CRÔNICA DA SEMANA
NÃO ERA APENAS UMA FOLHA DE PAPEL JOGADA
AO VENTO
(Aline Menezes)
Considero
desafiador dar aula de literatura, ainda mais porque sei o quanto as pessoas
são equivocadas sobre esse tipo de manifestação artística. Muitos acham que ser
professora de literatura é ficar recitando poesia em sala de aula. Ou é falar
de amenidades para tornar a vida mais feliz (talvez isso seja sarau ou
autoajuda, mas nunca literatura). I'm sorry!
Confesso que um
pouco desmotivada, buscando estratégias de envolvimento dos meus alunos no que
acredito e entendo ser literatura, propus algo em sala, que levou menos de
cinco minutos para ser realizado. Ao perceber que eles não haviam compreendido
conceitos importantes para os nossos estudos literários, pedi para que todos
observassem o que eu iria fazer em seguida. Então disseram: – VIMOS que a
senhora lançou uma folha de papel no chão. Logo depois, pedi para que fechassem
os olhos e fiz o mesmo movimento, e perguntei o que eles haviam notado. Eles
disseram que me OUVIRAM jogar o papel no chão. Por fim, eu pedi para que
tapassem os ouvidos, fechassem os olhos e prestassem atenção no que eu iria
fazer. Os alunos que estavam mais próximos de mim disseram que SENTIRAM que eu
havia arremessado a folha de papel em algum lugar... Isso, sim, faz-me pensar
em literatura.
São muitos
estágios que precisamos avançar para compreendermos, por meio da arte
literária, a vida e a nós mesmos.
Eu até posso
ensinar os alunos a ouvir e a ver determinadas coisas nas obras literárias, mas
não posso ensiná-los a sentir a vida com mais profundidade, a menos que eles
mesmos se disponham a descobrir e a perceber, ainda que não vejam... a
descobrir e a perceber, ainda que não ouçam...
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