quinta-feira, 26 de agosto de 2010

UM DEDO DE PROSA

“É PROIBIDO PROIBIR!”... (SERÁ?)

Há anos dizem que o Brasil é um país democrático; que o povo participa ativamente das decisões mais importantes do nosso país; que temos ”liberdade de expressão”, que a censura não mais existe... Porém, não consigo entender que democracia é essa em que somos OBRIGADOS a votar e, no caso dos homens, a servir às Forças Armadas. Se isso não fizermos, teremos nossos CPFs e Títulos de Eleitor bloqueados e, consequentemente, seremos impedidos de assumir qualquer cargo público além de pagar multas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o VOTO e o SERVIÇO MILITAR são VOLUNTÁRIOS, no entanto, nunca faltam eleitores tampouco soldados.
E a censura?... Ah!... a censura!... Essa é uma história à parte e que tem tudo a ver com a nossa “democracia”!
Há poucos meses das eleições, as “Voss’excelências”, os deputados, fizeram valer a Lei 9.504 (aprovada em 1997), lei eleitoral que proíbe sátiras a políticos e/ou a partidos políticos, principalmente durante o período de campanha eleitoral. E a tal “liberdade de expressão”, como fica?... À mercê do “bom-senso” daqueles que se sentem ameaçados por ela, é claro!
Se não abrirmos os olhos, em breve teremos de volta o “toque de recolher”!...
MEUS VERSOS LÍRICOS

A UM PALMO DO TEU UMBIGO
(Joésio Menezes)


A um palmo do teu umbigo
Um fogo arde lascivamente.
Fogo que não nasceu contigo
Nem ali surgiu de repente.

E diante dele não consigo
Resistir aos anseios frementes
E ao tesão que vive comigo
Provocando-me desejos latentes


Que degeneram o meu recato
Instigando-me, de imediato,
A gana de copular contigo...

E sem receio posso te dizer:
Encontrei a fórmula do prazer
A um palmo do teu umbigo.


VÉU DOS ROMÂNTICOS
(Joésio Menezes)

Sob o “farol” da solitária Lua
Permitirei que minha “alma nua”
Encontre o “ponto de luz”

Deixado por “aquela estrela”
Que, de forma “passional”,
Fez de mim um “iluminado”.

Por isso, correrei “contra o tempo”
Para o “meu jardim” construir
“Onde Deus possa me ouvir”...

Lá, “eu e ela” nos amaremos
E, loucamente, “a voz” soltaremos
Envoltos no véu dos “românticos”.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ
(Vinícius de Moraes)

Eu sei e você sabe,
Já que a vida quis assim,
Que nada nesse mundo
Levará você de mim.
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe,
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste,
Por isso, meu amor,
Não tenho medo de sofrer
Pois todos os caminhos
Me encaminham a você.

Assim como o oceano
Só é belo com luar,
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar,
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover,
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer,
Assim como viver
Sem ter amor não é viver,
Não há você sem mim
E eu não existo sem você.


**TUDO É O OLHAR
(Clarice Lispector)

Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

**Agora, releia o texto de baixo para cima
CRÔNICA DA SEMANA

O DIA DO IRRACIONAL
(Martha Medeiros)

Comemora-se nesta semana o dia daqueles que caminham a meio palmo do chão.
Dia dos que acreditam que as estrelas cadentes realizam sonhos, dia dos que discutem por bobagem só pelo prazer da reconciliação, dia daqueles que dominam o tempo com precisão matemática: estamos juntos há cinco meses, duas semanas, dois dias, 13 horas, 24 minutos e 17 segundos...18...19... 20...
Dia daqueles que pensam e falam com as mãos, com a língua, com o nariz, com o corpo inteiro. Que utilizam todas as potencialidades do seu corpo, que empregam o coração como tradutor-intérprete e se armam até os dentes em defesa do seu sentimento. Dia de quem não saberia definir a palavra cérebro. Cérebro é uma fruta que dá muito no Piauí. Cérebro é o nome de um dos irmãos de Caim. Sei lá o que é cérebro, pô.
Dia de quem procura no dicionário alguma palavra que seja mais significativa que amor, dia de quem não se importa de ficar sem luz desde que não fique sem telefone, dia de quem caminha pela calçada ajustando o passo, feito soldados, só que agarradinhos.
Dia de quem não come alho porque o Julio repara, de quem não usa verde-água porque a Soninha acha brega, não corta o cabelo porque o Flávio me mata, não espalita os dentes porque a Carla fica uma arara.
Dia de quem, tomando café-da-manhã, acha que não vai agüentar esperar até às 8 da noite, hora de ir pro cinema. Dia de quem, estando numa quinta-feira,
acha que falta um século para o sábado chegar. Dia de quem, estando em junho, acha que setembro levará três eternidades pra despontar no horizonte, quando então seu amor voltará da viagem de intercâmbio.
Dia de quem despreza todas as palavras que foram inventadas, a não ser três: eu te amo. Dia de quem se acha mais bonita do que a Carolina Ferraz, mais rico do que Abílio Diniz, mais campeão do que o Guga. Dia de quem é vegetariano, mas encara um fondue de carne, dia de quem não é sociável mas engrena um bate-papo animado com a sogra, dia de quem jurou que jamais iria acampar, e lá vão eles dormir sob as estrelas.
Dia dos irracionais, dos que são movidos pelo instinto, dos que não se apavoram com nada, só com a ausência de e-mails e dos toques do telefone. Dia dessa gente feliz que namora.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

UM DEDO DE PROSA

PROGRAMA ELEITORAL GRATUITO

Se a programação da televisão brasileira já HÁ MUITO TEMPO não agrada aos telespectadores, imaginem agora com o Horário Eleitoral Gratuito. E o pior de tudo é que eles (os políticos) farão suas aparições na telinha da TV duas vezes por dia; em alguns casos, até o segundo turno. ARGH!!!
Cansados das “conversas para boi dormir” dos nossos políticos, os brasileiros (em sua maioria) não mais suportam olhar para as suas caras, tampouco estão dispostos a ouvi-los, pois eles nem se dão o trabalho de inventarem novas mentiras. Isso sem contar que a maioria desses que aí estão se apresentando como SALVADORES DA PÁTRIA estão mais sujos que “poleiro de pato”, o que os impediria de passarem pelo crivo do FICHA LIMPA (caso seja levado a sério)!
Aqui em Brasília, por exemplo, são incontáveis os nomes dos que se envolveram ou estão envolvidos em casos de corrupção e/ou desvios de verbas públicas, e mesmo assim estão na disputa por uma vaga nas Câmaras, no Senado e no Palácio do Buriti. Há, inclusive, um candidato ao Governo do DF que responde a vários processos (por corrupção, grilagem de terras, desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha) e diz não ter conhecimento de processo algum contra ele. E haja cinismo!!!
Bem, voltando à inculta e improdutiva programação televisiva (em especial ao Programa Eleitoral Gratuito), restam-nos algumas opções: assisti-la, adquirir TV por assinatura (ou melhor dizendo, a cabo), alugar alguns DVDs ou simplesmente desligar a TV.
MEUS VERSOS LÍRICOS



O DECOTE DA FEITICEIRA
(Joésio Menezes)


Ela chegou-me sorrateira.
No rosto, um riso encantador
Escondia seu decote provocador.
Era manhã de quarta-feira...

Meus olhos, logo de primeira,
Evitaram-no, mas seu pudor
Não resistiu a tanto vigor
Que esbanjava aquela “feiticeira”.

E o poeta - pobre coitado! –,
Eternamente apaixonado,
Assistia a tudo de camarote.

Desde então, a minha mente,
Sempre ativa, pensa somente
No que estava atrás do decote.


MEUS ESCRITOS
(Joésio Menezes)

“Nas Asas da Poesia”
Meus versos surgiram, enfim.
E com “Fragmentos de Mim”
Completaram minha alegria.

Desde então, os meus dias,
Antes sem graça e ruins,
Ganharam um brilho sem fim,
Como há muito eu não via.

E pouco a pouco meus escritos
Chegam aos corações aflitos
E aos apaixonados, também,

Fazendo deles sua morada.
E mesmo que não digam nada,
Conseguem encantar alguém.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

CONTEMPLO O LAGO MUDO
(Fernando Pessoa)

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.


Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?


COM LICENÇA POÉTICA
(Adélia Prado)

Quando nasci, um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
“vai carregar bandeira”.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
CRÔNICA DA SEMANA

MAIS UM FIM
(por Dora)

Não gosto de perceber quando as coisas terminam. Ok. Alguns me diriam que as coisas não “terminam”, mas “mudam”. Às vezes, não gosto de perceber a forma com que as coisas mudam. Fico chateada. Não admito, mas fico. É bem chato detectar desprezo no tom de voz de alguém (que um dia já foi) próximo. Ou desprezo num modo de dizer algo. Também é chato perceber um sorriso de canto de boca quando percebem que você falhou de um modo ou outro. Essas são coisas indisfarçáveis. Na real, até podem ser disfarçáveis, mas esse não é um talento meu… Isso é pra quem pode: atrizes, atores, gente que vive outras vidas... Não tenho essa ‘competência’. Felizmente algumas pessoas ao meu redor também não. Não é à toa que eu percebo…
Tudo começa a ficar ainda mais chato quando as pessoas já ESPERAM pelos seus erros. Os antecipam, de uma certa forma. Querem ver você falhando, errando ou se dando mal. Dizem, ou melhor (pior!) ainda: insinuam, que as coisas não estão tão bem assim com você e que você “poderia ser melhor” e que “antes você não era assim”. “Viu só?”, “Olha aí!…”, “Não disse?”. Já estive do lado de lá e agora estou do lado de cá. Essas coisas acontecem e não adianta lutar para que elas continuem as mesmas. Resistir a essas mudanças é inútil. As pessoas enchem o saco uma das outras e chega uma hora que alguma das partes satura-se, que as engrenagens não giram mais e várias coisas emperram umas às outras e assim sucessivamente…
E eu só quero sobreviver até o final do ano… Só isso!...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

UM DEDO DE PROSA

O VIL METAL

O homem moderno, bem mais que os seus antecedentes, deixa-se levar pela ambição e pelo apego ao dinheiro, associando o seu uso unicamente aos desmandos e aos prazeres da carne. Porém, não sabe ele que o mal maior é possuir o vil metal e não a falta dele.
Há séculos, Sêneca (filósofo romano nascido no ano 4 a.C ) escreveu que “a riqueza é a principal fonte de misérias dos homens”, principalmente daqueles que se deixam levar pelo deslumbramento, permitindo que essa mesma riqueza seja a dona e mandatária do seu caráter.
A ambição dos homens é tão grande e cega, que eles nem percebem o mal que estão fazendo à humanidade por causa da gana de juntar fortuna, a qual não será levada para o túmulo quando da sua morte. Pelo contrário, ela aqui ficará para causra mais discórdia, agora entre os herdeiros do falecido.
Por causa do dinheiro, o homem passa por cima dos seus princípios éticos e morais. E se necessário for, ele será capaz de vender, inclusive, a própria alma ao diabo a fim de ver sua conta bancária cada vez com mais cifrões.
É por causa dele (o dinheiro) que o mundo está como está: a um passo de um colapso diplomático, econômico e humanitário. É ele, também, o principal responsável pelo crescimento da miséria, pelas infindas diferenças sociais mundo afora e, principalmente, pela deflagração das guerras, pois é o homem que as financia visando engordar inda mais os seus cofres.
O dinheiro é necessário sim!... Mas quando em nossas vidas ele aparece em primeiro plano, o bom senso da humanidade desaparece e as coisas começam a descambar para a usura e, consequentemente, para a falta de respeito entre os homens.
MEUS VERSOS LÍRICOS

NO SÍTIO ALEGRIA
(Joésio Menezes)

O galo canta,
Amanhece o dia,
O Sol desperta
O sítio Alegria.

O café cheira
E dona Maria
Ferve o leite
E o bolo fatia.

O cachorro late,
O gato mia,
A galinha cisca,
O pintinho pia.

E pela lavoura
O vento rodopia
Enquanto peões
Lidam com alegria.

No fogão a lenha
A panela chia
Cozinhando feijão,
É quase meio-dia.

Seu Manoel
Bem alto assobia
Chamando o povo:
“Já é meio-dia!”

Barriga cheia,
A lida reinicia
E o Sol escaldante
Os peões judia.

Aproxima-se a noite,
A tarde esfria,
A vaca muge
Chamando a cria.

A lua aparece,
Foi-se embora o dia...
Lamparina acesa
A noite alumia.

Os grilos cricrilam
Sem harmonia,
O sereno cai
Na madrugada fria.

O galo canta
Sua melodia,
O Sol aparece,
Amanhece o dia.

E tudo se repete
No sítio Alegria:
O café cheira...
Que monotonia!
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

SONETO
(Alphonsus de Guimaraens

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranquilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?


MEU GRITO
Carlos Alberto

As noites são inumeráveis.
As estrelas se perdem no infinito
Anos-luz intermináveis
Percorre o meu grito...

Numa trajetória difusa
Explode em luz, na escuridão
Percorre a imensidão confusa
Calando-me na solidão.

Ah! pudesse meu grito
Alcançar os teus ouvidos
Repousaria em tempo finito
Na pureza dos teus sentidos.
CRÔNICA DA SEMANA

O NASCIMENTO DA CRÔNICA
(Machado de Assis)

Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do Sol e da Lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.
Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.
Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do ano.
Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coletânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.
Que eu, sabedor ou conjeturador de tão alta prosápia, queira repetir o meio de que lançaram mãos as duas avós do cronista, é realmente cometer uma trivialidade; e contudo, leitor, seria difícil falar desta quinzena sem dar à canícula o lugar de honra que lhe compete. Seria; mas eu dispensarei esse meio quase tão velho como o mundo, para somente dizer que a verdade mais incontestável que achei debaixo do sol é que ninguém se deve queixar, porque cada pessoa é sempre mais feliz do que outra.
Não afirmo sem prova.
Fui há dias a um cemitério, a um enterro, logo de manhã, num dia ardente como todos os diabos e suas respectivas habitações. Em volta de mim ouvia o estribilho geral: que calor! Que sol! É de rachar passarinho! É de fazer um homem doido!
Íamos em carros! Apeamo-nos à porta do cemitério e caminhamos um longo pedaço. O sol das onze horas batia de chapa em todos nós; mas sem tirarmos os chapéus, abríamos os de sol e seguíamos a suar até o lugar onde devia verificar-se o enterramento. Naquele lugar esbarramos com seis ou oito homens ocupados em abrir covas: estavam de cabeça descoberta, a erguer e fazer cair a enxada. Nós enterramos o morto, voltamos nos carros, c dar às nossas casas ou repartições. E eles? Lá os achamos, lá os deixamos, ao sol, de cabeça descoberta, a trabalhar com a enxada. Se o sol nos fazia mal, que não faria àqueles pobres-diabos, durante todas as horas quentes do dia?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

UM DEDO DE PROSA

FICHA LIMPA: CRER OU NÃO CRER?... EIS A QUESTÃO!

Eu bem que gostaria de acreditar na Lei da Ficha Limpa, mas como ao longo das 49 primaveras por que já passei muita coisa deixou de ser respeitada, e essa será mais uma lei que, acredito eu, não se fará valer.
Em respeito a essa nova lei (para inglês ver), algumas candidaturas foram impugnadas, porém, às tais impugnações ainda cabe recurso. Diante disso, os advogados já estão mexendo os pauzinhos a fim de que seus clientes possam sair ilesos dessa “vil e injusta” condenação. E enquanto ainda houver e couber recursos, os inimigos da “ficha limpa” continuam fazendo suas campanhas políticas.
E vocês ainda têm dúvida de que eles irão ganhar o direito de continuarem na luta pelo nosso voto?... Eu não!...
Um ou dois candidatos (no máximo) dos muitos indiciados no processo Ficha Limpa perderão o direito de continuarem na luta por uma vaga nas Câmaras dos Deputados e Legislativa ou no Senado Federal, mas só os “peixes pequenos”, sem muita expressão no cenário político. Os grandes “figurões” continuarão “imexíveis”.
Um bom exemplo do que acabo de escrever é um tal JOAQUIM, ex-governador do DF. Desde que ele saiu da cidade de Luziânia-GO para ser político em Brasília, ele nunca perdeu uma eleição (ainda que as vitórias tenham sido por meios ilícitos) tampouco uma causa na justiça. O homem de vocabulário restrito, mas de bondoso coração-paterno (gosta de dar as terras da União aos seus eleitores e cabos eleitorais), tem excelentes advogados e um bom relacionamento com alguns dos “intocáveis” do Judiciário. E como ele, há muitos Brasil afora!...
Já que por muitas vezes enganei-me com relação a assuntos polêmicos, espero também estar enganado com relação à eficácia e, principalmente, à credibilidade dessa tal "Ficha Limpa".
MEUS VERSOS LÍRICOS

VAMOS FAZER POESIA?
(Joésio Menezes)

Vamos, criançada,
Vamos com alegria,
Tirar versos do nada
E fazer uma poesia?

É só andar pela rua
E de cara contra o vento
Perguntar à nobre Lua
Qual a cor do firmamento.

Depois, nos jardins da vida,
Ter coragem e liberdade
De perguntar à margarida
Qual a flor da idade.

Vamos perguntar, também,
Aos doze meses do ano
Que parentesco eles têm
Com o Tempo soberano.

E nas fronteiras do Universo
Perguntar às estrelas do Céu
Quantas palavras em verso
Cabem na folha de papel.

E se necessário for,
Perguntaremos ainda
Ao grande Criador
O que faz a Natureza linda...

Depois disso, garotada,
É só juntar a fantasia
Às respostas encontradas
E estará feita a poesia!


RELICÁRIO DO NADA
(Joésio Menezes)

“Por onde andei” descobri
Que “ainda gosto dela”.
E “hoje mesmo” percebi”
Que a vida é só “eu e ela”.

Com ela, “dias loucos” vivi...
Vivi “sim”, mas a cautela
Me fez notar que moro “ali”
Bem na “luz dos olhos” dela.

“Nos seus olhos” me instalei
E “sutilmente” encontrei
A “resposta” procurada:

O “nosso amor” é real,
Mas nossa vida “infernal”
É um “relicário” do nada.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

PASSEIO AO CAMPO
(Florbela Espanca)

Meu amor! Meu amante! Meu amigo!
Colhe a hora que passa, hora divina,
Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
Sinto-me alegre e forte! Sou menina!

Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina…
Pele doirada de alabastro antigo…
Frágeis mãos de madona florentina…
- Vamos correr e rir por entre o trigo! –

Há rendas de gramíneas pelos montes…
Papoilas rubras nos trigais maduros…
Água azulada a cintilar nas fontes…

E à volta, Amor… tornemos, nas alfombras
Dos caminhos selvagens e escuros,
Num astro só as nossas duas sombras…


EPIGRAMA
(Gregório de Mattos e Guerra)

Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

Os círios lá vêm aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.

Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
CRÔNICA DA SEMANA

EU TE AMO... NÃO DIZ TUDO!
(Arnaldo Jabor)

Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você quando for preciso.
Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é ver como ele(a) fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.
Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro; aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!