quinta-feira, 1 de novembro de 2012


O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

ALTA NOITE
(Cassiano Nunes)

Alta noite, leio Marianne Moore.
Passos no lajedo.
Olho através da grade.
De fora,
os dois gorjeiam cumprimentos
com a cordialidade aflita
do vício carecido.
Tão acessíveis suas carnes claras,
tão disponível
o frescor da juventude!
Partem desajeitados
com a recusa amável.
De novo, a solidão.
Há luz demais!
Procuro agora
versos pássaros.
Busco, também carente,
remota, salvadora canção. 

O VERBO NO INFINITO

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar 
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

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