O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA
(Cora Coralina)
Estás
morto, estás velho, estás cansado!
Como
um suco de lágrimas pungidas
Ei-las,
as rugas, as indefinidas
Noites
do ser vencido e fatigado.
Envolve-te
o crepúsculo gelado
Que
vai soturno amortalhando as vidas
Ante
o repouso em músicas gemidas
No
fundo coração dilacerado.
A
cabeça pendida de fadiga,
Sentes
a morte taciturna e amiga,
Que
os teus nervosos círculos governa.
Estás
velho estás morto! Ó dor, delírio,
Alma
despedaçada de martírio
Ó
desespero da desgraça eterna.
SONETOS
QUE NÃO SÃO
(Hilda
Hilst)
Aflição
de ser eu e não ser outra.
Aflição
de não ser, amor, aquela
Que
muitas filhas te deu, casou donzela
E
à noite se prepara e se adivinha
Objeto
de amor, atenta e bela.
Aflição
de não ser a grande ilha
Que
te retém e não te desespera.
(A
noite como fera se avizinha.)
Aflição
de ser água em meio à terra
E
ter a face conturbada e móvel.
E
a um só tempo múltipla e imóvel
Não
saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição
de te amar, se te comove.
E
sendo água, amor, querer ser terra.
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