terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O MELHOR DA POESIA BRSILEIRA E UNIVERSAL


TECENDO A MANHÃ
(João Cabral de Melo Neto)

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele deu
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


ESPERANÇA
(Vivaldo Bernardes de Almeida)

O que sinto no peito aqui guardado,
é o último trunfo com que conto
com carinho e amor mui bem velado,
na esperança de ver-te me apronto.

Dos tormentos de estar longe de ti,
só me resta agora a esperança
de te ver como um dia já te vi:
como eras e plena de pujança.

Só Deus sabe o tempo que inda nos resta,
pra de novo abraçar-nos como outrora,
esperando com ânsia a grande festa.

E enquanto esse dia não chegar,
não soar o relógio a justa hora,
só nos fica o infindo esperar.

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