terça-feira, 30 de dezembro de 2008

UM DEDO DE PROSA


ADEUS, ANO VELHO!...

A poucas horas da virada do ano, ainda não tracei minhas metas para o novo ano que se aproxima. Talvez seja isso um ponto favorável a mim, pois não correrei o risco de, ao final de 2009, ficar frustrado por não ter conseguido atingi-las; e talvez seja esse o motivo de eu sentir-me uma pessoa feliz, realizada... pois jamais tracei metas para os anos que se aproximam. Apenas acredito que posso concluir o que idealizo e começo a fazer.
Tenho certeza que não sou o único a agir dessa forma, a pensar desse jeito, a acreditar na realização de um ideal... Tenho certeza que agindo dessa forma, outras pessoas são, inclusive, bem mais felizes que eu, mas não as invejo, apenas as admiro.
E pensando assim, torço para que todos (familiares, "agregados", amigos e desconhecidos) sejam felizes e tenham um 2009 repleto de realizações, regado a muita SAÚDE, recheado de muita PAZ, surtido de muito AMOR e adornado com muita POESIA.
MEUS VERSOS LÍRICOS



SOB O CÉU ESTRELADO
(Joésio Menezes)


Sob o céu estrelado
Eu passo a noite te esperando,
E acordado fico sonhando
Com o cheiro do teu corpo suado.


Enquanto isso, o céu, angustiado
Por ver a noite terminando,
Lindas fábulas vai me contando
Para que eu permaneça acordado.

Ele fala-me da lua e das estrelas,
Do medo que tem de perdê-las,
E do Astro Sol, seu grande amigo.

E quando já está amanhecendo
E do céu as estrelas desaparecendo,
Adormeço e sonho contigo.


TU ÉS
(Joésio Menezes)

Tu és das flores a mais formosa,
Das estrelas, a mais incandescente,
Das pedras, a mais preciosa,
Dos desejos, o mais atraente...

Tu és das musas a mais grandiosa,
Das aventuras, a mais envolvente,
Das conquistas, a mais gloriosa,
Dos lamentos, o mais contundente...

Das deusas és a mais idolatrada,
Das mulheres, a mais invejada,
Dos sentimentos, o mais encantador...

Das dádivas és a mais querida,
Das ilusões, a mais cheia de vida,
Dos poemas, o mais cheio de amor.
O MELHOR DA POESIA BRSILEIRA E UNIVERSAL


TECENDO A MANHÃ
(João Cabral de Melo Neto)

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele deu
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


ESPERANÇA
(Vivaldo Bernardes de Almeida)

O que sinto no peito aqui guardado,
é o último trunfo com que conto
com carinho e amor mui bem velado,
na esperança de ver-te me apronto.

Dos tormentos de estar longe de ti,
só me resta agora a esperança
de te ver como um dia já te vi:
como eras e plena de pujança.

Só Deus sabe o tempo que inda nos resta,
pra de novo abraçar-nos como outrora,
esperando com ânsia a grande festa.

E enquanto esse dia não chegar,
não soar o relógio a justa hora,
só nos fica o infindo esperar.
CRÔNICA DA SEMANA


FELICIDADE REALISTA
(Mário Quintana)

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num Spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem possamos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário,queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente nos esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode (ou não) ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando... Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade...
"O tempo não pára!... Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”
RESENHA LITERÁRIA


MORTE E VIDA SEVERINA: A VIDA MORTA DO NORDESTE
(por Ana Cristina de Souza Vertelo)

O livro divide-se em quatro capítulos, constituindo uma espécie de tetralogia, que retrata o sofrimento da população pernambucana. É um poema dramático já definitivamente incorporado à sensibilidade nacional, o qual relata a história de um retirante nordestino, que sai de sua cidade natal, em busca do pão para sobrevivência.
No Nordeste, a paisagem encontra-se reduzida a pedra e pó. A vida é dura e a terra está curtida de tanta sede. Sendo assim, torna-se impossível fazer plantações, pois as mesmas não sobreviveriam a tanta seca.
O primeiro capítulo, “O Rio”, ganhador do prêmio de poesia do VI centenário da cidade de São Paulo, relata a situação drástica em que os rios encontram-se e os estragos que a falta da chuva provoca.
Em conseqüência disso geram a fome, a miséria e o êxodo rural, contribuindo para a formação de favelas nas grandes cidades.
Já no segundo capítulo, “Morte e Vida Severina”, o autor fala sobre a viagem do retirante a Recife, guiado pelo rio Capibaribe, sobre o desânimo que o rodeia e o faz pensar em interromper a viagem; mas a necessidade de chegar é mais forte e ele prossegue. Chegando a Recife, ele é bem acolhido e aceito como parte da sociedade local.
O terceiro capítulo, “Dois Parlamentos”, compõe-se de um par de discursos poéticos, em ritmo dual, sobre os temas do cemitério sertanejo e do trabalhador dos engenhos. Pelo fato de não chover, o Nordeste é visto como um cemitério, tudo está morto: os bichos, as plantas, o homem.
Já o quarto e último capítulo, “Auto do Frade”, compõe-se da transfiguração estética e geográfica da realidade pernambucana, a qual engloba o sofrimento visível que a sociedade vive. E aí o poeta atinge a dimensão da história.
Realizando a fusão de tons e ritmos da poesia popular, esses quatro poemas perfazem uma das grandes vertentes da obra de João Cabral de Melo Neto. São momentos altos da literatura brasileira moderna, que retratam a realidade da sociedade pernambucana.

(www.acad.unibh.br/letras)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


JOÃO CABRAL DE MELO NETO
(www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura)

Descendente de tradicionais famílias de Pernambuco e da Paraíba, João Cabral de Melo Neto foi o segundo dos seis filhos de Luiz Antonio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo. Nasceu no Recife, capital do Estado de Pernambuco, no dia 9 de janeiro de 1920, mas como seu pai era senhor de engenho, passou parte da infância e adolescência em engenhos de açúcar. Primeiro no Poço do Aleixo, em São Lourenço da Mata, e depois nos engenhos Pacoval e Dois Irmãos, no município de Moreno. A vida no campo marcou profundamente o poeta.
Apesar da vivência nos grandes centros, Cabral nunca se adaptou à cidade grande e à agitação do mundo urbano, sentindo-se para sempre um homem do interior. Na infância feliz, seu tempo era dividido entre as brincadeiras na casa grande com Virgínio, seu irmão mais velho a quem era muito unido, e os passeios a cavalo pelo canavial. João Cabral era uma criança sensível e, desde pequeno, demonstrava preocupação com o ser humano, numa atitude muito singular para sua pouca idade.
Por volta dos oito anos de idade, ele morava com a família em Recife e ía para o engenho no tempo das férias. Seu irmão Virgínio lembrou que, aos domingos, o administrador do engenho ia à feira fazer as compras de mantimentos para a casa. Nestas ocasiões João Cabral dava-lhe dinheiro e encomendava a compra de folhetos de cordel. À tarde ele ia para a moita do engenho e, com os empregados todos ao redor de si, lia três, quatro folhetins para o pessoal do engenho.
O contato com os trabalhadores da usina seria uma experiência fundamental para o poeta pois, mais tarde, na vida adulta, viajando pelo mundo como diplomata, Cabral teria o necessário distanciamento para ver melhor, com preocupação e pungência, a verdadeira realidade do nordeste e retratá-la em sua obra.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

UM DEDO DE PROSA


ENTÃO, É NATAL!...

Enfim, aos trancos e barrancos, chegamos a mais um Natal!...
No entanto, sem muito o que comemorarmos, pois a "crise" que assola meio mundo (ou seria mundo e meio?) não está permitindo que nossos irmãos ponham à mesa o "de comer" dos seus filhos; ao menos o básico, o que já seria suficiente para vermos um sorriso no rostinho triste das nossas crianças.
Mas não é de hoje que essa crise vem nos incomodando a todos!... Não é de agora que estamos vendo nossos fraternos irmãos passando por necessidades!... E nem tudo isso começou ontem!...
Porém, é agora que precisamos fazer algo!... É prá já!...
Que tal tirarmos dos armários aquela roupa que não usamos mais ou o brinquedo que os nossos filhos abandonaram e tentarmos fazer uma criança feliz?... Que tal, ainda, irmos à nossa despensa e retirarmos de lá um pouco dos nossos alimentos e doarmos a uma instituição de caridade (um asilo ou um orfanato, tanto faz!)?...
Tenho certeza que todos nos sentiremos um pouquinho mais felizes, pois estaremos fazendo outras pessoas também felizes... Não é muito, mas valerá a pena!...
E já que é Natal, que tal oferecermos uma poesia a quem amamos?

A TODOS, UM FELICÍSSIMO NATAL!...
MEUS VERSOS LÍRICOS


VIAGEM AO UNIVERSO DA POESIA
(Joésio Menezes)


Na companhia dos meus sonhos
Viajei pelo Universo da poesia,
E passando por lugares incertos
Vi Camões navegando sobre as águas
Dos “mares nunca dantes navegados”.


Em Pasárgada, encontrei Bandeira,
O amigo do rei,
Levando a mulher que ele sempre quis
Para a cama que escolheu.

Na Via-Láctea de Bilac,
Vi Cecília correndo
Entre os Canteiros da saudade
Em busca da felicidade,
Motivo pelo qual não é alegre nem triste,
É poeta...

Enquanto Augusto dos Anjos
Escarrava na boca que o beijara,
Vi Neruda escrever alguns Versos Tristes
E os oferecer a Marília de Dirceu
Em troca de um singelo favor:
Pedir a Drummond
Que tire a pedra do caminho de José,
Pois ele precisa chegar ao Navio Negreiro
Antes que Colombo feche as portas dos mares
Ao Fanatismo de Florbela.

Vi plantarem a Rosa de Hiroshima
Enquanto Mário Quintana
Entoava A Canção da Vida
Na tentativa de permitir
Que minha terra ainda tenha palmeiras
Onde possa cantar o sabiá.

E antes que minh’alma se tornasse pequena,
Fiz com que tudo valesse a pena:
Dancei A Valsa de Casimiro
Ao som da Harpa da Cruz e Sousa
E me pus, sorridente, a versejar.


MADALENA BARRANCO
(ao arcanjo do “Flor de Morango”)

Meus versos, espalho-os ao léu
A fim de alcançar o cristalino
Dos olhos do arcanjo fiel,
Amigo dos poetas genuínos,
Levando-lhe a essência do cordel,
Especialidade do povo nordestino
Nascida como se fosse a Babel
Armíssona do trovador latino...

Bancando um autêntico menestrel
Assumo meu grande desatino:
Roubei as estrelas lá do céu,
Riscando-as de vez do meu destino;
Amontoei-as no fundo do meu fardel,
Não lhes permitindo sequer ouvir o hino
Cantado por meus versos no papel
Ou pelas rimas do poeta sem tino.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL



PÁSSARO
(Cecília Meireles)


Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.


Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.


NO ALTO
(Machado de Assis)

O poeta chegara ao alto da montanha,
E quando ia a descer a vertente do oeste,
Viu uma cousa estranha,
Uma figura má.

Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,
Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e agreste
Pergunta o que será.

Como se perde no ar um som festivo e doce,
Ou bem como se fosse
Um pensamento vão,

Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.
Para descer a encosta
O outro lhe deu a mão.
CRÔNICA DA SEMANA


A JUVENTUDE E A ANTIGÜIDADE
(Por Cairbar Garcia Rodrigues)

Sou antigo, sabem? Notem que eu disse antigo, não antiquado. E também não estou afirmando que sou velho, pois não sou. O fato é que penso e ajo de uma maneira um pouco diversa de outras pessoas da mesma idade. E é por aqui que começa minha Antigüidade, muito paradoxal, por sinal. Gosto das coisas de algumas décadas passadas que vão lá longe, no tempo, quando comecei a compreender-me como gente. Mas, por outro lado, estou sempre ancorado, na juventude, nos adolescentes e até mesmo nas crianças. Eles me ensinam um modo de vida que eu sei que levam, mas que na cabeça deles é um pouco diferente do que realmente é. E eles sempre me surpreendem. Quando arranho no meu violão algumas velhas músicas do passado ou alguma música caipira de raiz que canto um bocado mal, não nego, ficam ouvindo atentamente, pensativos, como se entrassem num “admirável mundo novo”, que é, na verdade, um admirável mundo velho. Quando lhes falos dos cinemas de duas mil e quinhentas poltronas de couro, amplas, onde cabiam até duas pessoas magras. que havia na minha e em outras cidades, eles ficam atônitos. Mas isso tanto é verdade que um desses cinemas de Rio Preto, quando perdeu de vez a guerra para os bares e a TV foi tombado e logo transformado num grande shopping, bem no miolo central da cidade. Sua fachada, em estilo art déco, foi mantida e ainda construída uma outra idêntica, na rua dos fundos, onde era o fundo do grande cinema, numa extensão exata de cem metros, atravessando o quarteirão por inteiro. Se lhes digo que a cidade era toda de paralelepípedos (alguns nem conhecem tal “palavrão”), percebo que a imaginação deles voa para um tempo que jamais viverão. Falo-lhes, também, dos circos mambembes, com teatro e bons palhaços, dos pequenos parques de diversões, onde os jovens faziam footing e ofereciam músicas a determinadas pessoas que queriam conquistar, através de um precário serviço de alto-falantes. Geralmente o agraciado com a oferenda era descrito pelas roupas, pela estatura, cor dos cabelos, etc. Digo-lhes como eram as escolas públicas no meu tempo de criança, infinitamente superiores em qualidade. Escolas particulares somente as de padres ou de freiras, que tinham que ser complementadas com aulas particulares, embora fossem caras, muito caras. Comento sobre os velhos jornais impressos em branco e preto, uma impressão quase artesanal, exceto as pesadas e barulhentas rotativas, que necessitavam de manutenção quase diária, muitas delas quebrando várias vezes o papel jornal de má qualidade das grossas e pesadas bobinas. Por fim termino, entre tantas outras coisas, falando do leite vendido sem pasteurização, em gordinhas garrafas de vidro de gargalo largo, com muito duvidosas condições de higiene. E ninguém morria por isso. Ou morria? Eu não sei. Era ainda muito menino. E naquele tempo se morria por qualquer coisa. Menos por obesidade, diabetes e outras coisas referentes à alimentação farta e rica em carboidratos e gorduras. Os fast food… o que seria isso?
Mas, para encerrar, de uma coisa estou certo: mesmo vivendo menos, trabalhando mais e sem os confortos da modernidade, as pessoas eram muito mais felizes. E quanto aos jovens e adolescentes com os quais converso, falam muito pouco. Eles não têm histórias próprias de vida, pois não têm vida própria. Vivem somente do massacre dos Harry Potter, dos games da informática, do álcool precoce e, quase sempre, das drogas. Um pena! Jovens doces e dóceis, fáceis de lidar e de conviver, estragados pela globalização capitalista ocidental, que os tornou semi-andróides.
RESENHA LITERÁRIA


O PRIMO BASÍLIO - LER O FILME OU VER O LIVRO?
(Por Helder Bentes)

Minha intenção é escrever sobre O Primo Basílio – romance do século XIX, de Eça de Queirós. Mas dei uma pesquisada e vi que na internet o que não falta é coisa sobre este bendito primo, principalmente depois que Marisa Monte usou um trecho do romance para ilustrar uma de suas canções.
Decidi, então, escrever um pouco sobre a transposição da linguagem literária para a linguagem imagética, haja vista não ser o filme a primeira vez em que "O Primo Basílio" passa por essa adaptação, pois já houve uma minissérie da TV Globo, também baseada no famoso romance queirosiano, em 1988. Aliás, esta minissérie completa 19 anos (9 de agosto de 2007).
Luísa e Jorge têm três anos de casados e moram em Lisboa. Ele é engenheiro e trabalha num ministério. Ela adora ler romances, o que a influencia a ser sonhadora. O casal acredita na felicidade tal qual fora pintada pelos poetas românticos: um amor, um lar, uma família! E planejam ter um filho, mas Jorge viaja a trabalho para o Alentejo, a 130 km de Lisboa.
Enquanto Jorge está fora, Luísa reencontra Basílio, um primo que havia sido seu primeiro amor e que a abandonara há muito tempo. Ao rever a prima, Basílio pretende usá-la para passar o tempo enquanto fica na cidade até cumprir suas obrigações de trabalho. Luísa cede aos impulsos de Basílio, que a seduz tornando-se uma espécie de narrador-personagem de aventuras amorosas e, de certa maneira, fazendo-a sentir-se como uma personagem de romances. Começa assim uma história tensa, de mexericos e chantagens que giram em torno deste adultério.
Juliana, a criada de Luísa, representa uma categoria social desprestigiada e tem, nas cartas trocadas entre Basílio e Luísa, o instrumento de que necessita para executar sua vingança contra todas as patroas. Lançando mão da chantagem, Juliana obriga Luísa a servir de empregada em seu lugar.
Basílio abandona Luísa depois de haver lhe prometido levá-la para Paris. Jorge chega e descobre que Luísa é quem está fazendo todo o serviço de Juliana e demite a criada. Mas a chantagem continua. Juliana quer extorquir dinheiro de Luísa. Ela reza, joga na loteria e tenta prostituir-se para um banqueiro a fim de conseguir o dinheiro da chantagem, mas acaba desabafando com Sebastião (amigo de seu marido). É ele quem consegue recuperar as cartas que Juliana usa para chantagear Luísa. Juliana morre de colapso.
Basílio escreve a Luísa, mas a carta vai parar nas mãos de Jorge, que lê tudo e fica dividido entre matar ou perdoar a esposa, mas esta adoece, ao saber que Jorge descobriu tudo, e acaba morrendo.
Os romances realistas de Eça de Queirós sempre desbancam o romantismo, induzindo o leitor a perder a fé no amor romântico. Ele sempre ridiculariza aquilo que fazemos motivados por este tipo de amor. Em "O Primo Basílio", esta ridicularização aparece através da ironia que perpassa o necrológio sobre as virtudes de Luísa, feito pelo Conselheiro Acácio, representando o convencionalismo da sociedade.
A volta de Basílio – que, ao tomar conhecimento da morte da prima, lamenta-se com um amigo por não ter trazido Alphonsine, sua amante francesa – é outro exemplo dessa ridicularização.
Há quem prefira assistir ao filme porque a linguagem imagética é bem mais fácil de ser apreendida. No entanto, uma adaptação de obra literária cuja origem é a linguagem verbal escrita sempre implica uma perda da literariedade. Sem falar que uma adaptação inclui mudanças estruturais nos componentes da narrativa.
Por exemplo, se o romance de Eça ambienta-se em Lisboa do século XIX, o filme de Daniel Filho desenvolve-se em São Paulo, nos anos 50. Isto provoca uma mudança nas falas das personagens, na descrição de cenários e figurinos – e a obra de Eça é muito detalhista quanto a isto – e estas mudanças acabam afetando o enredo da obra.
O que se pode depreender, porém, permanece. O romantismo de Luísa continua sendo combatido, mas o espectador que não leu a obra talvez consiga inferir apenas o mau caratismo de Basílio, ou nem isto...

(Fonte: www.resenhando.com)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


EÇA DE QUEIRÓS
(www.nossosaopaulo.com.br)

Diplomata e escritor muito apreciado em todo o mundo e considerado um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, Eça de Queirós nasceu José Maria Eça de Queirós, em Póvoa de Varzim-Portugal, no dia 25 de Novembro de 1845. Era filho do Dr. José Maria Teixeira de Queirós, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e de sua mulher, D. Carolina de Eça. Depois de ter estudado nalguns colégios do Porto matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, completando a sua formatura em 1866. Foi depois para Leiria redigir um jornal político, mas não tardou que viesse para Lisboa, onde residia seu pai, e em 1867 estabeleceu-se como advogado, profissão que exerceu algum tempo, mas que abandonou pouco depois, por não lhe parecer que pudesse alcançar um futuro lisonjeiro. Era amigo íntimo de Antero de Quental, com quem viveu fraternalmente, e com ele e outros formou uma ligação seleta e verdadeira agremiação literária para controvérsias humorísticas e instrutivas. Nessas assembléias entraram Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Salomão Saraga e Lobo de Moura.
Estabeleceram-se então, em 1871, as notáveis Conferências Democráticas no Casino Lisbonense (V. Conferência), e Eça de Queirós, na que lhe competiu, discursou acerca do "O Realismo como nova Expressão de Arte", em que obteve ruidoso triunfo. Decidindo-se a seguir a carreira diplomática, foi a um concurso em 21 de Julho de 1870, sagrando-se o primeiro colocado e, em 1872, obteve a nomeação de cônsul geral de Havana, para onde partiu. Permaneceu poucos anos em Cuba, no meio das terríveis repressões do governo espanhol.
Em 1874 foi transferido para Newcastle; em 1876 para Bristol e, finalmente em 1888, para Paris, onde veio a falecer. Eça de Queirós era casado com a Sr.ª D. Emília de Castro Pamplona, irmã do conde de Resende. Colaborou na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro, Renascença, Diário Ilustrado, Diário de Notícias, Ocidente, Correspondência de Portugal, e em outras publicações.
Para o Diário de Notícias escreveu especialmente o conto 'Singularidades duma Rapariga Loura' (1873), publicada como 'livre brinde' aos assinantes do jornal, em 1874, e a descrição das festas da abertura do canal do Suez, a que ele assistiu em 1870, publicada com o título 'De Port Said a Suez', no referido jornal, folhetim de 18 a 21 de Janeiro do mesmo ano de 1870. Na Gazeta de Portugal, de 13 de Outubro de 1867, publicou um folhetim com o título 'Lisboa', seguindo-se as 'Memórias de uma Freira' e 'O Milhafre'; em 29 de Agosto de 1869, o soneto 'Serenata de Satã às Estrellas'.
Fundou a Revista Portugal com a colaboração dos principais e mais célebres homens de letras do seu tempo. Saíram desta revista 24 números, que formam 4 tomos de 6 números cada um. Para este jornal é que escreveu as 'Cartas de Fradique Mendes'. Na Revista Moderna publicou o romance 'A Ilustre Casa de Ramires'.
Eça de Queirós morreu em Paris-França, no dia 16 de Agosto de 1900.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

UM DEDO DE PROSA


ONDE ESTÁ O ESPÍRITO DE SOLIDARIEDADE, MEU DEUS?

Hoje, bem que eu poderia escrever alguma coisa sobre o Natal que se aproxima, mas não me sinto à vontade para isso. Motivo?... Tenho-os de sobra.... Basta olharmos à nossa frente para vermos que não há "clima" para se falar ou festejar o Natal: violência urbana, castástrofes naturais, corrupção (não sei porque ainda me espanto!), miséria, dentre outros fatores que nos entristecem.
Como se não bastasse tudo isso que mencionei, ainda somos obrigados a engolir o maucaratismo de alguns "voluntários" inescrupulosos que, em vez de ajudar, roubam os flagelados de Santa Catarina e ainda fazem sarcasmo diante das câmeras de TV. Uma imagem deprimente e que deixa indignados todos aqueles que solidarizaram-se com os irmãos do Sul, vítimas da fúria da natureza.
Espero que o Natal sirva para levar a essas pessoas (os falsos voluntários) um pouco de consciência (se é que eles sabem o que isso significa!), que os faça pensar na hipótese de um dia serem eles os vitimados pelas chuvas de verão e pelos desmoronamentos....
Espero que eles reflitam um pouco sobre o que fizeram!

"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto
".
(Rui Barbosa)
MEUS VERSOS LÍRICOS



FANTASMAS
(Joésio Menezes)

Sob a sombra maculada de mim mesmo
Tropeço nos fantasmas do meu ser.
Eles passeiam, no meu íntimo, a esmo
Buscando impedir-me de crescer.



Mas sou persistente e não me entregarei
Aos desmandos desses espectros vis.
Contra eles com agudeza lutarei
E vencendo-os serei mais feliz,

Pois de mim as máculas sairão
Trazendo ao meu ser maturação
E à minh’alma eterna transparência.

E minha sombra, agora imaculada,
Tornará minha vida mais preparada
Expulsando-os da minha existência.


SEXTA-FEIRA 13
(Joésio Menezes)

Hoje é dia treze, sexta-feira...
Quisera encontrar no meu caminho
Uma “gata” que me leve ao seu ninho
E com ternura me ame a noite inteira.

E se eu morresse de amor nesse dia
Não me consideraria um azarado,
E sim um poeta bem-amado
Que fizera desse momento poesia...

Depois, nas asas de um passarinho,
Minha alma levaria aquele ninho
Para um lugar seguro e abençoado.

E nesse dia treze, que alegria,
Seria comemorando, sem heresia,
O “Dia do Poeta Apaixonado”.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


VIAGENS ÀS FRONTEIRAS DO UNIVERSO
(Xiko Mendes)

Se algum dia sonhei com
O impossível, acreditem,
Foi porque quis
Beijar as estrelas,
Seduzir as flores,
Assustar o vento,
Passar as mãos
Na superfície dos céus...
E ainda não desisti,
Porque tenho apenas um sonho:
O de abraçar o Infinito!!!

Antes que tudo nos pareça
Se aproximar do fim;
Que as estrelas sejam sugadas
Por buracos negros;
Que as flores murchem...
Antes que Acabe a primavera,
Que o vento leve
O último desejo de mim,
Que os céus desabem
Sobre o teto da minha existência,
Meu percurso em torno do Infinito
Ainda será menor que a distância
Entre as reações de um pessimista
E a Minha Esperança!!!


SINTO VERGONHA DE MIM
(Rui Barbosa)

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o “eu feliz a qualquer custo”,
buscando a tal “felicidade”
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos “floreios”
para justificar atos criminosos,
a tanta relutância em esquecer
a antiga posição de sempre “contestar”,
voltar atrás e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim,
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer…

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir,
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na pecaminosa
manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
CRÔNICA DA SEMANA


REUNIÃO LITERÁRIA
(Viegas Fernandes da Costa)

O poeta chileno Pablo Neruda, em seu livro de memórias "Confesso que Vivi", escreveu: "a publicação de poeta para poeta não me tenta, não me provoca, não me incita senão a me emboscar na natureza diante de um rochedo ou de uma onda, longe dos editoriais, do papel impresso... A poesia perdeu seu vínculo com o distante leitor... É preciso recobrá-lo..." Quem me chamou a atenção para o trecho em questão foi o Ernesto, este sim metido nestas questões de literatura. E isso porque recém retornara de uma telúria, onde travara impressões com a nata dos literatos da sua cidade.
Sentados no bar, a mesa tosca e suja de catchup entre nós, perguntei-lhe das razões para tamanha melancolia, pois além de citar Neruda, metera-se também a cantar "Nos Bailes da Vida" de Milton Nascimento. A resposta veio lacônica: "decepção...". É... Mas antes de detalharmos as razões para mais uma das tantas decepções ernestianas, devemos explicar que se existe um verdadeiro poeta em nossa cidade, este é o Ernesto, apesar de nunca ter publicado nada em sua vida.
O fato é que fora convidado para participar de uma "reunião literária" sob o gélido céu noturno de inverno, à luz de uma fogueira incrustada em solo urbano. Aceitara a contragosto, desconfiava que um cálice de vinho tinto bebido em companhia de um bom livro seria programa mais interessante, mas resolveu aceitar para que não se fossilizasse sua fama de anti-social. Chegou em companhia de uma amiga, e quase teve tempo de se arrepender dos preconceitos que alimentara em relação àquele tipo de encontro. Cumprimentado por pessoas agradáveis, solícitas, foi logo colocado à vontade. Tudo pareceu-lhe muito bem, mas logo chegaram os "grandes poetas", aqueles que publicaram livros e venceram concursos. Chegaram provocando grande sensação entre as pretensas poetisas presentes, e certamente não foram seus versos que provocaram toda aquela excitação. Fingiam eles dor, não a dor de um Fernando Pessoa, mas a dor própria dos hipócritas, dos canastrões; declamavam o amor, um amor verborréico que diziam "Shakespeareano" mas que soava a Nelson Rodrigues. Olhavam aristocraticamente, falavam como que se sofressem de flatulência, e um, inclusive, recorreu a sua ignorância científica para afirmar que seu "dom", que insistia chamar de poesia, era hereditário. Foi este último que mais aziumou o nosso amigo, que tão bem estava ao crepitar da fogueira, esta, diga-se, talvez a única a bradar poemas naquela noite.
O pretenso poeta em questão era um sujeito muito bem apessoado, moreno, jovem, alto e vestia um vistoso sobretudo negro. Tinha uma voz respeitável e manejava a ironia com tal maestria, que os ironizados agradeciam aquilo que lhes soava como elogio. Filho de uma famosa colunista social da sua cidade, regurgitava sua genealogia a quem estivesse disposto a ouvi-la... e muitos estavam! Enfim, não fosse noite, seria ele o próprio Sol, um Sol frio, mas um Sol.
Lá pelas tantas, os descendentes de Homero, já relativamente embriagados por Dionísio, puseram-se à pantomima. Embusteiros da palavra, não todos, é verdade, mas a grande maioria, jactavam-se proferindo sonoras rimas estéreis ou plagiando versos de autores consagrados. Alguns até soavam sinceros, mas estes eram ignorados pela audiência dos néscios iluminados que achavam-se no Olimpo (a localização do terreno onde se realizava a reunião - uma pequena elevação - contribuía para tornar a metáfora mais real). Ernesto, que preferiu se calar, apenas assistia ao desfile dos egos numa surpreendente serenidade - dialogava em silêncio com o fogo. Diálogo interrompido quando o "tal" irrompeu na cena para manifestar sua bazófia lírica.
Explicava seus pseudônimos, tépida tentativa de imitar Pessoa, e amarrava "valiosos comentários" às metáforas que utilizava. Mudava o tom de voz, e quando fingiu um compulsivo choro, prontamente teve suas crocodilianas lágrimas recolhidas pelos dedos macios e frementes de desejo da poetisa mais próxima (segredou-me Ernesto que depois a vira recolhendo as lágrimas a uma taça, a fim de utilizá-las numa refinada macumba). O espetáculo circense terminou quando o canastrão revelou, a dor de um "clown" crispando sua face, que escrevera seu primeiro poema aos quatorze anos, mas o medo do ridículo diante do seu pai, que desejava filhos sérios e aptos a tocar os negócios da família, fez com que deixasse o texto guardado em uma gaveta. Descobrira-o a mãe, e daí a certeza da hereditariedade: "Meu filho, todos na nossa família gostam de poesia... isto é genético!" A comoção foi geral, e não faltaram aquelas que correram a abraçá-lo e prometer-lhe o alento de uma alcova. "Você entende agora, meu amigo? Decepção.... apenas isso" - disse Ernesto, concluindo sua narrativa.
Fiquei imaginando onde estaria o gene da poesia, e novamente Ernesto, percebendo minha insatisfação com o narrado, buscou em Neruda a resposta: "É preciso perder-se entre os que não conhecemos para que subitamente recolham o que é nosso da rua, da areia, das folhas caídas mil anos no mesmo bosque... e tomem ternamente esse objeto que nós fizemos... Somente então seremos verdadeiramente poetas... Nesse objeto viverá a poesia..."
É isto!
RESENHA LITERÁRIA


O FEIJÃO E O SONHO, de Orígenes Lessa
(Fonte: www.coladaweb.com)

Publicado em 1938, O Feijão e o Sonho caiu no agrado da crítica e do público exatamente por desenvolver uma temática tão a gosto do caráter romântico do brasileiro médio. A trama gira em torno de Campos Lara, poeta que vive a embalar o sonho da criação literária, alheio aos aspectos práticos da luta pela sobrevivência. Casado com Maria Rosa, a relação é um desajuste só. Campos Lara sonhando, escrevendo, poetando; Maria Rosa batalhando, preocupando-se e, principalmente, azucrinando a vida do irresponsável marido. Os rendimentos conseguidos pelo poeta, dando aulas ou escrevendo para os jornais são extremamente escassos e insuficientes para fazer frente às despesas da família. Os credores não dão sossego; o senhorio cobra os aluguéis atrasados; o dono da farmácia deixa de fornecer medicamentos para a filharada adoentada; a alimentação é parca e de má qualidade: a vida é um inferno. A todo esse desacerto, Campos Lara não dá a mínima atenção. Sua cabeça, povoada de versos e de orgulho intelectual não desce do limbo em que se encontra para encarar problemas triviais de manutenção familiar. Seus mirabolantes projetos literários enchem sua vida e seu tempo. Pula de emprego em emprego, vê seus alunos escaparem e os que permanecem são os que não podem pagar. Maria Rosa luta desesperadamente contra a miséria e o infortúnio.
Ao final, com a situação financeira mitigada, mas não de todo regularizada, Campos Lara e Maria Rosa ajustam-se e sonham com o futuro do filho caçula. Será advogado... Engenheiro... Até que Campos Lara descobre que seu filho será, como ele, poeta... E isso o enche de orgulho, esquecendo todo o drama e o sofrimento que palmilhou durante toda uma existência, exatamente por dedicar-se à poesia, uma atividade sem qualquer compensação financeira, num país de analfabetos. Análise Crítica O texto, como bem sugere o título, sustenta-se sobre duas linhas básicas: o feijão é o lado prático da vida. A necessidade de o indivíduo prover o próprio sustento e o da família. A luta pela sobrevivência que se desenvolve em cada momento da trajetória do homem pela vida afora. O sonho é a fantasia, a quimera que cada um tem dentro de si. A aspiração de grandeza, de desligamento dessa realidade tão dura e desagradável. As duas linhas formam a grande antítese alicerçadora da vida. Os que se fixam no feijão tornam-se amargos, desagradáveis, agressivos. A obsessão pelo lado prático da existência impede-os de tomar uma atitude carinhosa, compreensiva, aconchegante diante daqueles que deles se aproximam. Os adeptos do sonho perdem o senso da realidade e tornam-se desajustados em um mundo excessivamente materialista. São criticados, espezinhados, humilhados e sua vida é um rosário de sofrimentos e de dor. Pela data da publicação — 1938 —, quando o autor contava apenas 35 anos, o livro não é, evidentemente, autobiográfico. Entretanto sua trama conduz para fatos sobejamente conhecidos com inúmeros artistas de todas as áreas. Orígenes Lessa não inovou em nada, mas apenas deu forma literária a uma história sobejamente conhecida e repetida desde sempre: o artista sonhador, pobre e incompreendido; a mulher que o impele à luta e o obriga a encarar o lado prático da vida. Nenhuma novidade... O grande mérito está no despojamento da linguagem; na trama simples; na sugestão de que se podem encontrar significados profundos em atitudes aparentemente superficiais dos personagens; no processo de iniciação do jovem leitor nos caminhos do consumo da literatura; na exploração inteligente do idealismo tão próprio da juventude ainda não batida pelo tempo e pela desilusão.
GRANDES NOMES DA LITERATURA


ORÍGENES LESSA
(Wikipedia)

Orígenes Lessa, filho de Vicente Themudo Lessa, historiador, jornalista e pastor protestante pernambucano, e de Henriqueta Pinheiro Themudo Lessa, nasceu em Lençóis Paulista-SP a 12 de julho de 1903. Em 1906, foi levado pela família para São Luís do Maranhão, onde cresceu até os nove anos, acompanhando a jornada do pai como missionário. Da experiência de sua infância resultou o romance Rua do Sol. Em 1912, voltou para São Paulo. Aos 19 anos, ingressou num seminário protestante, do qual saiu dois anos depois.
Em 1924, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Separado voluntariamente da família, lutou com grandes dificuldades. Para se sustentar, dedicou-se ao magistério. Completou um curso de Educação Física, tornando-se instrutor de ginástica do Instituto de Educação Física da Associação Cristã de Moços. Ingressou no jornalismo, publicando os seus primeiros artigos na seção “Tribuna Social-Operária” de O Imparcial.
Em 1928, matriculou-se na Escola Dramática do Rio de Janeiro, dirigida, então, por Coelho Neto, objetivando o teatro como forma de realizar-se. Saudou Coelho Neto, em nome dos colegas, quando o romancista foi aclamado “Príncipe dos Escritores Brasileiros”. Ainda em 1928, voltou para São Paulo, onde ingressou como tradutor no Departamento de Propaganda da General Motors, ali permanecendo até 1931.
Em 1929, começou a escrever no Diário da Noite de São Paulo e publicou a primeira coleção de contos, O escritor proibido, calorosamente recebida por Medeiros e Albuquerque, João Ribeiro, Menotti del Picchia e Sud Menucci. Seguiram-se a essa coletânea Garçon, garçonnette, garçonnière, menção honrosa da Academia Brasileira de Letras, e A cidade que o diabo esqueceu.
Em 1932, tomou parte ativa na Revolução Constitucionalista, durante a qual foi preso e removido para o Rio de Janeiro. No presídio de Ilha Grande, escreveu Não há de ser nada, reportagem sobre a Revolução Constitucionalista, e Ilha Grande, jornal de um prisioneiro de guerra , dois trabalhos que o projetaram nos meios literários. Nesse mesmo ano ingressou como redator na N. Y. Ayer & Son, atividade que exerceu durante mais de quarenta anos em sucessivas agências de publicidade.
Voltou à atividade literária, publicando a coletânea de contos Passa-três e, a seguir, a novela O joguete e o romance O feijão e o sonho, obra que conquistou o Prêmio Antônio de Alcântara Machado e teve um sucesso extraordinário, inclusive na sua adaptação como novela de televisão. Em 1942 mudou-se para Nova Iorque para trabalhar no Coordinator of Inter-American Affairs, tendo sido redator na NBC em programas irradiados para o Brasil. Em 1943, de volta ao Rio de Janeiro, reuniu no volume Ok, América as reportagens e entrevistas escritas nos Estados Unidos. Deu continuidade à sua atividade literária, publicando novas coletâneas de contos, novelas e romances. A partir de 1970, dedicou-se também à literatura infanto-juvenil, chegando a publicar, nessa área, quase 40 títulos, que o tornaram um autor conhecido e amado pelas crianças e jovens brasileiros. Foi casado com a jornalista e cronista Elsie Lessa, sua prima-irmã, com quem teve um filho, o jornalista, cronista e escritor Ivan Lessa. Também foi casado com Edith Thomas, com quem teve outro filho, Rubens Lessa. Na ocasião de sua morte, estava casado com Maria Eduarda Lessa. Foi sepultado em sua cidade natal, Lençóis Paulista-SP.
Orígenes Lessa recebeu inúmeros prêmios literários: Prêmio Antônio de Alcântara Machado (1939), pelo romance O feijão e o sonho; Prêmio Carmem Dolores Barbosa (1955), pelo romance Rua do Sol; Prêmio Fernando Chinaglia (1968), pelo romance A noite sem homem; Prêmio Luísa Cláudio de Sousa (1972), pelo romance O evangelho de Lázaro. Faleceu no dia 13 de julho de 1986, no Rio de Janeiro.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

UM DEDO DE PROSA


APL ENCERRA SUAS ATIVIDADES EM 2008 COM MÚSICA E POESIA

A Academia Planaltinense de Letras encerrou suas atividades em 2008 com um sarau de música e poesia. O evento aconteceu na última sexta-feira, dia 05/12, às 20h30, e fez parte das comemorações do 10º aniversário da APL durante o III ENCONTRO ARTÍSTICO-CULTURAL, promovido anualmente pela Academia.
A aniversariante da noite foi a APL, mas foi a comunidade de Planaltina quem recebeu de presente uma noite eclética, regada a música de boa qualidade e muita poesia.
Os músicos Marcos Alagoas (voz e violão) e Ari Feitosa (percussão) se encarregaram de brindar a platéia com MPB; os estudantes Jheymison Martins (do CEF Pompílio Marques de Sousa), Ednne Aluísio, Ester Lopes e Narayane Gonçalves (do CEF 01 – “Centrinho”) encantaram o público com suas belíssimas vozes ao interpretarem as mais belas canções Gospel do momento. O encerramento das atrações musicais ficou por conta do aluno Arthur Disegna, do Centro Educacional Delta, que com o seu teclado afagou os ouvidos dos presentes com música clássica.
Entre uma música e outra, os poetas Elias Leite, Joésio Menezes, Kora Lopes, Mário Castro, Vanilson Reis, Vivaldo Bernardes e Xiko Mendes revezaram-se recitando poesias dos mais variados estilos e autores.
O evento estendeu-se até as 23h40, mas, de tão agradável, ninguém se retirou do local antes que o mestre de cerimônia, o professor Nilton Alves, desse por encerradas as atividades.
Foi uma noite para se registrar nos anais da história cultural de Planaltina e para ficar eternizada na memória de todos que se fizeram presentes no III ENCONTRO ARTÍSTICO-CULTURAL, realizado no auditório do Centro Educacional Delta.
Nós, da Academia Planaltinense de Letras, só temos que agradecer a presença de todos os presentes (platéia, cantores, poetas, acadêmicos e demais colaboradores), sem os quais não seria possível a realização tampouco o sucesso do nosso evento.
Fica aqui registrada a promessa de um outro evento, quem sabe ainda melhor, para 2009.
Até lá, e boas festas a todos!...
MEUS VERSOS LÍRICOS


VESTIDO BRANCO
(Joésio Menezes)


No calor daquela quarta-feira,
quinze horas, aproximadamente,
apareceu em minha frente
uma deusa altaneira.



Trajava um vestido branco
colado ao seu corpo esguio,
motivo do meu desvario
e do meu desvelo franco...

Naquele vestido, seu rebolado
deixou-me atônito, enfeitiçado,
trouxe-me uma dúvida alvissareira:

O que vi naquele dia quente
Seria uma deusa realmente
Ou uma elegante feiticeira?


CORAÇÃO SEM JUÍZO
(Joésio Menezes)

Se desejar-te for um pecado,
Sei que não entrarei no paraíso,
Pois eu sempre perco o juízo
Quando apareces ao meu lado.

E se o meu pecado for carnal,
Sei que de fato estarei perdido,
Pois não me será permitido
O perdão Divino ou coisa igual.

Se a mim não mais puderes sorrir
Sei que meu peito não irá resistir
E o meu mundo então terá acabado.

Se pensar em ti me for proibido,
Sei que para sempre estará partido
O meu coração desajuizado.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


NÃO ME DEIXES
(Gonçalves Dias)

Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!"

"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo,te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"


AMAR!
(Florbela Espanca)

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
CRÔNICA DA SEMANA


AH! A ETIQUETA
(Wanderlino Arruda)

Confesso que sou leitor vidrado em regras de etiqueta. Não perco uma linha do que se fala de educação e do bem-viver social, de como tratar as pessoas, de como buscar uma convivência pacífica e polida com os nossos semelhantes, principalmente quando pelo menos um mínimo de elegância é exigido. Leio tudo. Seguir, obedecer às regras, fazer do bom trato uma linha de vida é difícil, exige muita observação e muito esforço, mas é sempre possível se a gente for incorporando à cultura pequenos e grandes conhecimentos nesse setor. Cautela e cuidados sociais não fazem mal a ninguém.
Claro que a educação ou a “finesse” em sociedade, e por sociedade se entender todos os relacionamentos humano em qualquer parte, merece vasta gama de obediências, uma forma natural de agir, o saber como, quando e onde tomar atitudes. É preciso saber como e quando convidar, presentear, receber, desculpar-se. É preciso saber vestir-se, dar festas, ir a festas, sair com colegas e pessoas amigas, ir a um restaurante, a um barzinho, a um lugar da moda. Também é preciso saber conversar ou escrever um bilhete, uma carta ou simples recado sempre que isso for necessário, seja hora triste, seja hora alegre das criaturas de quem gostamos. É preciso saber o melhor comportamento no trabalho, nos esportes, em toda e qualquer oportunidade.
Falando nestas coisas, lembro-me com saudades de uma experiência que tive em 1979, no Rio de Janeiro, período em que ministrava um curso de Lingüística para administradores do Banco do Brasil. Sempre que chegava do almoço, via no elevador, nos corredores e na entrada do auditório do Centro de Treinamento um vasto mundo de mulheres elegantes e bonitas, cada uma mais educada do que a outra. Num local em que a grande maioria era sempre de homens, aquela quantidade de belezas no mínimo parecia curioso, logo não tardando as explicações: havia ali um curso de etiqueta com uma professora da Socila, contratada pelo Banco para treinamento das secretárias de alta direção. Era isso a razão do belo visual e da finura do trato. Reunião de trato. Reunião de gente fina, que é outra coisa. Time de primeira linha!
Dispondo da metade do tempo, pois só lecionava pela manhã, por um caminhão de razões, não tive outro jeito senão pedir ao chefe Dalton, que por sua vez pediu à linda professora, para que eu fosse aceito como ouvinte e oficial observador de todas as lições. Imagine, minha senhora, que situação! Um homem só no meio de quarenta mulheres civilizadas. Mesmo pegando o bonde já em meio de caminho, não houve alternativa, tive que aprender tudo ou quase tudo. É que nas discussões sobre o papel da mulher, nunca pude deixar de representar o papel do homem, estabelecer o contraste de posições. Por mais educação que houvesse, foi briga de nunca acabar: “machista chauvinista, representante da tradicional família mineira, bandido!” Foi um sucesso de aprendizagem. E como!
RESENHA LITERÁRIA


A PEDRA DO REINO, de Ariano Suassuna
(por Pedro Nastri)

A Pedra do Reino, entre outras coisas, representa a força do imaginário do nordeste.
Trata-se de um livro vertiginoso, uma espécie de visão alquímica e fabulesca do Brasil e do homem: ora cômico, ora trágico, e, portanto, mais atual do que nunca. Não há regionalismo, há o sertão de Ariano, que tem profundas relações com a Península Ibérica, com a Espanha de Cervantes, de Garcia Lorca, com o Mediterrâneo, com o mundo árabe. O Sertão de Ariano Suassuna é um universo, um estado de alma que não depende necessariamente de uma geografia.
Destaco, também, o caráter universal da obra de Suassuna. Ele busca decifrar a própria condição humana, por isso mergulha nos subterrâneos do Nordeste, a fim de reencontrar ali o Homem, aquele que se põe as mesmas questões existenciais. Para ele, a universalidade é dada pela quantidade de sonho presente na obra. Quanto mais coletivas e humanas são as histórias maior seu alcance; por isso ela é alcançada com naturalidade por todo artista que atinge a alma humana. Quaderna, João Grilo, Chicó , entre outros personagens de Ariano, carregam consigo os dramas humanos, por isso diferentes públicos no mundo inteiro se identificam com eles e suas peripécias.
GRANDES NOMES DA LITERATURA


ARIANO SUASSUNA
(Wikipédia)

Ariano Vilar Suassuna, dramaturgo, romancista e poeta brasileiro, nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa-PB, em 16 de junho de 1927. Filho do ex-governador João Suassuna (1924/1928), Ariano Suassuna é um dos mais importantes dramaturgos brasileiros, autor do célebre Auto da Compadecida, e um defensor militante da cultura brasileira.
Ariano viveu os primeiros anos de sua vida no Sítio Acahuan, no sertão do estado da Paraíba. Aos três anos de idade, Ariano passou por um dos momentos mais complicados de sua vida com o assassinato de seu pai por motivos políticos durante a revolução de 1930, o que obrigou a sua mãe, Cássia Suassuna, a levar toda a família a morar na cidade de Paulista, no estado de Pernambuco.
Ariano Suassuna estreou seus dons literários precocemente no dia 7 de outubro de 1945, quando o seu poema Noturno foi publicado em destaque no Jornal do Commercio do Recife. Sua primeira peça teatral foi publicada em 1947, Uma Mulher Vestida de Sol, seguidas por Cantam as Harpas de Sião, de 1948 e reescrita com o título O Desertar de Princesas, Auto de João da Cruz de 1950, o aclamado Auto da Compadecida de 1955, O Santo e a Porca - O Casamento Suspeitoso de 1957, A Pena e a Lei de 1959, "A Farsa da Boa Preguiça" de 1960 e "A Caseira e a Catarina" de 1961. Foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, arquitetura, entre outras. Ocupa desde 1990 a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

UM DEDO DE PROSA


RENOVAM-SE AS ESPERANÇAS

Aproximam-se as festas de fim de ano. E com elas, inúmeros problemas com os quais já nos habituamos, porém não nos conformamos.
Todo ano é sempre a mesma coisa: catástrofes naturais, crises financeiras, conflitos políticos-sociais, confrontos religiosos, ataques terroristas, dentre outros. Entretanto, nada disso abala a nossa fé ou afugenta a nossa esperança.
Mas... esperança de quê ou em quê mesmo?
Esperança de um ano melhor, de uma vida mais digna, esperança nos homens...
Esperança de que o "espírito natalino" não fique apenas entre os dias 20 e 30 de dezembro, mas sim por todo o ano que se aproxima.
Esperança de que a solidariredade humana não sirva de moeda de troca entre políticos e eleitores.
Esperança de que nunca se acabe a esperança dos homens, entre os homens, para os homens...
Assistindo a uma reportagem sobre a miséria que assola algumas regiões africanas, uma mãe (ladeada pelos sete filhos famintos) foi perguntada sobre o que tinha para dar aos filhos, e ela então respondeu: "Esperança, só esperança".
Dizem que "a esperança é a última que morre".
Espero que isso seja a mais pura verdade!...
MEUS VERSOS LÍRICOS


UM CERTO ALGUÉM
(Joésio Menezes)


Encontrei num jardim, sofrendo de amor,
Sentada numa grande pedra fria,
Uma escultura de Rodin - O Pensador,
Que pensando na amada solitária sofria.



Naquele instante compreendi a dor
Que a inerte estátua em seu peito trazia,
Pois assim como eu, um eterno sonhador,
Pensa na sua amada noite e dia.

Compreendi ainda o triste desalento
Daquela estátua sentada ao relento
À espera da sua eterna amada...

Igual a ela padeço também
À espera de um certo alguém
Que em minha vida deu uma guinada.


SEM VOCÊ
(Joésio Menezes)

Sou uma estrela solitária e cadente
Em busca do seu firmamento,
Sou um homem sem nenhum talento,
Sem futuro, sem passado, sem presente.

Sou um simples corpo indigente
Sob a fria proteção do vento,
Sou da natureza um rebento
Sem alma, sem vida, sem mente.

Sou um desconhecido farrapo humano,
Louco, desvairado, insano,
Que busca, sem êxito, seu brio.

Sou da tristeza o supra-sumo,
Sou um navegante sem rumo
Nas águas de um mar bravio.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL



O FILHO DO HOMEM
(Vinicius de Moraes)


O mundo parou
A estrela morreu
No fundo da treva
O infante nasceu.


Nasceu num estábulo
Pequeno e singelo
Com boi e charrua
Com foice e martelo.

Ao lado do infante
O homem e a mulher
Uma tal Maria
Um José qualquer.

A noite o fez negro
Fogo o avermelhou
A aurora nascente
Todo o amarelou.

O dia o fez branco
Branco como a luz
À falta de um nome
Chamou-se Jesus.

Jesus pequenino
Filho natural
Ergue-te, menino
É triste o Natal.


VIDAS
(Fernando Pessoa)

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
CRÔNICA DA SEMANA


A MOÇA
(Viegas Fernandes da Costa)

Podia notar nos rostos daqueles que compartilhavam comigo a angústia de aguardar o ônibus, a ansiedade de verem-na novamente. Não é fácil encarar os primeiros sorrisos irônicos de um escaldante dia de verão, principalmente aqui em Blumenau. Sua presença serve então como um alento, um estímulo moreno e perfumado para que possam iniciar a rotina de sempre com um suspiro estampado no rosto. Ao verem-na, o dia se vestia de eloqüência. Mas como demorava!
Parecia fazer de propósito, tanta demora! E quando chegava, passo calmo e altivo, o corpo trescalando luxúria selvagem, inebriava até as pedras. Perseguia-a um séqüito de olhares arrebatados, de uma cobiça incontida. A angústia transformada em enlevo, e o enlevo em sofrimento, já que sabiam poder apalpá-la apenas com os olhos; quanto às mãos, ah... estas se frustravam guardadas nos bolsos a fim de evitar a tentação de tatearem a epiderme alheia. E que epiderme! Só não vou dizer que é tenra como um pêssego pois sou moço respeitoso e comprometido e, portanto, não cometi a desfaçatez de conspurcá-la com o toque vil dos meus dedos. Mas sempre há um descarado de prontidão que ousou aproximar-se e que atesta o quão macia é sua pele, tanto que considera um sacrilégio chamar tão fina seda de pele, palavra tão vulgar. Ai, ai...
Chegava como brisa fresca, arrepiando até as sobrancelhas, no viço carnal da sua juventude. E posso jurar que até as mulheres suspiravam ante sua presença, o íntimo entregue aos desejos. Respeitáveis senhoras, hieráticas, aureoladas, agrilhoadas à luzentes alianças, não podiam conter os sinais da volúpia no compasso do peito e no enrubescer de suas faces. Que coisas profanas não se passavam em suas mentes, que desejos enrustidos não afloravam naquele enrubescer inevitável e vergonhosamente descarado?
Sua beleza é natural, coisa tão rara nos tempos que correm. Não existe um miligrama de silicone em seus seios, sequer o menor indício do toque do bisturi em seu rosto, nada de bronzeamento artificial ou dieta à base de não sei o quê “life” que vendem na televisão. Como sei? Quem me garantiu foi o Zé! Agora, não me pergunte como sabe ele das intimidades da moça, isso lá é coisa dele, e não sou de ficar me metendo nos “particulares” dos outros. A questão é que ele confirma, e em se tratando do sexo oposto, há de se dar crédito ao Zé, afinal, tem fama o homem – fama e testemunhas! Mas voltando à ninfa, penso que é justamente essa beleza natural, de medidas e formas não regulamentadas pela ABNT, que mais contribui para o embasbacamento generalizado que todas as manhãs toma conta do ponto de ônibus. E os motoristas – tão compreensivos! – até já sabem que de nada adianta parar enquanto ela estiver ali, afinal, quem ousa arredar o pé? Só vão embora depois que ela toma o seu caminho, e não faltam aqueles que esquecem para onde iam e embarcam junto com a moça.
Ao chegar, jamais se sentava, para o gáudio daqueles que aguardavam a condução pública. Permanecia parada diante de todos, às vezes movendo os braços e ajeitando com as mãos os cabelos, arredios ao toque do vento matutino. E quantos não desejavam ser aquele vento que com tanto atrevimento lhe desmanchava o penteado!? Da mesma forma havia aqueles que sonhavam em ocupar o lugar dos insóbrios vestidos que mal e mal lhe ocultavam a nudez. E se não desejavam ser outras peças do seu vestuário, não era por pudor à moça não, mas apenas porque outras peças de vestuário não trajava (certamente não desejava ficar com aquelas marcas horríveis de elástico apertado). E vê-la ali, em pé, braços cruzados sobre o ventre, joelhos desnudos ligeiramente flexionados, provocava tamanha emoção, que ouso jurar ter visto uma e outra lágrima resvalando pelos sulcos das faces de alguns dos companheiros de ponto.
Enfim, o fato é que ontem ela não apareceu, e não houve meios de aplacar a tristeza destes que já se acostumaram a embebedar-se todas as manhãs com a sua presença. Ontem ela não apareceu, e para muitos sua ausência tornou o dia frio, cinzento, apesar de todo sol e calor que fez. E agora tudo o que vejo é a apreensão, o medo de todos de que sua ausência seja definitiva. Praguejam, inquietam-se, não devia tê-los acostumado tão mal, tê-los colocado em tal dependência. Afinal, há mais de ano cumpria-se aquele ritual, de segunda a sexta, todos os dias. Mas santo de brasileiro é forte, e quando ela surge lá na curva, ainda distante, com seu passo calmo e altivo, o corpo trescalando luxúria selvagem, o praguejar se transforma em mel, a inquietação em elevo e o dia volta a se vestir de eloqüência.
Quando se for, já vi o filme, os que ficam conferem as horas no relógio, recolhem a saliva da lapela e vão trabalhar, pois é tudo o que resta, trabalhar e esperar o próximo dia.
Mas... quem sabe amanhã alguém não se decida a quebrar a rotina e tocá-la tal qual o vento? Tomara, pois é isto que ela mais deseja, todas as manhãs: um toque de carinho, um sussurro no ouvido e uma promessa de amor, só isso!
RESENHA LITERÁRIA


O SERTANEJO
(José de Alencar)

O Sertanejo, romance da fase regionalista (ou sertanista) de José de Alencar, publicado em 1875, põe em cena o interior nordestino do século XVIII, onde se desenrola a trajetória repleta de heroísmo de Arnaldo, vaqueiro cearense, homem do campo, simples, mas bravo lutador que tudo enfrenta por amor e por seus ideais. Os dias e os trabalhos do vaqueiro traçam um painel do Nordeste do Brasil.
A obra apresenta uma prosa com personagens característicos do sertão. Onde o personagem-narrador é Severino, que ao longo do texto tenta se definir, mas com tudo o que fala não consegue, por isso Severino passa a ser como uma figura genérica, ou seja, passa a ser a característica do povo sofrido pelas difilculdades como a fome,sede e miséria.
É um dos romances bem brasileiro, em que Alencar dá expansão ao seu gênero de pincelador retratando com belas e radiantes cores a paisagem do sertão. Traça todo um complexo de características geográficas e culturais, registrando o típico de nossa sociedade rural, desde o comportamento individual e as relações domésticas, até o registro do folclore.
O Sertanejo (último romance que José de Alencar publicou em vida) é uma espécie de síntese de suas características literárias. Seu personagem central é Arnaldo Loureiro, destemido vaqueiro a serviço capitão-mor, Arnaldo Campelo, que enfrenta os mais sérios riscos na esperança de conquistar a simpatia da filha do fazendeiro.

(Fonte: www.passeiweb.com)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


JOSÉ DE ALENCAR
(Fonte: www.culturabrasil.pro.br)

José Martiniano de Alencar nasceu em 1.º de maio de 1829, em Mecejana, Ceará. Filho do padre José Martiniano de Alencar (deputado pela província do Ceará), ele foi o fruto de uma união ilícita e particular do padre com a prima Ana Josefina de Alencar. Quando criança e adolescente, era tratado em família por Cazuza. Mais tarde, adulto, ficou conhecido nacionalmente como José de Alencar, um dos maiores escritores românticos do Brasil.
Aos 18 anos, Alencar já tinha esboçado o primeiro romance - Os contrabandistas. Segundo depoimento do próprio escritor, um dos inúmeros hóspedes que freqüentavam sua casa usava as folhas manuscritas para. acender charutos. Verdade? Invenção? Muitos biógrafos duvidam da ocorrência, atribuindo-a à tendência que o escritor sempre demonstrou a dramatizar excessivamente os fatos de sua vida. O que ocorreu sem dramas ou excessos foi a formatura, em 1850. No ano seguinte, Alencar já estava no Rio de Janeiro, trabalhando num escritório de advocacia. Começava o exercício da profissão que jamais abandonaria e que garantiria seu sustento. Afinal, como ele próprio assinalou, "não consta que alguém já vivesse, nesta abençoada terra, do produto de obras literárias''.
Na obra de Alencar há quatro tipos de romances: indianista, urbano, regionalista e histórico. Evidentemente, essa classificação é muito esquemática, pois cada um de seus romances apresenta muitos aspectos que merecem ser analisados: é fundamental, por exemplo, o perfil psicológico de personagens como o herói de O gaúcho, ou ainda do personagem central de O sertanejo. Por isso, a classificação acima prende-se ao aspecto mais importante (mas não único) de cada um dos romances.
Buscando tratamento para a sua grave doença, em 1876 Alencar vende tudo o que tem e com Georgina e os seus filhos viaja para a Europa. No dia 12 de Dezembro de 1877, no Rio de Janeiro, morre José de Alencar vítima da tuberculose.