas que procurem esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem à muito equívoco e muita bobagem . Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem profundas...