segunda-feira, 6 de outubro de 2014

UM DEDO DE PROSA

EMPORCALHAMENTO ELEITORAL


            Ontem, após exercer o meu papel de cidadão, fiquei ali, parado na esquina, observando o entra e sai de eleitores na escola em que votei. E de cada 10 pessoas que de lá saíam, pelo menos duas escorregavam nos “santinhos” e panfletos jogados pelo chão. Aliás, havia mais santinhos e panfletos que chão propriamente dito!...
            Lá pelas tantas, alguém não conseguiu equilibrar-se após o escorregão e caiu de pernas pro ar. Era uma jovem. E, felizmente, nada de mal lhe aconteceu; apenas um pequeno prejuízo material: a tira de uma das sandálias quebrara-se, e ela fora obrigada a voltar para casa com os pés descalços.
            Mas se o moça tivesse sofrido alguma lesão grave, quem seria responsabilizado?... A quem seus familiares deveriam recorrer?... Qual seria a punição aplicada aos políticos que, por meio dos seus cabos eleitorais, emporcalharam a cidade, colocando em risco a integridade física dos transeuntes?...
            Sem respostas para essas perguntas, sacudi a cabeça negativamente e retornei para casa, preocupado com o que poderia ter acontecido se fosse um idoso em vez daquela moça.
            Espero que no próximo dia 26 de outubro, os cabos eleitorais dos que disputarão o segundo turno tenham mais consciência e não emporcalhem tanto a nossa cidade, pois assim as ruas ficarão mais bonitas durante a celebração dessa grande festa democrática chamada ELEIÇÕES. E o melhor: ninguém correrá o risco de sair da seção eleitoral levado por uma ambulância.
MEUS VERSOS LÍRICOS

CENHO...
(Joésio Menezes)

Não sei se choro ou se rio,
Não sei se canto ou danço,
Mas sei que num canto vazio
Desse Universo gentil
Encontrarei meu remanso.

Não sei se falo ou me calo,
Não sei se solfejo ou canto,
Mas sei que no intervalo
Entre solfejar ou cantá-lo,
Ignorarei o meu pranto.

Se choro, razões não acho;
Se rio, motivos não tenho.
Mas quando canto, despacho
Minhas dores pro diacho
Sem macular o meu cenho.


APAIXONADA MENTE
(Joésio Menezes)

Minha louca mente mente
Para o meu coração
Que displicentemente
Vive como indigente
Por causa duma paixão.

E quase constantemente
As dores dessa paixão
Alucinam minha mente
Deixando-a tão demente
Que me foge a razão.

Por isso, dificilmente
O meu pobre coração
Resistirá bravamente
Às dores impertinentes,
Causadas pela paixão.

E eu, indiferentemente,
Luto pela absolvição
Da minha insana mente
Que, apaixonadamente,
Mente ao meu coração
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

LÁPIDE
(Ariano Suassuna)

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.

Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.

Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido

que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!


O CHUMBO VERMELHO
(Ádyla Maciel)

Verde, yellow e vermelho sangue
São as cores do meu país
Lembram da aquarela de 1964?
Jovens amarrados
nos carros arrastados
Sofrendo escoriações pelo corpo
Nesse ano de hoje: 2014
Aconteceu de novo!
pendurada pela blusa
na viatura da polícia
Cláudia foi morta arrastada,
deixando filhos e lágrimas
Gritos vindos do Ipiranga
margens de sangues e façanhas
Hoje Pinto com vermelho a história dos capitães
Lembranças da morte de José Guimarães ...
Oh Deus dos deuses! Mude o traço de meu pincel.
O que é o inferno? O que é o céu?
Quem nos livrará da cadeira do dragão?
Salve-nos das brasas !
Que eu seja filha de tua luta
Quem nos livrará do pau-de arara?
Que nós sejamos a bussola
E que eles sejam nossos líderes de busca
Sejamos nós mais fortes abrasileirados do brasão de força feliz
Verde, yellow e branco sãos as cores do meu país.
CRÔNICA DA SEMANA

NÃO ERA APENAS UMA FOLHA DE PAPEL JOGADA AO VENTO
(Aline Menezes)

Considero desafiador dar aula de literatura, ainda mais porque sei o quanto as pessoas são equivocadas sobre esse tipo de manifestação artística. Muitos acham que ser professora de literatura é ficar recitando poesia em sala de aula. Ou é falar de amenidades para tornar a vida mais feliz (talvez isso seja sarau ou autoajuda, mas nunca literatura). I'm sorry!
Confesso que um pouco desmotivada, buscando estratégias de envolvimento dos meus alunos no que acredito e entendo ser literatura, propus algo em sala, que levou menos de cinco minutos para ser realizado. Ao perceber que eles não haviam compreendido conceitos importantes para os nossos estudos literários, pedi para que todos observassem o que eu iria fazer em seguida. Então disseram: – VIMOS que a senhora lançou uma folha de papel no chão. Logo depois, pedi para que fechassem os olhos e fiz o mesmo movimento, e perguntei o que eles haviam notado. Eles disseram que me OUVIRAM jogar o papel no chão. Por fim, eu pedi para que tapassem os ouvidos, fechassem os olhos e prestassem atenção no que eu iria fazer. Os alunos que estavam mais próximos de mim disseram que SENTIRAM que eu havia arremessado a folha de papel em algum lugar... Isso, sim, faz-me pensar em literatura.
São muitos estágios que precisamos avançar para compreendermos, por meio da arte literária, a vida e a nós mesmos.
Eu até posso ensinar os alunos a ouvir e a ver determinadas coisas nas obras literárias, mas não posso ensiná-los a sentir a vida com mais profundidade, a menos que eles mesmos se disponham a descobrir e a perceber, ainda que não vejam... a descobrir e a perceber, ainda que não ouçam...