sexta-feira, 6 de maio de 2011

CRÔNICA DA SEMANA

DIA DA MÃES. QUE FELICIDADE!
(Fal Azevedo, tvtem.globo.com)

Um dia para mimá-la e agradecer tudo o que a santa fez por você todos esses anos:
As horas perdidas na cabeceira da sua cama enquanto você fingia dor-de-ouvido pra não ir fazer a prova de biologia, seu imprestável.
As vezes em que ela torrava o dinheirinho juntado a duras penas num par de patins ou numa nova bicicleta para você, dinheirinho que era para uma nova camisola ou para aquele estojo de maquiagem. Aquele mesmo par de patins que estava na boca do cachorro uma semana depois, a mesma bicicleta largada na chuva no dia seguinte da compra.
Todas as vezes que você chegou sem avisar com sua quadrilha, digo, com seu grupo de amigos, todos famintos como lobos, e a coitada lá, se esfalfando, caridosamente alimentando, com apenas meio pacote de pão de forma, dois ovos e uns pedaços de queijo duro, você, o Fabão, o Boca Santa, o Alpiste e o Gordurinha.
E enquanto a pobrezinha fazia o milagre da multiplicação dos restos de geladeira e conversava com seus amigos, o primeiro humano que falava com eles em semanas, você fazia o que, ó, filho ingrato?
Exato, se balançava feito um suicida nas pernas de trás da cadeira da cozinha e revirava os olhos, resmungando "minha mãe só me faz passar vergonha". Ingratidão, ingratidão...
E a vez em que você comunicou, às dez e meia da noite, que o projeto de ciências era para amanhã, primeira aula, e a coitada passou a noite às voltas com bolinhas de isopor, cabides e argila, tentando reproduzir o sistema nervoso duma rã-malhada-das-estepes. E depois você ainda reclamou da nota.
Hum, e quando a pobrezinha voltou de Aparecida com a Tia Miloca e pegou você na sala, peladão, cantando Matriz e Filial, usando a escova de lavar privada como microfone?
Você não acha que toda uma vida de decepções, agonias, e dores merece uma compensação? Um pedido de perdão pelas 48 horas miseráveis de trabalho de parto que ela atravessou porque você era muito cabeçudo, por todas as suas calhordices, o tanto de dinheiro e cigarros que você roubou das bolsas dela, cursos largados no meio, amigos esquisitos e namoradas inadequadas?
Sim, você acha. E você até já sabe como. Você, e mais metade da população da cidade, tiveram a brilhante idéia de levar a mamãe a um restaurante no Dia das Mães! Para poupar trabalho, eu sei. E aí, ao invés de passar longas e miseráveis horas de pé na cozinha, mamãe passará longas e miseráveis horas de pé na fila do restaurante. Tenha santa paciência! Você é um adulto, coragem, encare a cozinha. Mãe vale esse sacrifício.
Nada muito complicado, mas feito com cuidado, com amor, uma mesa bonita, bem montada, a louça boa usada finalmente. (aliás, use tudo que você tem de melhor, sempre, sempre. Caixão não tem gaveta.) E depois de ter mimado sua mãezinha com uma comidinha saudável, cheirosa, nada de ir pro sofá, belo. Tem que lavar a louça e arrumar a cozinha.
Mãe sofre!...

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