quinta-feira, 26 de maio de 2011

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

PERSISTÊNCIA POÉTICA
(Graciela da Cunha )

Tentei fazer um poema
em riscos complicados,
como bordar rendas
com florzinhas miúdas,
minúsculas, com pontos
(miçangas e vírgulas)
perfeitos em tom azul!


Debrucei-me sobre o
caderninho como se
bastidor fosse. Imaginava-me
nascendo de novo para
ser merecedora de vestir
aquele novo poema.

Com toque final, sutil,
de minha caneta
vejo um novo poema renascer.


A RUA DOS CATAVENTOS
(Mário Quintana)

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

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