segunda-feira, 27 de outubro de 2008

UM DEDO DE PROSA


E A CHUVA, QUANDO VIRÁ?

E o calor continua!... Não mais sei o que pensar, o que escrever, o que falar...
O calor insuportável não me deixa exercitar sequer a mais simples das ações: pensar. Imaginem, então, fazer outras coisas que exigem algum esforço fisíco!...
Como eu já disse aqui mesmo, algumas semanas atrás, "parece que o mundo está prestes a derreter". Antes, porém, serão derretidos os nossos miolos, o que parece já estar acontecendo, pois as pessoas continuam fazendo asneiras mundo afora: recentemente, em São Paulo (se é que o calor não me fez falhar a memória!), um pai ameaçava jogar a filha pela janela do seu apartamento.
Espero que as águas das chuvas (que já estão atrasadas!) possam acalmar os "ânimos" das pessoas, e estas possam parar para refletir um pouco mais sobre as suas ações e, principalmente, sobre as suas conseqüências.
Espero que a chuva possa trazer, além de um clima menos "escaldante", paz aos espíritos e calma aos corações de todos nós.
Enquanto a chuva não chega, resta-me imaginar um clima gostoso e rabiscar alguns versos.
MEUS VERSOS LÍRICOS


PALAVRA TOSCA
(Joésio Menezes)

Falaste a mim certa vez
Que ao te chamarem “gostosa”,
Desces dos tamancos, ficas furiosa,
Perdes as estribeiras e a sensatez...

Coisa de peão, não de cortês,
Tratar assim uma dama vistosa,
Uma mulher idônea e fabulosa,
Uma diva cheia de altivez.

Somente um tolo rudimentar,
Sabendo que não irias gostar,
Feriria toscamente o teu pudor.

Eu, um insignificante poeta,
Diria que és o Ato que completa
O balé majestoso do beija-flor.


POETA, SIM SENHOR!...
(Joésio Menezes)

Sou um poeta sem endereço
E busco, a qualquer preço,
O Mundo Encantado
Presente na poesia
Que enche de alegria
Meu coração apaixonado.

Sou um poeta errante
E vivo cada instante
Como se fosse meu último dia,
Pois sei que desmereço
Todo e qualquer apreço
Que me é dado em demasia.

Sou um poeta indigente,
Pois vivo tão somente
Dos versos que dou ao mundo.
São versos cheios de paixão
Que fluem de um coração
Senil e moribundo.

Sou um poeta desvairado
E, às vezes, questionado
Se não apenas um sonhador...
Se me é permitido sonhar
E ao vento meus versos soltar,
Então, sou poeta, sim senhor!...
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


APEGADO A MIM
(Gabriela Mistral)

Floco de lã de minha carne,
que em minha entranha eu teci,
floco de lã friorento,
dorme apegado a mim!
A perdiz dorme no trevo
escutando-o latir:
não te perturbem meus alentos,
dorme apegado a mim!

Ervazinha assustada
assombrada de viver,
não te soltes de meu peito:
dorme apegado a mim!
Eu que tudo o hei perdido
agora tremo de dormir.
Não escorregues de meu braço:
dorme apegado a mim!


MINHA DESGRAÇA
(Álvares de Azevedo)

Minha desgraça não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que o meu peito blasfema,
É ter para escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.
CRÔNICA DA SEMANA


O NASCIMENTO DA CRÔNICA
(Machado de Assis)

Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.
Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.
Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do ano.
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.
Que eu, sabedor ou conjeturador de tão alta prosápia, queira repetir o meio de que lançaram mãos as duas avós do cronista, é realmente cometer uma trivialidade; e contUdo, leitor, seria difícil falar desta quinzena sem dar à canícula o lugar de honra que lhe compete. Seria; mas eu dispensarei esse meio quase tão velho como o mundo, para somente dizer que a verdade mais incontestável que achei debaixo do sol é que ninguém se deve queixar, porque cada pessoa é sempre mais feliz do que outra.
Não afirmo sem prova.
Fui há dias a um cemitério, a um enterro, logo de manhã, num dia ardente como todos os diabos e suas respectivas habitações. Em volta de mim ouvia o estribilho geral: que calor! Que sol! É de rachar passarinho! É de fazer um homem doido!
Íamos em carros! Apeamo-nos à porta do cemitério e caminhamos um longo pedaço. O sol das onze horas batia de chapa em todos nós; mas sem tirarmos os chapéus, abríamos os de sol e seguíamos a suar até o lugar onde devia verificar-se o enterramento. Naquele lugar esbarramos com seis ou oito homens ocupados em abrir covas: estavam de cabeça descoberta, a erguer e fazer cair a enxada. Nós enterramos o morto, voltamos nos carros, c dar às nossas casas ou repartições. E eles? Lá os achamos, lá os deixamos, ao sol, de cabeça descoberta, a trabalhar com a enxada. Se o sol nos fazia mal, que não faria àqueles pobres-diabos, durante todas as horas quentes do dia?
RESENHA LITERÁRIA


O MULATO
(por Frederico Barbosa)

Com a publicação de O Mulato, em 1881, Aluísio Azevedo introduz o Naturalismo na literatura brasileira e faz uma crítica anticlerical e anti-racista da sociedade provinciana do Maranhão.
No mesmo ano em que Machado de Assis inaugurava, com Memórias Póstumas de Brás Cubas, o Realismo nas letras brasileiras, Aluísio Azevedo publicava O Mulato, obra inaugural do Realismo-naturalismo no país. Em seu segundo romance, o escritor maranhense realiza uma impiedosa crítica social através da sátira dos personagens típicos de São Luís. Os comerciantes grosseiros, as senhoras de escravos sádicas, as velhas beatas e fofoqueiras e o padre sedutor, maquiavélico e assassino são apenas alguns exemplares de uma sociedade apodrecida e racista. Ao se inspirar em pessoas de São Luís que de fato conhecia, Azevedo despertou a ira da sociedade maranhense e, embora louvado por críticos do Rio de Janeiro, teve que sair da sua cidade natal temendo maiores represálias.
No anticlericalismo evidente da obra, há ecos do Crime do Padre Amaro (1875) de Eça de Queirós, até então o maior expoente do Naturalismo na língua portuguesa.
No entanto, a obra ainda apresenta alguns resíduos românticos. Aluísio Azevedo, na reta final da campanha abolicionista, idealiza a figura do mulato Raimundo, que pouco retém, na pele, das suas origens negras – “grandes olhos azuis, cabelos pretos e lustrosos, tez morena e amulatada, mas fina" – e é moralmente impecável. A trama central repete o estereótipo romântico do amor que luta contra o preconceito e as proibições familiares.

(Fonte: www.fredb.sites.uol.com.br)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


ALUÍSIO DE AZEVEDO
(Fonte: www.suapesquisa.com/biografias)

Considerado o pioneiro do Naturalismo no Brasil, o romancista Aluísio de Azevedo nasceu em São Luís, Maranhão em 14 de abril de 1857.
Quando jovem ele fazia caricaturas e poesias, como colaborador, para jornais e revistas no Rio de Janeiro. Seu primeiro romance publicado foi: Uma lágrima de mulher, em 1880.
Fundador da cadeira número quatro da Academia Brasileira de Letras e crítico social, este escritor naturalista foi autor de diversos livros, entre eles estão: O Mulato, que provocou escândalo na época de seu lançamento; Casa de Pensão, que o consagrou e O Cortiço, conhecido com sua obra mais importante.
Este autor, que não escondia seu inconformismo com a sociedade brasileira e com suas regras, escreveu ainda outros títulos: Condessa Vésper, Girândola de Amores, Filomena Borges, O Coruja, O Homem, O Esqueleto, A Mortalha de Alzira, O livro de uma Sogra e contos como: Demônios.
Durante grande parte de sua vida, Aluísio de Azevedo viveu daquilo que ganhava como escritor, mas ao entrar para a vida diplomática ele abandonou a produção literária.
Faleceu em Buenos Aires, Argentina, no dia 21 de janeiro de 1913.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

UM DEDO DE PROSA


A QUE PONTO CHEGAMOS!!!

Antigamente, os apaixonados "morriam" de paixão; davam suas vidas pela amada; enfrentavam qualquer obstáculo em nome desse sentimento. Hoje, seqüestram, aterrorizam, matam... e dizem que isso fizeram por estarem apaixonados.
Será isso paixão?... Creio que não.
Os verdadeiros apaixonados movem montanhas, arriscam suas vidas (e não a dos outros!), vão ao infinito em busca de algo que possa pôr a prova o que sentem pelo(a) outro(a).
Hoje em dia, o sentimento de paixão virou sinônimo de doença mental, transformou-se num motivo a mais para se tirar a vida de alguém, metamorfoseou-se em ódio, reduziu-se a nada, vulgarizou-se... Prova disso é o caso Eloá, que aos 15 anos perdeu a vida pelas mãos de um louco "apaixonado".
Mas ainda tenho esperanças de que o verdadeiro sentimento de PAIXÃO (e não essa paixão nociva!) volte à tona e, em conseqüencia disso, muitos versos apaixonados encantarão os corações aflitos ao mesmo tempo em que iluminarão os espíritos sem luz.
MEUS VERSOS LÍRICOS

UM RISO TEU
(Joésio Menezes)

Hoje o Sol sorriu para mim
E disse-me que a sua alegria sem fim
Tinha um motivo extraordinário:
Ele recebera como presente
De ti um sorriso reluzente
No dia do teu aniversário.


Ele, sem muita cerimônia,
Disse-me que sofre de insônia
Desde aquele dia então.
Mas esse problema é quase nada
Diante da alegria desenfreada
Que ajuda a palpitar seu coração.

Pobre Astro sem juízo!...
Não sabe ele que o teu sorriso
É tão somente de cortesia.
Ele suspira apaixonado
Na certeza de ter conquistado
Um riso teu a cada dia.


DEVANEANDO
(Joésio Menezes)

Sou um navegante errante
guiado pelas águas frias da ilusão...
Lá no horizonte descortinado
o mar se encontra com o céu,
enquanto eu, um solitário viajante,
fixo meu olhar no infinito,
nele buscando encontrar
o sorriso da minha amada
e o cintilar dos seus olhos
navegando em minha direção.

Mas que nada!...
Apenas o gosto amargo da desilusão
é o que vejo aproximar-se de mim,
trazendo com ele a certeza
de que distante dos meus olhos
ela para sempre permanecerá.
E o meu peito, velho e cansado,
acostumar-se-á com a solidão,
cuja razão dos meus devaneios
é o fato de a amada não existir.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL



AH! OS RELÓGIOS
(Mário Quintana)


Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...


Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...


O MEU NIRVANA
(Augusto dos Anjos)

No alheamento da obscura forma humana,
De que, pensando, me desencarcero,
Foi que eu, num grito de emoção, sincero
Encontrei, afinal, o meu Nirvana!

Nessa manumissão schopenhauereana,
Onde a Vida do humano aspecto fero
Se desarraiga, eu, feito força, impero
Na imanência da Idéia Soberana!

Destruída a sensação que oriunda fora
Do tato - ínfima antena aferidora
Destas tegumentárias mãos plebéias -

Gozo o prazer, que os anos não carcomem,
De haver trocado a minha forma de homem
Pela imortalidade das Idéias!
CRÔNICA DA SEMANA


TER OU NÃO TER NAMORADO
(Artur da Távola)

"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção.
A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado, é porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200 kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio. Se você não tem namorado, é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido."
RESENHA LITERÁRIA


CRÔNICA DE UMA NAMORADA
(Zélia Gattai)

A história narrada em Crônica de Uma Namorada gira em torno da descoberta que a protagonista faz de si mesma, da sua sexualidade, da sua própria personalidade e daqueles que a rodeiam...
Geana fica órfã de mãe ainda muito nova, uma pré adolescente. Seu pai, Dr. Afrânio, homem autoritário, ríspido, apesar do amor que sentia pela sua falecida Laura, mãe de Geana, se casa novamente com uma moça bem mais nova que ele, Letícia, de família portuguesa. O que, inicialmente, se torna um pesadelo para Geana, mas depois tudo se normaliza. Em meio a tantos acontecimentos, a garota órfã de mãe, que era pré, vai se tornando uma adolescente e uma linda história de amor começa a desabrochar, tanto n seu relacionamento com Beto, moço bonito, estudante de Direito, considerado "irmão ", quanto na vida de Ricardina, sua irmã de criação e verdadeira amiga. Mas esse amor cheio de altos e baixos parece ser a mais linda história de amor da vida de Geana, até o momento em que aparece o Dr. Jadelson em sua vida.
Marcado pela singeleza e pela ternura, Crônica de Uma Namorada é uma pequena obra-prima da escritora Zélia Gattai. O livro traça um painel da sociedade paulista dos anos 50 ao relatar o desabrochar sexual de uma menina.

(Fonte: pt.shvoong.com)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


ZÉLIA GATTAI
(Fonte: wikipedia)

Zélia Gattai Amado (São Paulo, 2 de julho de 1916 — Salvador, 17 de maio de 2008) foi uma escritora, fotógrafa e memorialista (como ela mesma preferia denominar-se) brasileira, tendo também sido expoente da militância política nacional durante quase toda a sua longa vida, da qual partilhou cinqüenta e seis anos casada com o também escritor Jorge Amado, até a morte deste.
Filha dos imigrantes italianos Angelina e Ernesto Gattai, é a caçula de cinco irmãos. Nasceu e morou durante toda a infância na Alameda Santos, 8, no bairro Paraíso, em São Paulo.
Zélia participava, com a família, do movimento político-operário anarquista que tinha lugar entre os imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, no início do século XX. Aos vinte anos, casou-se com Aldo Veiga. Deste casamento, que durou oito anos, teve um filho, Luís Carlos, nascido em São Paulo, em 1942.
Leitora entusiasta de Jorge Amado, Zélia Gattai o conheceu em 1945, quando trabalharam juntos no movimento pela anistia dos presos políticos. A união do casal deu-se poucos meses depois. A partir de então, Zélia Gattai trabalhou ao lado do marido, passando a limpo, à máquina, seus originais e o auxiliando no processo de revisão.
Aos 63 anos de idade, começou a escrever suas memórias. O livro de estréia, Anarquistas, graças a Deus, ao completar vinte anos da primeira edição, já contava mais de duzentos mil exemplares vendidos no Brasil. Sua obra é composta de nove livros de memórias, três livros infantis, uma fotobiografia e um romance. Alguns de seus livros foram traduzidos para o francês, o italiano, o espanhol, o alemão e o russo.
Em 2001, foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, para a cadeira 23, anteriormente ocupada por Jorge Amado, que teve Machado de Assis como primeiro ocupante e José de Alencar como patrono. No mesmo ano, foi eleita para a Academia de Letras da Bahia e para a Academia Ilheense de Letras.
Ao lançar seu primeiro livro, Anarquistas graças a Deus, Zélia Gattai recebeu o Prêmio Paulista de Revelação Literária de 1979. No ano seguinte, recebeu o Prêmio da Associação de Imprensa, o Prêmio McKeen e o Troféu Dante Alighieri. A Secretaria de Educação do Estado da Bahia concedeu-lhe a Medalha Castro Alves, em 1987. Em 1988, recebeu o Troféu Avon, como destaque da área cultural e o Prêmio Destaque do Ano de 1988, pelo livro Jardim de inverno. O livro de memórias Chão de meninos recebeu o Prêmio Alejandro José Cabassa, da União Brasileira de Escritores, em 1994.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

UM DEDO DE PROSA


AOS MESTRES, COM CARINHO

Na semana em que se comemora o DIA DO PROFESSOR, muitos são os que estão saindo de sala de aula em busca de uma "tranqüilidade financeira" ou até mesmo de uma profissão mais segura.
Em Brasília (e no Brasil afora), o que mais se lê em jornais (ou se vê nos telejornais) são notícias de agressões físicas a professores, agressões estas realizadas por alunos, contra os quais nada se pode fazer, pois são "crianças" na faixa etária de 13 a 17 anos. Um absurdo!...
Recentemente, nas escola em que trabalho, um aluno agrediu a professora de Educação Física simplesmente porque ela o levou à direção, e esta chamou sua mãe.
Creio eu que a professora equivocou-se ao levá-lo à direção, pois o "coitadinho" nada fizera além de entrar no banheiro das meninas e tentar agarrar uma das alunas.
Após agredir a professora, o "pobre e injustiçado" aluno foi transferido para outro estabelecimento de ensino. Antes, porém, fez ameaças de morte à professora... E que Deus tenha piedade dos colegas professores que o receberão!
Como se não bastassem os freqüentes registros de agressões a professores (o que muito tem motivado esses profissionais a tentarem outros concursos públicos), o Secretário de Educação foi à imprensa e disse em alto e bom tom que está muito preocupado com a Educação, pois "os professores não têm colaborado" e a maioria deles "vive de atestado médico".
Se tivéssemos feito como bem disse Pitágoras (Eduquemos as crianças para que mais tarde não sejamos obrigados a castigar os adultos), talvez tivéssemos pessoas de melhor caráter governando nosso país.
E assim caminha a humanidade: sem conhecer os princípios básicos da Educação!... À parte esses lastimáveis problemas, desejo a todos aqueles que exercem, com amor à profissão, a ARTE DE ENSINAR e passam aos jovens esses princípios básicos, mesmo levando socos e ponta-pés, um felicíssimo DIA DO PROFESSOR.
MEUS VERSOS LÍRICOS


A ARTE DE SER PROFESSOR
(Joésio Menezes)

Trago nas mãos um pedaço de giz
E com ele vou traçando metas,
Desenhando signos, riscando retas
E descobrindo o quanto sou feliz.

Vou ensinando que nos vários Brasis
Tivemos guerras violentas e discretas,
Tivemos reis, escravos, poetas
Que fizeram a história do nosso país.

Trago nas minhas calejadas mãos
A responsabilidade de formar cidadãos
E a esperança de um futuro promissor.

E em meio a tantos me vem a certeza:
Surgirá alguém que tenha a nobreza
De continuar a arte de ser Professor.


MENSAGEM AO POETA
(Joésio Menezes)

Em teu Catavento, em teu Devaneios
Encontramos o teu grande mister,
Escrever bem sobre assuntos quaisquer
Sem balelas, sem medo, sem rodeios.

Mas quando o tema se refere a seios,
Minissaia ou decote ou mulher,
Tua caneta escreve o que bem quer
E os teus olhos revelam teus anseios.

Se Cruz e Sousa por aqui passasse
E uma mensagem para ti deixasse,
Ele provavelmente escreveria:

“Nos teus versos tu’alma transparece...
E da tal sorte que o bom Deus parece
Viver feliz co’a tua poesia”.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL



EDUCAÇÃO – UM DESTINO MAGISTRAL?
(Xiko Mendes)


Patriota anônima, sonhadora aventureira,
Ela seguia pela cidade ensinando a vida:
Era a pequena notável menina carvoeira!
Fazia do carvão o giz na escola esquecida.

Artesão da palavra! Sobrevivente do sertão!
Com fé abnegada e a sua rotina franciscana,
Suas lições, como sangue jorrando no coração,
Inundavam vasos comunicantes da grei humana.

Cada letra ensinada era um mundo que se abria
E, mostrando ao analfabeto porque ele não sabia,
Revolucionou a sociedade com seu carvão vegetal.

Essa mineradora de sonhos com aura de pioneira,
Que educou seu povo de quem foi líder verdadeira,
Morreu sem troféu semeando a consciência social.


QUERIDO PROFESSOR
(Narcélio Lima)

As palavras que aprendi
Os problemas que resolvi
O tempo não apagou.

Os erros que cometi
Os medos que aqui vivi
Isto se superou.

Hoje mais firme eu sigo
É por isso que vos digo
Com todo meu fervor:

Levarei sempre comigo
Esse seu olhar amigo
Meu querido professor.
RESENHA LITERÁRIA


CONFISSÕES DE UM VIRA-LATA
(Orígenes Lessa)

Jogando com fino senso de humor e uma rica imaginação, Orígenes Lessa leva o leitor, com muita sutileza e ironia, a ver o mundo através dos olhos de um humilde cachorro, anônimo e sem dono.
Uma história tocante, ora divertida, ora séria, que nos faz pensar como tantas coisas que nos parecem banais, muitas vezes não o são.
Você sabia que cachorro pode sentir mais gratidão do que gente?
Ainda que seja apenas um vira-lata sem nome e sem dono, cachorro ganha de quase todos em compreensão e solidariedade. Veja o que aconteceu com este, que, salvo da carrocinha, fez o possível e o impossível a fim de que compreendessem que ele compreendia.

(Fonte: www.lencoispaulista.sp.gov.br)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


ORÍGENES LESSA
(Fonte: www.releituras.com)

Orígenes Lessa nasceu em Lençóis Paulista, a 12 de julho de 1903. Colaborou e trabalhou em diversos veículos de comunicação, tendo feito sua estréia nos jornaizinhos escolares, com 12 ou 13 anos. Tentou, sem continuidade, diversos cursos superiores. Ingressou como tradutor no Departamento de Propaganda da General Motors, que teria grande influência na sua vida profissional: tornar-se-ia um dos publicitários de maior renome do País. Tomou parte ativa na Revolução Constitucionalista em 1932. Em 42, fixou-se em Nova York trabalhando no Coordinator of Inter-American Affairs, tendo sido redator da NBC em programas irradiados para o Brasil. Regressou ao Rio de Janeiro em meados de 43. Escritor, com uma obra bastante extensa, publicou, entre outros: Rua do Sal (Prêmio Carmen Dolores Barbosa — romance); O Escritor proibido (contos); Garçon, Garçonette, Garçonnière (menção honrosa da Academia Brasileira de Letras); O Feijão e o Sonho (romance — Prêmio António de Alcântara Machado, 15 edições com mais de 200.000 exemplares vendidos); 9 Mulheres (contos — Prêmio Fernando Chinaglia); O Evangelho de Lázaro (romance — Prêmio Luíza Cláudia de Souza do Pen Club do Brasil, 1972); e Beco da Fome. Incursionou pela literatura infanto-juvenil com muito sucesso, publicando oito ou dez volumes, um dos quais, Memórias de um Cabo de Vassoura, bateu a vendagem de O Feijão e o Sonho. Seus contos têm sido traduzidos para o inglês, espanhol, romeno, tcheco, alemão, árabe, hebraico, e várias vezes radiofonizados, não só no Brasil, mas também na Polônia.
Faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de julho de 1986. Foi eleito em 9 de julho de 1981 para a Cadeira n. 10 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Osvaldo Orico. Casado com Elsie Lessa, jornalista, é pai do escritor Ivan Lessa.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

UM DEDO DE PROSA


OS EFEITOS DO CALOR

É!... parece que o mundo está prestes a derreter (ou seria melhor dizer "nossos miolos"?) de tão quente que está o tempo!...
Desde as primeiras horas da manhã o calor é insuportável. E assim, estende-se por todo o dia e segue noite adentro. O suor escorre-nos por todo o corpo poucos minutos após "sairmos do chuveiro".
A fadiga toma conta de todos, provocando em alguns indisposição e, às vezes, mau-humor. Falta-nos, inclusive, apetite (fica a critério de cada um interpretar que tipo de apetite!...).
Copos e mais copos de água ingerimos, mas a sede persiste.
Nas salas de aula, os alunos têm menos interesse em aprender (não os culpo por isso); os professores, menos vontade de ensinar; todos, mais pressa de irem para casa.
O que será que está acontecendo?... Terá a Terra subido?... Ou será que o Sol desceu?...
Ah!... deu-me, agora, uma vontade de tomar um sorvete!...
MEUS VERSOS LÍRICOS



MULHER DE MEIA IDADE
(Joésio Menezes)



Quando buscares a felicidade,
Procura a quem saiba dar-te.
E sabes quem é mestra nessa arte?
A mulher de meia idade.

Ela te ensinará com dignidade
Como empunhar o teu estandarte,
Que te servirá de baluarte
Em teus momentos de majestade.

Os gozos serão em demasia,
E a felicidade terás, dia após dia,
Sem que te canses de implorar:

“- Ama-me, faze-me feliz,
Esta é a vida que eu sempre quis,
Porém, não sabia onde encontrar”.

(Nas Asas da Poesia, Brasília, 1998, p.40)


INANIMADO
(Joésio Menezes)

O meu grande vício é você,
E sem você não sou nada.
Sinto-me debater
Como um peixe fora d’água.

Sinto-me o mais infeliz dos homens,
Um cão abandonado...
Sinto-me completamente sem rumo,
Um soldado derrotado.

Uma fauna sem vida,
Um pássaro que não sabe voar,
Uma estrela decadente,
Uma noite sem luar.

Uma criança que não sorri,
Um homem atordoado,
Uma árvore sem raiz,
Um ser inanimado...

(Nas Asas da Poesia, Brasília, 1998, p.69)
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


CÍRCULO VICIOSO
(Machado de Assis)

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"
Mas a lua, fitando o sol com azedume:

"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume"!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta luz e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?"...


A CIGANINHA
(Miguel de Cervantes)

Quando Preciosa a pandeireta toca,
e fere o doce som os ares vãos,
pérolas são que espalha com suas mãos,
flores são que arremessa de sua boca.

A alma fica suspensa, a mente louca
aos atos sobrehumanos sem ação,
que por limpos, honestos e por sãos
sua fama lá no céu mais alto toca.

Pendentes do menor de seus cabelos
mil almas leva, e ajoelhado tem
Amor, que uma e outra flecha aos pés lhe deita:

cega e ilumina com seus raios belos,
seu trono Amor por eles se mantém,
e mais grandezas de seu ser suspeita.
CRÔNICA DA SEMANA


GESTOS E PALAVRAS
(Joésio Menezes)

Naquele fim de tarde eu passeava pelos desertos corredores da escola à procura de algo que não sei ao certo dizer o que era, porém algo que pudesse inspirar-me alguns versos ou quem sabe uma crônica.
Nada de estranho, de extraordinário, de fantástico ocorria. Nada que pudesse chamar-me a atenção e dispersar-me dos meus pensamentos.
Somente o silêncio se ouvia. Um silêncio assustador, tenebroso, entediante...
Nem sequer uma alma penada além da minha perambulava pelos arredores. Nem sequer os indesejáveis e insuportáveis pernilongos de verão para incomodar-me!... Nem unzinho sequer para desentediar aquele crepúsculo monótono!
Quando meus passos cadenciados levavam-me de volta à sala dos professores, ouvi lá ao longe, no final do corredor, alguns burburinhos seguidos de risos pueris. Dei meia-volta e fui ao encontro daqueles murmúrios.
Sem ser percebido, aproximei-me da sala e avistei o pequeno grupo de alunos que, aproveitando-se da ausência da professora, rompera aquele fúnebre silêncio.
Curioso e sorrateiramente, me dirigi até a janela e me pus a ouvir o que diziam, a observar o que faziam, a interpretar o que acontecia...
Sem notarem que estavam sendo observados, os meninos gastavam seu repertório de vocábulos tipicamente adultos, os quais vinham seguidos de gestos nada inocentes para a idade daqueles jovens “conferencistas”.
Falavam e gesticulavam como se fossem profundos conhecedores do assunto. Gesticulavam e falavam como se, precocemente, estivessem pulado as etapas da natureza humana que ficam entre a pré-adolescência e a fase adulta.
Autorizo-me a dizer somente sobre qual tema eles debatiam: MULHERES; porém reproduzir aqui o que diziam não posso, pois para alguns leitores tornar-se-á imprópria tal reprodução uma vez que as palavras proferidas por aqueles precoces “adultos” eram mais horripilantes que o silêncio que por eles fora quebrado.
RESENHA LITERÁRIA


VIDAS SECAS
(Graciliano Ramos)

O livro retrata a vida de pessoas que vivem no sertão brasileiro e o sacrifício delas para sobreviver. Tendo como tema a luta pela sobrevivência diante do flagelo da estiagem, o autor traz em seus personagens muito da alma nordestina nos traços de Fabiano e sua familia.
Foi publicado em 1938 e aborda a problemática da seca e da opressão social no NordestedoBrasil. Ao contrário dos romances anteriores, é uma narrativa em terceira pessoa, com o discurso indireto livre predominante, com a finalidade de penetrar no mundo introspectivo dos personagens já que esses não têm o dominio da linguagem necessário para estabelecer a comunicação.
O romance tem um caráter fragmentário. São "quadros", episódios que acabam se interligando com uma certa autonomia. Como coloca o críticoAffonso Romano de Sant’Anna: "Estamos sem dúvida, diante de uma obra singular onde os personagens não passam de figurantes, onde a história é secundária e onde o próprio arranjo dos capítulos do livro obedece a um critério aleatório".
Os principais personagens são: Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais Velho, Menino mais Novo, a cachorra (Baleia) e o papagaio, que a família come para aliviar a fome.

(Fonte: Wikipedia)
GRANDES NOMES DA LITERATURA


GRACILIANO RAMOS
(Fonte: www.brasilescola.com)

Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo (AL), em 1892, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1953. Fez os primeiros estudos no interior de Alagoas e tentou o jornalismo no Rio de Janeiro. Regressou a Palmeira dos Índios (AL), cidade da qual foi prefeito em 1928, renunciando ao cargo dois anos depois e passando a dirigir a Imprensa Oficial do Estado.
Em 1933, foi nomeado Diretor da Instrução Pública. Por suspeita de ligação com o comunismo, foi demitido e preso em 1936. Remetido ao Rio de Janeiro, permaneceu encarcerado na Ilha Grande, onde escreveu Memórias do Cárcere. Em 1945, aderiu ao Partido Comunista Brasileiro.
De maneira geral, seus romances caracterizam-se pelo inter-relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa, “enxuta” e despojada, de períodos curtos, mas de grande força expressiva.
Seu romance de estréia, Caetés(1933), gira em torno de um caso de adultério ocorrido numa pequena cidade do interior nordestino e não está à altura das obras subseqüentes.
Suas principais obras são: Caetés(1933); São Bernardo(1936); Vidas Secas(1938); Insônia(1947); Infância(1945); Memórias do Cárcere(1953); Linhas Tortas(1962) e Viventes das Lagoas(1962). As duas últimas obras foram publicadas postumamente.
Graciliano Ramos também contribuiu para a literatura infantil escrevendo Histórias de Alexandre(1944) e Histórias Incompletas(1946).