quinta-feira, 26 de maio de 2011

UM DEDO DE PROSA

REPRISE

Se me fosse dada a palavra e eu pudesse gritar pelos quatro cantos do mundo tudo aquilo que me aflige, eu simplesmente nada falaria, pois minha aflição é tanta que me faltariam palavras para expressar minha indignação com respeito à falta de respeito que aqueles que colocamos no poder têm para conosco.
Mas não adianta agora “chorar o leite derramado”. Eles já estão lá e - queiramos ou não - por lá ficarão até 2014, quando teremos a chance de consertar o erro que cometemos. E até lá, muita água ainda há de passar sob a ponte...
O pior de tudo é que, pouco-a-pouco, estão divulgando a re-estreia de filmes cujos enredos já conhecemos de outros carnavais, inclusive com os mesmos atores interpretando os personagens que outrora representaram.
Preocupa-me o fato de que o povo brasileiro - de tanto sofrer ao longo dos anos - não mais tem estrutura para assistir a esses filmes de terror. Suas coronárias estão fracas e não suportarão as cenas de terror protagonizadas pela ganância dos grandes empresários que, aliados aos políticos, promovem a volta do temido monstro INFLAÇÃO, o maior vilão do passado e o grande responsável pela falência múltipla de muitas famílias brasileiras. Porém, pior que o temor provocado pelo possível retorno desse monstro é o maucaratismo muito bem representado pelos atores da velha guarda da nossa política, que voltaram inda mais sedentos de poder e blindados com uma couraça anti-CPIs.
MEUS VERSOS LÍRICOS

PRÍNCIPE DESENCANTADO
(Joésio Menezes)

Sou um príncipe desencantado
E o castelo do meu principado
Fica além de Lugar Nenhum.
Estou à procura de uma rainha
Que à noite seja só minha;
Durante o dia, de qualquer um.

Sou um príncipe sem encanto,
Sem escrúpulo, sem pranto
Para chorar por alguém...
Sou um “nobre” insensível,
Insensato, desprezível,
Respeitado por ninguém...

E essa minha “majestade”
Não merece fidelidade
Tampouco o título de Alteza,
Pois sou um príncipe maculado
Pelo desejo do pecado
E vivo às margens da nobreza.


SIM, EU ME LEMBRO!...
(Joésio Menezes)

Como eu haveria de esquecer
Meu jeito tímido e o teu calado
Se naquela noite não pude deter
O ímpeto do teu “beijo roubado”?

Como não haveria de enternecer
Aqueles olhares apaixonados
Que trocamos ao anoitecer
Antes de estarmos ali abraçados?

Como não haveria de me lembrar
Do lirismo deixado no ar
Pelas nossas poesias desmedidas?...

Está difícil, também, esquecer
O que depois viria a acontecer:
A nossa traumática despedida!
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

PERSISTÊNCIA POÉTICA
(Graciela da Cunha )

Tentei fazer um poema
em riscos complicados,
como bordar rendas
com florzinhas miúdas,
minúsculas, com pontos
(miçangas e vírgulas)
perfeitos em tom azul!


Debrucei-me sobre o
caderninho como se
bastidor fosse. Imaginava-me
nascendo de novo para
ser merecedora de vestir
aquele novo poema.

Com toque final, sutil,
de minha caneta
vejo um novo poema renascer.


A RUA DOS CATAVENTOS
(Mário Quintana)

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
CRÔNICA DA SEMANA

A OVELHA NEGRA (RETRATO DO PRECONCEITO)

por Vital Alves Neto

A ovelha negra da família, é como ela é considerada. Ela é pura ousadia! Com ela a coisa fica preta! Liberdade, ou libertinagem, não importa! Ela quer prazer. Uma morenaça, da cor do pecado, sabe todo o poder que tem – o lado negro da força – dizem. Usa e abusa, lambuza!
– Ela é louca – diz uma cafetina do bairro, incrédula. Ela é do tipo que chuta as crianças e dá um beijo no cachorro. A cada dia uma roupa, um namorado e um perfume. Seja Funk, Rap ou Samba, ela domina. Sedução, êxtase, coca-cola, adrenalina, ‘coca’! Atualíssima, ela está na moda e moderniza! À noite, se diverte a trabalho enquanto os homens dizem: “preta Gostosa!”
Nunca passa despercebida onde quer que vá. Sempre causando rumores: Críticas e elogios.
Felizmente não é discriminada devido à cor da sua pele, e sim devido a sua postura. Não há preconceito onde ela vive, há apenas restos imortais da descriminação naturalmente humana. A Ovelha Negra, a Preta gostosa, da Cor do Pecado, apesar do seu lado Negro, não sofre descriminação racial no país civilizado onde vive!
E assim ela vive.
Assim também sobrevive a discriminação racial escondida atrás de expressões usuais e rotineiras que passam despercebidas de geração a geração. A ovelha negra alimenta-se de ignorância humana!

terça-feira, 17 de maio de 2011

UM DEDO DE PROSA

CINQUENTÃO

Acabo de entrar numa nova etapa da vida cujo privilégio não é para todos.
Hoje, ao completar meio século muito bem vivido, olho para trás e vejo o quão difícil, porém gratificante, foi chegar até aqui, são e salvo. Digo são e salvo porque muitos foram os amigos (e milhões os desconhecidos) que ficaram no meio do caminho, que não tiveram essa feliz oportunidade de se completar cinquenta anos de idade, o que para os que não tem amor à vida é muito, porém insuficiente a quem deseja vivê-la como se cada dia fosse o primeiro da sua existência.
Pois é!... no último dia 16 tornei-me mais um cinquentão (num corpinho de 49) em paz com o mundo, com a vida e comigo mesmo. E, se Deus me permitir, é vontade minha tornar-me um octogenário feliz com a terceira idade e em paz com a lucidez, pois um “velho” de mente saudável e gozando de boa saúde física “põe no bolso” muitos daqueles que maldizem e excomungam a velhice, estágio inevitável da vida a quem não pretende morrer ainda jovem.
Ontem, os cinquenta eram um sonho; hoje, são uma realidade. Já o que nos fora reservado para amanhã... é bom esperarmos com a paciência que o tempo nos permite.
E antes que o Sol desapareça e na escuridão eu feneça, agradeço a Deus pelos dias de luz e pelas noites de brilho que Ele me proporcionou ao longo dos meus cinquenta anos de vida.
MEUS VERSOS LÍRICOS

PALAVRA DE AMOR
(Joésio Menezes)

Escreva-me ao menos uma linha...
Uma palavrinha só!..
E tira do meu peito esse nó,
Essa angústia, essa triste dor...

Tira-me essa ansiedade,
Essa tormenta, esse calor,
Essa grande chama de saudade,
Essa solidão que me definha
E nem sequer sente dó.

Escreva-me, por favor,
Uma palavrinha só,
Mas... uma palavra de amor.


SAUDADES
(Joésio Menezes)

A distância me encheu de saudades...
Saudades de ti... Saudades do teu cheiro
Que suavemente paira no ar.

Saudades do teu corpo colado ao meu.
Saudades dos teus beijos, das tuas carícias,
Dos teus chamegos, do teu meigo olhar...

Saudades do teu sorriso, dos teus lábios rijos,
Dos teus sussurros desejosos,
Do teu jeito manso de falar...

Saudades dos nossos olhares fogosos.
Saudades do teu suor, do teu calor,
Da nossa amizade, do nosso amor...

Saudades que me fizeram delirar.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

ESSENCIAL
(Andrea Joy)

Amei-te porque em ti
Minha impetuosidade
Encontrou freio,
Porque tua doçura temperou
A estupidez dos meus anseios
E tua fleuma encheu de paz
Minhas explosões.

Aprendi contigo que o silêncio,
Às vezes, é valioso.
Na tua placidez descobri
Mais um tesouro e no teu cerne,
A sábia voz da tua sapiência.

Amei o lirismo da tua fala,
A sedução do teu sorriso...
Amei tua doçura, tua prudência
E até tua timidez.
Amei o teu jeito estreme,
E na eternidade,
Te amaria igualmente.

Sensível, também amei a redoma
Que reserva o teu ser.
E assim, amei teu corpo,
Teus olhos, teu odor...
Amei em ti o que não fenece
E o que em ti há de fenecer.

Já não observo se tua omissão
É uma virtude ou uma moléstia,
Apenas submeto-me, inerte,
Ao plano do teu fadário,
Que me arreda de ti e me desapossa
Do meu Amor Essencial.


MEU MUNDO
(Patrícia Ximenes)

Sabe o meu mundo?
Aquele que você
perfumou e enfeitou
com aroma e
centenas de margaridas?
Desabou.

Foi embora com você
e nem sequer
levou tudo consigo.
Deixou o cheiro,
o perfume de nós dois,
das margaridas
que hoje são
inodoras
e tem cor de aflição.

Sabe o meu mundo?
Não é mais meu...
Hoje procuro um lugar
para descansar o coração,
gastar o tempo e a razão
E assim
quem sabe
Construir um novo mundo
pra eu me encontrar.

Um lugar
onde ninguém mais
possa entrar e
ser dono.
E se por acaso
a entrada
eu permitir
e a saída não impedir,
que ao fechar
novamente a porta
Não leve consigo
o todo de mim.
CRÔNICA DA SEMANA

ANTES IDIOTA QUE INFELIZ
(Arnaldo Jabor)

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias. Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.
Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse,era resolvido fácil, alguém dúvida?
Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormirem abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.
Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.
Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como:
"Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.
Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.
Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.
Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!),aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois.
Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".
" Antes idiota que infeliz"

sexta-feira, 13 de maio de 2011

UM DEDO DE PROSA

SOBRE A SEXTA-FEIRA 13

Hoje é Sexta-Feira 13... Para os supersticiosos, um dia cuja sorte não se faz presente.
Nesse dia, é comum as pessoas não saírem de casa antes de verem seu mapa-astral ou de lerem seu horóscopo, pois acreditam elas que a sexta-feira, no dia 13 de qualquer mês, é um dia de azar.
Diz a lenda que a superstição da sexta-feira 13 foi relatada em diversas culturas remontadas muito antes de Cristo.
Existem, ainda, histórias remontadas também pela mitologia nórdica. Na primeira delas, conta-se que houve um banquete e 12 deuses foram convidados. Loki, espírito do mal e da discórdia, apareceu sem ser chamado e armou uma briga que terminou com a morte de Balder, o favorito dos deuses. Há também quem acredite que convidar 13 pessoas para um jantar é uma desgraça, simplesmente porque os conjuntos de mesa são constituídos, regra geral, por 12 copos, 12 talheres e 12 pratos.
Segundo outra versão - quando as tribos nórdicas e alemãs se converteram ao cristianismo -, a deusa do amor e da beleza, Friga (que deu origem a frigadag, sexta-feira), foi transformada em bruxa. Como vingança, ela passou a se reunir todas as sextas com outras 11 bruxas e o demônio, e os 13 ficavam rogando pragas aos humanos. Da Escandinava a superstição espalhou-se pela Europa.
No cristianismo é relatado um evento de má sorte em 13 de Outubro de 1307, sexta-feira, quando a Ordem dos Templários foi declarada ilegal pelo rei Filipe IV de França. Os seus membros foram presos simultaneamente em todo o país e alguns torturados e, mais tarde, executados por heresia.
Outra possibilidade para esta crença está no fato de que Jesus Cristo provavelmente foi morto numa sexta-feira 13, uma vez que a Páscoa judaica é celebrada no dia 14 do mês de Nissan, no calendário hebraico.
Cabe ressaltar ainda que na Santa Ceia sentaram-se à mesa 13 pessoas, sendo que duas delas, Jesus e Judas Iscariotes, morreram em seguida, por mortes trágicas: Jesus por crucificação e Judas provavelmente por suicídio.
É importante lembrar, também, que, no Tarô, a carta de número 13 representa a Morte.
Por tudo isso, nessa sexta-feira 13 sairei de casa levando no bolso uma figa e um pé de coelho; atrás das orelhas, um trevo de quatro folhas e um galho de arruda, que é para espantas os maus olhados. Não que eu seja supersticioso, mas “é melhor prevenir que remediar”. Afinal de contas, vivo em Brasília!... E foi aqui que se instalaram alguns seres oriundos das trevas, mais precisamente no Senado e nas Câmaras dos Deputados e Legislativa. E assim sendo, “todo cuidado é pouco”!...
MEUS VERSOS LÍRICOS

À TUA SIMPLICIDADE
(Joésio Menezes)

Continues simples assim,
Pois essa tua simplicidade
Te guiará pelos jardins
Até a Santíssima Trindade,

Onde somente os querubins
- Guardiões da felicidade
E protetores do amor sem fim -
Circulam com liberdade...

Se és fatal em tuas brigas,
Isso é sinal de que és amiga
Dos que espalham o amor

- Seja em prosa ou em verso -
Pelos quatro cantos do Universo
Aos corações cheios de rancor.


SEXTA-FEIRA 13
(Joésio Menezes)

Hoje é dia treze, sexta-feira...
Quisera encontrar no meu caminho
Uma “gata” que me leve ao seu ninho
E com ternura me ame a noite inteira.

E se eu morresse de amor nesse dia
Não me consideraria um azarado,
E sim um poeta bem-amado
Que fizera desse momento poesia...

Depois, nas asas de um passarinho,
Minha alma levaria aquele ninho
Para um lugar seguro e abençoado.

E nesse dia treze, que alegria,
Seria comemorando, sem heresia,
O “Dia do Poeta Apaixonado”.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

CORPOS
(Expedito Gonçalves Dias)

Corpos sãos
são corpos que ardem,
que se entregam,
se esfregam,
se esfolam,
se falam,
se calam, às vezes...

Corpos são belos,
repletos de pelos,
ou retos e lisos.

Corpos, às vezes são meios,
às vezes são fim.
Há corpos que deslizam,
se afastam sem aviso.

Os que se rebaixam,
que se acham no fundo sem opção,
frutos do meio,
escravos,
infecundos,
opacos ou vazios,
simples aberração!

Há os concisos,
bravos senhores de si,
que se acham
'encorpados',
tão cheios,
descolados
e se encaixam,
tão free!..
que se esborracham!

Ah, há aqueles corpos sem pudor,
quentes, ardentes, no cio...
E aqueles gelados etéreos,
indiferentes e sem calor.
Há os esqueléticos
e os sarados.
Há os abertos,
escancarados,
e os corpos herméticos.

Também tem uns empinadinhos,
curvilíneos, atraentes;
e outros em desalinho.

Há corpos que brilham,
que ofuscam os demais,
os que se buscam,
que se aliam,
que se casam.
Os que se traem,
depois se reconciliam;
os enganados,
os que sabiam,
os de guerra e os de paz...

Há os que, como ímã, se atraem,
ou se repelem,
tão carentes...

Há corpos que se intrometem:
os que engrossam,
os que afinam;
os que molestam,
os que querem,
os que detestam.

E os que se submetem
aos que dominam.

Há ainda corpos que se somam,
que subtraem.
Corpos que se espalham,
extrapolam,
extravazam,
se retalham,
se metralham!

Corpos sãos se remetem!
Se desejam,
se beijam,
se completam...

Os outros, não são!


EPITÁFIO D’UM AMOR
(Vitalves Neto)

Fui extenso, limitado, fui belo,
fui pródigo, fui profano, fui...

Hoje nada sou, de mim resta quase nada,
muito pouco, não mais o bastante,
talvez lembranças, sonhos,
mas foram-se as ilusões.

As esperanças devoram-me dia após dia
como um vapor que leva a última gota
do que já foi um oceano,
mas não me rendo, vou até o fim,
mesmo que não mais percebam-me,
que não falem mais de mim,
ainda estarei aqui,
alimentando-me do que me devora,
e quando tudo de mim se for,
irei ao meu mausoléu e lá
ficará em memória esse meu epitáfio,
que aos poucos se diminuirá,
porém jamais se findará,
pois, não fui eterno,
mas o que restará de mim será.

Quando eu me for,
deixarei tudo preparado para um próximo,
meu espaço vazio,
minhas duas metades desfeitas,
ambas buscando outra metade,
que provirão dois amores,
mais duas histórias de amores
que podem terminar igual a mim.
CRÔNICA DA SEMANA

SEXTA-FEIRA 13
(Ângela M. Rodrigues O. P. Gurgel)

Como ser humano racional que sou não tenho superstições. A razão nega todas elas. Então por que acreditar em crendices, simpatias e outras coisas do gênero? Não faz sentido. Mesmo assim preferi não escrever esta crônica ontem, afinal era sexta-feira 13. Também não passo embaixo de escada, não por superstição, mas precaução. Gato preto? Prefiro evitá-los. Os de outras cores são mais bonitinhos. Nada relacionado à crendice de que eles são agourentos.
A lista de minhas manias é interminável. Mas não sou supersticiosa. Só entro e saio em um ambiente pela mesma porta (aprendi, quando menina, que ao entrarmos nossa alma fica vigiando o ambiente para impedir a entrada de mal fluidos, é preciso pegá-la na volta), já pensou deixar a coitada lá abandonada? Nem pensar! Como vêem não é nada ligado a superstições, mas uma regra de segurança.
ncrível como, mesmo sabendo que estas coisas não fazem sentido a gente termina fazendo tudo que nossa razão nega. Supersticiosa ou não conservo minha listinha de manias, já me livrei de umas, outras não consegui, ainda. Sou uma pessoa que acredita em Deus, isso por si só já deveria me garantir que estou segura e protegida, mas e as crendices? Racionalmente nem Deus se explicaria, mas minha fé o aceita e não precisa de explicações para acreditar que Ele é o Senhor e a razão maior de tudo. Isto me basta.
Mas algumas coisas eu realmente não acredito. Tarô, quiromancia, coisas do gênero. Outro dia encontrei uma cigana na cidade. Pediu para ler minha mão. Recusei, mesmo assim ela segurou minha mão e começou a fazer suas profecias (na realidade uma mistura de passado, presente e futuro), ao final me pediu dinheiro para “desmanchar” o trabalho que tinham feito contra mim. Minha filha escutava tudo muito admirada. Neguei o dinheiro e ela foi embora dizendo que queria salvar minha felicidade e eu, por ser uma pessoa apegada ao dinheiro, não acreditava em suas verdades.
Claro que dentre as coisas que ela disse havia algumas “coincidências”. Quem nesse mundo não tem uma “amiga” que a inveja? Um problema no trabalho? Uma pessoa na família que poderá sofrer um sério problema de saúde? Em um minuto minha filha identificou tudo. Eu, bem mais cética, mostrei a ela que o discurso é o mesmo para milhões de pessoas, em algum momento alguma coisa vai coincidir e se você for suscetível se deixa enganar. Eu não, não neste caso. Coloco minha figa na bolsa e sigo em frente.
Já fiz um mapa-astral, por influência de meu esposo, que acredita em tudo isso e um pouco mais, mas ou esqueceram a data que nasci ou trocaram quase tudo na hora de escrever. Salvo algumas coincidências, nada funcionou. Já fui a encontros espíritas. Gosto do ritual, das danças, das orações, mas não acredito em muitas coisas que eles acreditam. Respeito. Acho bonito. Como já falei em outras crônicas, sou louca por rituais. Todos me encantam, fascinam.
E, sem nenhuma superstição, sigo em frente sem subir escadas ou batentes, com o pé esquerdo e com um pé de comigo-ninguém-pode plantado bem na entrada de minha casa. Prevenção nunca fez mal a ninguém.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

UM DEDO DE PROSA

PROFISSÃO: MÃE
(Joésio Menezes)

Se perguntarem a ti, mulher, qual a tua profissão, responderás sem pensar: “Sei lá!... Acho que não tenho não!... A falta de tempo não me permite pensar nisso. Sei apenas que de tudo faço um pouco!
Talvez eu seja uma boa cozinheira, pois sempre recebo elogios do meu esposo e dos meus filhos com relação à comida que faço!
Quando se aproxima o aniversário de um deles, sou eu quem organiza a festinha surpresa, por mais simples que seja. Posso, então, dizer que sou promotora de eventos.
Quando vamos a algum passeio ou a alguma festinha, sou eu quem escolhe a roupa que eles irão usar. Nessa hora tenho que incorporar o espírito de estilista para que a roupa escolhida tenha tudo a ver com o evento.
Algumas vezes sou cantora, pois na hora de fazê-los dormir, sou eu quem canta as canções de ninar; outras vezes sou atriz, pois ao ler para eles historinhas infantis, enceno cada ação das personagens com o maior realismo possível...
Quando os acusam de algo que não fizeram, entra em ação o meu lado advogado e defendo-os com unhas e dentes. Vou às últimas instâncias até provar que de fato são inocentes.
Às vezes exerço as funções de bombeiro, pois quando os ânimos das crianças inflamam em casa, sou eu quem tenta apagar o fogo antes que as fagulhas tornem-se labaredas e provoquem um grande incêndio familiar.
Se eles brigam entre si - às vezes por causa de brinquedos, às vezes sem motivo algum -, sou eu a policial que os prende, cada um em seu quarto, deixando-os de castigo por um bom tempo para refletirem sobre o que fizeram. Sou também a juíza que os tira desse castigo após ouvir, com imparcialidade, a versão de cada um.
Sou eu quem faz os curativos nas crianças quando se machucam nas partidas de futebol ou nas brincadeiras desastrosas. Eles costumam dizer que sou a melhor enfermeira do mundo.
Na hora dos deveres de casa, sou a professora que eles procuram para tirar-lhes as dúvidas ou explicar-lhes como se faz determinado exercício.
Sou a médica que cuida deles quando estão doentes e, também, a veterinária que prescreve a receita do seu animalzinho de estimação quando ele não está passando bem.
Enfim, quando encontram-se envolvidos com problemas de auto-afirmação ou de paixão platônica, sou a psicóloga que, mesmo sem ser procurada, se aproxima deles com o intuito de ajudá-los”.
E assim, mulher, vais tocando a vida: exercendo cada uma dessas profissões com o esmero que elas exigem e com o amor que todos necessitam, tudo na dosagem certa e dentro das tuas limitações. Mas não podemos nos esquecer de mencionar aquela que exerces com indiscutível dedicação, incomparável destreza e inigualável amor: MÃE, cujo Criador confiou somente a ti a responsabilidade para exercê-la.


Minha singela homenagem às mães de verdade...
MEUS VERSOS LÍRICOS

MÃE
(Joésio Menezes)

Mãe é sinônimo de aconchego,
De carinho, de paz, de esperança...
E entre um e outro chamego
Vai vendo crescer sua criança.

Mãe é sinônimo de luz,
De fé, de justiça, de bonança...
E inspirada na vida de Jesus
Vai ensinando a viver sua criança.

Mãe é sinônimo de prudência
De sabedoria, de paciência
De felicidade e de confiança.

Mãe é sinônimo de Amor,
E abençoada pelo Criador
Dá a vida pela sua criança.


SUBMISSÃO
(Joésio Menezes)

Eu me rendo à tua beleza,
Aos teus encantos eu me entrego,
Por teus fetiches mantém-se acesa
A chama do fogo que carrego.

Me submeto aos teus desmandos,
À tua paixão sou aspirante,
Por tua libido o fogo brando
Do meu corpo ficará abrasante.

E se necessário for
Entregar-me ao despudor
E aos efeitos do teu feitiço,

Juro-te que isto eu farei,
Mesmo sabendo que estarei
Eternamente a ti submisso.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

MÃE
(Mário Quintana)

Mãe... São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o céu tem três letras
E nelas cabe o infinito.

Para louvar a nossa mãe,
Todo bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer.

Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do CÉU
E apenas menor que Deus!


SEGUNDA IMPACIÊNCIA DO POETA
(Gregório de Matos)

Cresce o desejo, falta o sofrimento,
Sofrendo morro, morro desejando,
Por uma, e outra parte estou penando
Sem poder dar alívio a meu tormento.

Se quero declarar meu pensamento,
Está-me um gesto grave acobardando,
E tenho por melhor morrer calando,
Que fiar-me de um néscio atrevimento.

Quem pretende alcançar, espera, e cala,
Porque quem temerário se abalança,
Muitas vezes o amor o desiguala.

Pois se aquele, que espera se alcança,
Quero ter por melhor morrer sem fala,
Que falando, perder toda esperança.
CRÔNICA DA SEMANA

DIA DA MÃES. QUE FELICIDADE!
(Fal Azevedo, tvtem.globo.com)

Um dia para mimá-la e agradecer tudo o que a santa fez por você todos esses anos:
As horas perdidas na cabeceira da sua cama enquanto você fingia dor-de-ouvido pra não ir fazer a prova de biologia, seu imprestável.
As vezes em que ela torrava o dinheirinho juntado a duras penas num par de patins ou numa nova bicicleta para você, dinheirinho que era para uma nova camisola ou para aquele estojo de maquiagem. Aquele mesmo par de patins que estava na boca do cachorro uma semana depois, a mesma bicicleta largada na chuva no dia seguinte da compra.
Todas as vezes que você chegou sem avisar com sua quadrilha, digo, com seu grupo de amigos, todos famintos como lobos, e a coitada lá, se esfalfando, caridosamente alimentando, com apenas meio pacote de pão de forma, dois ovos e uns pedaços de queijo duro, você, o Fabão, o Boca Santa, o Alpiste e o Gordurinha.
E enquanto a pobrezinha fazia o milagre da multiplicação dos restos de geladeira e conversava com seus amigos, o primeiro humano que falava com eles em semanas, você fazia o que, ó, filho ingrato?
Exato, se balançava feito um suicida nas pernas de trás da cadeira da cozinha e revirava os olhos, resmungando "minha mãe só me faz passar vergonha". Ingratidão, ingratidão...
E a vez em que você comunicou, às dez e meia da noite, que o projeto de ciências era para amanhã, primeira aula, e a coitada passou a noite às voltas com bolinhas de isopor, cabides e argila, tentando reproduzir o sistema nervoso duma rã-malhada-das-estepes. E depois você ainda reclamou da nota.
Hum, e quando a pobrezinha voltou de Aparecida com a Tia Miloca e pegou você na sala, peladão, cantando Matriz e Filial, usando a escova de lavar privada como microfone?
Você não acha que toda uma vida de decepções, agonias, e dores merece uma compensação? Um pedido de perdão pelas 48 horas miseráveis de trabalho de parto que ela atravessou porque você era muito cabeçudo, por todas as suas calhordices, o tanto de dinheiro e cigarros que você roubou das bolsas dela, cursos largados no meio, amigos esquisitos e namoradas inadequadas?
Sim, você acha. E você até já sabe como. Você, e mais metade da população da cidade, tiveram a brilhante idéia de levar a mamãe a um restaurante no Dia das Mães! Para poupar trabalho, eu sei. E aí, ao invés de passar longas e miseráveis horas de pé na cozinha, mamãe passará longas e miseráveis horas de pé na fila do restaurante. Tenha santa paciência! Você é um adulto, coragem, encare a cozinha. Mãe vale esse sacrifício.
Nada muito complicado, mas feito com cuidado, com amor, uma mesa bonita, bem montada, a louça boa usada finalmente. (aliás, use tudo que você tem de melhor, sempre, sempre. Caixão não tem gaveta.) E depois de ter mimado sua mãezinha com uma comidinha saudável, cheirosa, nada de ir pro sofá, belo. Tem que lavar a louça e arrumar a cozinha.
Mãe sofre!...