quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

INEXPLICAVELMENTE
(José Décio Filho)

Eu não precisava de luares,
porque eles fazem sonhar perdidamente
e eu já tenho a cabeça pesada de sonhos.

Não precisava do teu indeciso amor,
porque o meu amor é imenso e vário,
transbordante e humilde.

Não precisava da ternura
que esperei dos teus lábios,
porque uma voz mais legítima,
voz que se perdeu nas distâncias,
já derramou nos meus ouvidos
rios de consolo e de afeto.

Alegrias, torturas, aflição,
mágoa violenta e crispante,
solidão, desdém, insultos,
noites e manhãs virginais,
caminhos de sombra e de luz,
esperanças, paisagens e ruídos,
esperanças que não mais se esgotarão.
De nada disso eu precisava,
pois tenho tudo dentro de mim
como dádiva do mundo
e herança de outras vidas.

Mesmo assim, porém,
tudo isso procuro ansioso
pra me afligir ainda mais,
para ver se transbordo de uma vez!


CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE
(Mário Quintana)

Tão bom viver dia a dia…
A vida assim, jamais cansa…
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu…
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência… esperança…
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas…

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