sexta-feira, 13 de maio de 2011

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

CORPOS
(Expedito Gonçalves Dias)

Corpos sãos
são corpos que ardem,
que se entregam,
se esfregam,
se esfolam,
se falam,
se calam, às vezes...

Corpos são belos,
repletos de pelos,
ou retos e lisos.

Corpos, às vezes são meios,
às vezes são fim.
Há corpos que deslizam,
se afastam sem aviso.

Os que se rebaixam,
que se acham no fundo sem opção,
frutos do meio,
escravos,
infecundos,
opacos ou vazios,
simples aberração!

Há os concisos,
bravos senhores de si,
que se acham
'encorpados',
tão cheios,
descolados
e se encaixam,
tão free!..
que se esborracham!

Ah, há aqueles corpos sem pudor,
quentes, ardentes, no cio...
E aqueles gelados etéreos,
indiferentes e sem calor.
Há os esqueléticos
e os sarados.
Há os abertos,
escancarados,
e os corpos herméticos.

Também tem uns empinadinhos,
curvilíneos, atraentes;
e outros em desalinho.

Há corpos que brilham,
que ofuscam os demais,
os que se buscam,
que se aliam,
que se casam.
Os que se traem,
depois se reconciliam;
os enganados,
os que sabiam,
os de guerra e os de paz...

Há os que, como ímã, se atraem,
ou se repelem,
tão carentes...

Há corpos que se intrometem:
os que engrossam,
os que afinam;
os que molestam,
os que querem,
os que detestam.

E os que se submetem
aos que dominam.

Há ainda corpos que se somam,
que subtraem.
Corpos que se espalham,
extrapolam,
extravazam,
se retalham,
se metralham!

Corpos sãos se remetem!
Se desejam,
se beijam,
se completam...

Os outros, não são!


EPITÁFIO D’UM AMOR
(Vitalves Neto)

Fui extenso, limitado, fui belo,
fui pródigo, fui profano, fui...

Hoje nada sou, de mim resta quase nada,
muito pouco, não mais o bastante,
talvez lembranças, sonhos,
mas foram-se as ilusões.

As esperanças devoram-me dia após dia
como um vapor que leva a última gota
do que já foi um oceano,
mas não me rendo, vou até o fim,
mesmo que não mais percebam-me,
que não falem mais de mim,
ainda estarei aqui,
alimentando-me do que me devora,
e quando tudo de mim se for,
irei ao meu mausoléu e lá
ficará em memória esse meu epitáfio,
que aos poucos se diminuirá,
porém jamais se findará,
pois, não fui eterno,
mas o que restará de mim será.

Quando eu me for,
deixarei tudo preparado para um próximo,
meu espaço vazio,
minhas duas metades desfeitas,
ambas buscando outra metade,
que provirão dois amores,
mais duas histórias de amores
que podem terminar igual a mim.

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