quinta-feira, 1 de novembro de 2012


CRÔNICA DA SEMANA

AFINIDADE
(Arthur da Távola)

Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois. A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. E o mais independente também.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades... Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras, é receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.
Não é sentir nem sentir contra... 
Nem sentir para... 
Nem sentir por... 
Nem sentir pelo... 
Afinidade é sentir com.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber... É mais calar do que falar, ou, quando falar, jamais explicar: apenas afirmar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas. Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca existiram, foram apenas oportunidades dadas pela vida. 

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