quarta-feira, 29 de julho de 2009

UM DEDO DE PROSA


PULSE: VIAGEM AO MUNDO DO IMAGINÁRIO

Outro dia, assistindo ao DVD “Pulse”, de Pink Floyd, fiz uma viagem ao Mundo Encantado e Fascinante do Imaginário. Nessa viagem, passei por lugares que ficam muito além da minha imaginação.
Lá, encontrei Eros envolto nos braços de Psiquê, Tristão aos beijos com Isolda, Páris de mãos dadas com Helena de Tróia; Pigmaleão descansando no colo de Galatéia; Bentinho afagando os cabelos de Capitu sob o olhar atento e enciumado de Escobar e Zeus trocando carícias com as Titãnides enquanto Afrodite esbanjava sua beleza sedutora pelos bosques do Olimpo. E todos eles aproveitavam-se do sono pesado em que se encontrava Morfeu, que sonhava com Nyx, a deusa da noite, sobre uma cama feita de ébano.
A cada música que ouvia, eu transportava-me a um lugar diferente e deparava-me com uma cena cada vez mais fascinante.
Num determinado momento, lá pela metade do DVD, eu me vi adentrando no bosque encantado do Olimpo. E durante o longo e inebriante percurso, borboletas e colibris me acompanhavam até o trono de Selene, a deusa grega da Lua, pois ela precisava segredar-me algo. E antes que ela pudesse me contar seu segredo, senti um suave toque no meu ombro direito: era minha deusa de ébano, Benedita, com um lindo sorriso no rosto, chamando-me para deitar na cama, pois ali, com a cabeça sobre o braço do sofá, eu poderia ficar com o pescoço dolorido.
MEUS VERSOS LÍRICOS


ANJO LOIRO
(Joésio Menezes)

Se Deus nos permitisse
escolher nosso Anjo da Guarda,
certamente eu te escolheria,
meu Anjo Loiro,
mesmo sabendo que jamais
poderia tocar-te, desejar-te, amar-te...

Mesmo sabendo da impossibilidade
de ver-te, de sentir teu perfume,
de inebriar-me com a tua sensualidade,
com a libido do teu riso,
com a timidez despudorada do teu olhar,
escolher-te-ia para estar ao meu lado
guiando-me, iluminando-me, inspirando-me...

Mas, infelizmente, isso não é possível,
pois os anjos não se misturam aos mortais,
a não ser para guiá-los, iluminá-los, protegê-los...
Contentar-me-ei, então,
com o que reservou-me Deus:
saber que os anjos existem e que aí estão
para nos guiarem, nos iluminarem,
nos protegerem;
o suficiente para se ter a certeza
que, vez ou outra, terás olhos para mim.


A DANÇA DAS FLORES
(Joésio Menezes)

O vento sopra as flores,
e elas, em êxtase, dançam...
Dançam com sensualidade,
mostrando toda satisfação que sentem
ao serem tocadas, acariciadas,
cortejadas pelo vento...

E com a sua dança seduzem os colibris
que, enfeitiçados, invadem o jardim,
roubam-lhes um beijo e fogem...
Embriagados de desejo, retornam
e recomeçam sua coreografia
até roubarem mais e mais beijos
daquelas que, como você,
embelezam a minha vida.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


DOIS QUADROS
(Patativa do Assaré)

Na seca inclemente do nosso Nordeste,
O sol é mais quente e o céu mais azul
E o povo se achando sem pão e sem veste,
Viaja à procura das terra do Sul.

De nuvem no espaço, não há um farrapo,
Se acaba a esperança da gente roceira,
Na mesma lagoa da festa do sapo,
Agita-se o vento levando a poeira.

A grama no campo não nasce, não cresce:
Outrora este campo tão verde e tão rico,
Agora é tão quente que até nos parece
Um forno queimando madeira de angico.

Na copa redonda de algum juazeiro
A aguda cigarra seu canto desata
E a linda araponga que chamam Ferreiro,
Martela o seu ferro por dentro da mata.

O dia desponta mostrando-se ingrato,
Um manto de cinza por cima da serra
E o sol do Nordeste nos mostra o retrato
De um bolo de sangue nascendo da terra.

Porém, quando chove, tudo é riso e festa,
O campo e a floresta prometem fartura,
Escutam-se as notas agudas e graves
Do canto das aves louvando a natura.

Alegre esvoaça e gargalha o jacu,
Apita o nambu e geme a juriti
E a brisa farfalha por entre as verduras,
Beijando os primores do meu Cariri.

De noite notamos as graças eternas
Nas lindas lanternas de mil vagalumes.
Na copa da mata os ramos embalam
E as flores exalam suaves perfumes.

Se o dia desponta, que doce harmonia!
A gente aprecia o mais belo compasso.
Além do balido das mansas ovelhas,
Enxames de abelhas zumbindo no espaço.

E o forte caboclo da sua palhoça,
No rumo da roça, de marcha apressada
Vai cheio de vida sorrindo, contente,
Lançar a semente na terra molhada.

Das mãos deste bravo caboclo roceiro
Fiel, prazenteiro, modesto e feliz,
É que o ouro branco sai para o processo
Fazer o progresso de nosso país.
CRÔNICA DA SEMANA


JEITO DE SER
(Marta Medeiros)

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam; nas pessoas que escutam mais do que falam, e quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca. É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas; nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece; é quem presenteia fora das datas festivas; é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais; não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao de outro...
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais; é elegante retribuir carinho e solidariedade.
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social. É só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que com amigo não tem que ter estas frescuras. Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso. E, detalhe, não é frescura!...

terça-feira, 21 de julho de 2009

UM DEDO DE PROSA


ANARQUIA “MADE IN ENGLAD”

Eu havia decidido a não mais escrever aqui o que não estivesse relacionado à literatura, mas as circnstâncias me levaram a quebrar a minha promessa.
Não bastassem os milhares de toneladas de lixo produzidos diariamente em nosso país e os “lixos humanos’ que aqui volta e meia são exilados, cerca de 80 contêineres contendo mais de 1.400 (mil quatrocentas) toneladas de lixo vindos da Inglaterra foram encontrados no Brasil.
De acordo com a Rede BBC de Londres, “a Agência Britânica de Meio Ambiente informou que os governos dos dois países estão negociando a repatriação do lixo, mas alertou que a liberação da carga pode demorar algumas semanas devido a entraves burocráticos. O órgão abriu investigação sobre a procedência do lixo, que teria sido exportado ilegalmente por duas empresas britânicas e, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), são elas a Worldwide Biorecyclabes e a UK Multiplas Recycling, ambas do brasileiro Julio Cesar Rando da Costa, que mora em Swindon, Inglaterra”.
“Os governos dos dois países estão negociando a repatriação do lixo”?... E há a necessidade de se estudar a “repatriação” de algo que não foi solicitado por nós tampouco fomos comunicados sobre a sua “exportação” para cá? É, parece até brincadeira!...
Até quando os governantes continuarão abaixando a cabeça para o desrespeito desses países intitulados “países de 1º mundo” para como nosso país? Até quando estaremos sujeitos aos mandos e desmandos das cortes Estadunidense e Britânica e ao que rege a "Cartilha" da União Europeia?
Se tivéssemos uma política mais rigorosa no que diz respeito ao que passa pelos portos, aeroportos e alfândegas; se não temêssemos tanto os conflitos diplomáticos; se fôssemos mais exigentes com relação à documentação do que ou de quem chega ao nosso país; se não aceitássemos o rótulo de “país tupiniquim”, se soubéssemos bem-usufruir do nosso patrimônio natural e de tudo que ele nos oferece, talvez fôssemos mais respeitados pelas “grandes potências” mundiais e pelo restante do mundo; talvez fôssemos hoje a maior potência econômica e política do Planeta.
Mas enquanto isso não acontece, continuemos acreditando que o homem foi à Lua e que a “Coroa Inglesa” é um exemplo de Monarquia acima de qualquer suspeita, sem nos esquecermos, porém, de lutar contra o regime Anárquico que há anos querem nos impor.
MEUS VERSOS LÍRICOS


UM CERTO MALUCO BELEZA
(Joésio Menezes)

O “medo da chuva”
Me fez pegar “o trem das 7”
Com destino à “Rua Augusta”,
Pois eu e o “meu amigo Pedro”
Iríamos à “sessão das 10”
Ver “as minas do rei Salomão”
No cine “Novo Aeon”
Da praça da “Liberdade”.

Mas o “Maluco Beleza”
Esqueceu “a hora do trem passar”
E foi de “disco voador”
A casa da “menina de Amaralina”,
Que fica “à beira do Pantanal”,
E lá ficaram “fazendo o que o diabo gosta”
Até “o dia em que a Terra parou”,
Sob o olhar de “um Messias indeciso”...

“Não fosse Cabral”, “moleque maravilhoso”
Vizinho do “cowboy fora da lei”,
Essas “coisas do coração” que “eu acho graça”
Tornariam a “paranóia” dos “anos 80”
Numa “metamorfose ambulante”
Em busca do “ouro de tolo”
Enterrado “no fundo do quintal da escola”
Pelo “meu amigo Raul”.


SAUDADES
(Joésio Menezes)

A distância me encheu de saudades...
Saudades de ti... Saudades do teu cheiro
Que suavemente paira no ar.

Saudades do teu corpo colado ao meu.
Saudades dos teus beijos, das tuas carícias,
Dos teus chamegos, do teu meigo olhar...

Saudades do teu sorriso, dos teus lábios rijos,
Dos teus sussurros desejosos,
Do teu jeito manso de falar...

Saudades dos nossos olhares fogosos.
Saudades do teu suor, do teu calor,
Da nossa amizade, do nosso amor...

Saudades que me fizeram delirar.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


AS DUAS FLORES
(Castro Alves)

São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.


Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!


TOLERÂNCIA
(Vivaldo Bernardes)

Cá do alto dos meus oitenta e um
eu contemplo o passado já distante
e reflito se a trabalho algum
não pudera entregar-me mais constante.

Passam os anos e o tempo se prolonga,
noite e dia, dia e noite no infinito.
Nada muda na vida que se alonga,
na rotina me canso e me agito.

Entretanto, no extremo eu já me acho,
ingerindo tamanha insipidez
que por pouco ao chão não me agacho.

Mas enquanto o Juiz não apitar,
terminando o Jogo de uma vez,
lutarei aprendendo a tolerar.
CRÔNICA DA SEMANA


O CASTELÃO DE EDMAR E O FEUDALISMO
(Arnaldo Jabor)

Eu acho que o castelo do Edmar é um bom prenúncio para o Brasil.
O nosso presidencialismo é esse pântano de alianças espúrias que impedem qualquer governo.
O parlamentarismo prejudica a deliciosa política de chantagem ao Executivo.
Assim, Edmar é um precursor do regime ideal para nós: o feudalismo.
E nem precisamos dividir o Brasil em feudos, pois já o é.
Vejam as terras do barão Sarney. Seu castelo da ilha de Curupu, no Maranhão.
E o sucerano Renan, do feudo de Murici, de onde ele comanda fazendas imaginárias e bois abstratos.
Sem falar claro, no grão senhor Niltão Cardoso que amialhou mais de cinco bilhões em seus tesouros mineiros.
O castelão de Edmar realiza o sonho de centenas de políticos. É perfeito. Cada feudo teria suas aldeias miseráveis envolta, exatamente como é agora, os servos pagariam impostos e prestariam serviços à nobreza e nas guerras iriam morrer por seus senhores.
Não precisaríamos mais de Câmaras de Deputados, senadores, essas hipocrisias democráticas.
Haveria até o melhor nos feudos do Brasil que é o direito de pernada. Virgem que casa, primeiro passa a noite na cama do castelão, enquanto os bobos da corte cantam e riem.
Boa idéia do Edmar! E nem precisa empregar bobos da corte… Bobos somos nós!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

UM DEDO DE PROSA


MEU PROTESTO

Em protesto a tudo de ruim que vem acontecendo no mundo e, principalmente, em nosso país (miséria, crise econômica, risco de guerra nuclear, conflitos civis, epidemias, abusos de poder, “atos secretos”, balas perdidas, pedofilia, corrupção...), resolvi não escrever nada esta semana pelo simples fato de não encontrar inspiração para redigir algo bonito ou que prenda a atenção do leitor.
Resolvi nada escrever porque se isso eu fizer, colocarei para fora tudo de ruim que penso acerca do momento político-social por que passamos, e isso não é o que espera o fiel leitor que semanalmente por aqui passa. Ele espera encontrar textos que o façam refletir ou que alegrem (ou amenizem) as angústias do seu coração; ele espera aqui encontrar o que de melhor temos a oferecer no que diz respeito à literatura brasileira e universal; ele espera que este espaço seja mais uma opção de entretenimento.
Enfim, não posso eu fazer do PORTAL DA POESIA um portal político-sensacionalista. Deixo essa função a cargo dos “jornalecos” que circulam por aí.
Bem ou mal, seguirei eu na mesma vertente de outrora: escrevendo e/ou postando sobre o universo literário, do qual fazem parte as deusas, ninfas e musas do Olimpo em que vivemos.
MEUS VERSOS LÍRICOS (?)



INCREDULIDADE
(Joésio Menezes)


Dizem que Adão foi feito de barro
E Eva, da costela de Adão;
Dizem que quem inventou o avião
Tinha medo de andar de carro.


Dizem que do símio o homem é descendente
E que um dia pisou em solo lunar;
Dizem que flutuou sobre as águas do mar
A arca de Noé, cheia de bichos e gente.

Dizem que antes de o mundo acabar
Jesus Cristo ainda vai voltar,
E com Ele, a nossa salvação.

Também dizem que “tudo vale a pena
Se a alma não é pequena”,
Mas tudo que dizem parece em vão.


DILEMA
(Joésio Menezes)

Desculpe-me o dilema, caro leitor,
Mas na vida do homem isso é comum.
Não sei se quero ser mais um
A trocar o ócio pelo labor.

Não sei se prefiro o frio ao calor,
Não sei se como caviar ou jerimum,
Não sei se muito dinheiro ou nenhum,
Não sei se “transo” ou se faço amor.

Não sei se a vida é mesmo minha
Ou se a dúvida que me definha
É abstrata ou é concreta.

Não sei se jogo na loteria...
Não sei se me caso algum dia
Ou se compro uma bicicleta.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


VIOLETA
(Casimiro de Abreu)


Sempre teu lábio severo
Me chama de borboleta!
- Se eu deixo as rosas do prado
É só por ti - violeta!

Tu és formosa e modesta,
As outras são tão vaidosas!
Embora vivas na sombra
Amo-te mais do que às rosas.

A borboleta travessa
Vive de sol e de flores...
- Eu quero o sol de teus olhos,
O néctar dos teus amores!

Cativo de teu perfume
Não mais serei borboleta;
- Deixa eu dormir no teu seio,
Dá-me o teu mel - violeta!


POEMA DO AMOR ARDENTE
(J. G. de Araújo Jorge)

Gosto de ti
Desesperadamente;
Dos teus cabelos de tarde
Onde mergulho o rosto,
Dos teus olhos de remanso
Onde me morro e descanso,
Dos teus seios de ambrosias
Brancos, manjares, trementes,
Com dois vermelhos morangos
Para as minhas alegrias.

Do teu ventre - uma enseada
Porto sem cais e sem mar,
Branca areia a espera da onda,
Que em vai e vem vai se espraiar,
Dos teus quadris, instrumento
De tantas curvas, convexo,
Das tuas coxas que lembram
As brancas asas do sexo.

Do teu corpo, só de alvuras,
Das infinitas ternuras,
De tuas mãos, que são ninhos
De aconchegos e carinhos
Mãos agora, que parecem
Que só de carícias tecem
Esses desejos da gente...

Gosto de ti
Desesperadamente!

Gosto de ti, toda inteira,
Nua, nua, bela, bela,
Dos teus cabelos de tarde,
Aos teus pés de Cinderela,
(há dois pássaros inquietos
em teus pequeninos pés)

- gosto de ti, feiticeira,
gosto tal como tu és...
CRÔNICA DA SEMANA


TROQUE O CELULAR POR UMA GALINHA GORDA
(Xico Sá)

O glorioso inventor da ansiedade, Alexander Graham Bell (1847-1922), deve se arrepender até hoje da sua patente telefônica. (Como Santos Dumont, dândi brasileiro em Paris, que maldisse do seu próprio brinquedo ao vê-lo nos céus da guerra).
Nestes tempos em que celular virou brinco, eternamente colado às "oiças" de madames, de moçoilas, de executivos e de modernos em geral, uma reflexão recente de dona Maria do Socorro, brava sertaneja, mãe deste que vos berra, vem como pílula mais do que apropriada: "Conheci teu pai, namorei, casei, engravidei de todos vocês, criei minha família, cuidei de tudo direitinho, graças a Deus não morreu nenhum... E nunca precisei dar ou receber um telefonema, nem unzinho mesmo!".
Mulher do sertão, que só pegou em um telefone depois dos 50 anos, anda revoltada com parentes e amigas que vivem grudados ao celular. "Tá todo mundo de pescoço torto, cabeça decaída para um lado, parecendo frei Damião, por causa dessa moda nova. Ora, voltem a pôr as cadeiras nas calçadas, na frente das casas, e vão conversar sem o diacho desses aparelhos."
A máxima aceleração de ansiedade à qual dona Socorro submeteu os seus batimentos cardíacos foram os berros do carteiro.
A lamúria da falta do telefonema do dia seguinte, protesto do novo código do bom-tom das moças, também é situação nunca dantes vivida. Sem a invenção do velho Graham Bell, o dia seguinte nascia sob aurora mais sossegada.
Antigamente, tudo dependia mesmo da dramaturgia do encontro. A onipresença amorosa e/ou comercial instaurada com o celular não era coisa deste mundo. Uma carta, no máximo, poderia ser uma estratégia, garrafa atirada ao mar de tantas Penélopes.
Um recado pelo rádio também valia, mas para casos de sumiços de verdade -cheguei a ser sub do sub-redator de programa do gênero, comandado pelo locutor Gevan Siqueira, na rádio Vale do Cariri, em Juazeiro, com recados amorosos e novelinhas à moda de "Tia Júlia e o Escrevinhador", de Vargas Llosa.
Deixemos de ser plantonistas do mundo. No amor, assim como nos negócios, não somos tão importantes a ponto de alimentar essa onipresença digital. Casanova amou centenas de mulheres sem precisar de um telefonema sequer.
No mundo dos negócios, muita gente também fez fortuna sem telefone, acreditando apenas no olho do dono como engorda caixa da bodega.
Quer jogar conversa fora, faça como a velha recomendação de um Jeca Tatu: "Mate uma galinha gorda no domingo e me convide para comer".

terça-feira, 7 de julho de 2009

UM DEDO DE PROSA


DE CRONISTA E LOUCO TODOS NÓS TEMOS UM POUCO

Se fôssemos dar ouvidos a tudo que se noticia nos tablóides e nos telejornais, certamente ficaríamos todos loucos, pois só o que se vê, se ouve ou se lê são notícias cuja alienação mental dos envolvidos contamina toda e qualquer mente em sã consciência.
Enquanto nos Estados (e no restante do mundo) ainda se fala no funeral de Michael Jackson, as notícias que vêm de Honduras preocupam as nações que lutam incessantemente por um regime democrático; enquanto o mundo clama por paz, os norte-coreanos fazem testes nucleares lançando mísseis pelo espaço; enquanto no Brasil ainda se comemora a indicação do país como sede da Copa do Mundo de futebol de 2014, os Senadores antecipam o recesso parlamentar, pois se sentem cansados após exaustivas discussões acerca dos “Atos Secretos”, os quais são inocentemente usados com o fraterno intuido de nomear parentes e amigos, criar cargos e aumentar seus próprios salários. Mas tão logo nossos Senadores (dignos representantes do povo) retornem do merecido descanso, as discussões sobre o referido assunto serão retomadas e as decisões “secretamente” engavetadas, que é para não nos causar transtorno.
E antes que digam que estou ficando louco, pois não estou falando “coisa com coisa”, encerro minhas palavras dizendo que enquanto a população anda em polvorosa por causa da gripe suína, eu ainda tenho esperança nos homens e tenho certeza que eles encontrarão uma solução para os problemas do mundo, se Deus assim permitir.
Mas enquanto essas soluções não chegam, remediemo-nos com o que temos de melhor em nosso país: a literatura.
MEUS VERSOS LÍRICOS



TRÊS ENCONTROS
(Joésio Menezes)

Apenas três encontros - não mais que isso -
Foram suficientes para abalar meu coração,
Para acender as chamas do meu tesão,
Para eu ficar encantado com o teu feitiço.


Para que o meu peito submisso
Transgredisse as normas da razão
E aceitasse os desmandos da paixão,
Deixando, assim, de ser castiço.

Para que eu deixasse de lado a timidez
E liberasse de mim – de uma só vez –
A inspiração, os desejos, a libido...

Apenas três encontros, nada mais,
Para me arrancarem incessantes ais
Sem que ao menos eu soltasse um gemido.


SONETO A CECÍLIA MEIRELES
(Joésio Menezes)

Se canto, não sou triste;
Se escrevo, dizem que sou poeta;
Se sei que o instante existe,
Sinto minha vida discreta.

Se não sinto gozo nem tormento,
Se sem “motivo” eu me desfaço,
Procurando versos no vento
Noites e dias em vão eu passo.

Se cantar para mim é tudo,
Talvez um dia ficarei mudo,
Porém calado hoje não fico...

Se das coisas fugidias não sou irmão,
Sei que esta poesia não é canção
E nesta certeza eu me edifico.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL



BUSCANDO A CRISTO
(Gregório de Mattos)

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.


A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.


A CONCHA E A VIRGEM
(Gonçalves Dias)

Linda concha que passava,
Boiando por sobre o mar,
Junto a uma rocha, onde estava
Triste donzela a pensar,

Perguntou-lhe: — "Virgem bela,
Que fazes no teu cismar?"
— "E tu", pergunta a donzela,
"Que fazes no teu vagar?"

Responde a concha: — "Formada
Por estas águas do mar,
Sou pelas águas levada,
Nem sei onde vou parar!"

Responde a virgem sentida,
Que estava triste a pensar:
— "Eu também vago na vida,
Como tu vagas no mar!

"Vais duma a outra das vagas,
Eu dum a outro cismar;
Tu indolente divagas,
Eu sofro triste a cantar.

"Vais onde te leva a sorte,
Eu, onde me leva Deus:
Buscas a vida, — eu a morte;
Buscas a terra, — eu os céus!
CRÔNICA DA SEMANA


CRÔNICA DA LOUCURA
(Mário Prata)

O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos.
Existem dois tipos de loucos: o louco propriamente dito e o que cuida do louco (o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra). Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos... Se não era louco, ficou. Durante quarenta anos passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.
O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos, e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silêncio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.
Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo.
E a sala de espera de um “consultório médico”, como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos:
Na última quarta-feira, estávamos eu, um crioulinho muito bem vestido, um senhor de uns cinqüenta anos e uma velha gorda. Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles? Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados. O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. "Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o casamento", pensei. Ou era que não conseguiu entrar como sócio do “Harmonia do Samba”? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina. E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido. Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não!... Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse. Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista. Conto para ele a minha “viagem” na sala de espera. Ele ri, ri muito, o meu psicanalista:
“- O Ditinho é o nosso office-boy. O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades. E a gordinha é a Dona Dirce, minha mãe. E você não vai ter alta tão cedo…“