quinta-feira, 23 de agosto de 2012


CRÔNICA DA SEMANA

ESCREVER É VICIANTE
(Taís Luso de Carvalho)

Começo este texto dizendo como é bom e também difícil escrever. Fico a imaginar certos cronistas que escrevem diariamente para jornais, também. Sei quais são, sou boa leitora de jornais. Na maioria das vezes eles escrevem crônicas excelentes, outros dias, nem tanto. Mas há de se dar um desconto: não é fácil lançar um texto por dia, com hora marcada e com contrato a cumprir. O jornal não espera; a revista tem prazo pra fechar a página. É uma luta contra o tempo. Tenta-se tirar assunto até de pedra. Mas o pior é que nem tudo tem importância para se levado ao leitor. Então existe mais esse critério a seguir: o que realmente é relevante para ser contado. Como ficam os escritores profissionais com tempo se esgotando? Esses, são os heróis da escrita.
Estava há 5 minutos revendo e corrigindo uma crônica e parei: vi que minhas ideias estavam se embaralhando; Quanto mais mexia, pior ficava. Que maçaroca!...
Pulei pra outra folha, branquinha e fria, louca pra que eu me danasse novamente. Todas as folhas brancas são iguais: nos desafiam a escrever algo que preste.
Algumas vezes começo um texto, e na metade... cai! Ué, por que caiu? Uma palavra é o bastante para puxar uma lembrança e o negócio se mistura. Qualquer coisa que se escreve tem o seu tempo de maturação, muita coisa se desarruma. Deixo em banho-maria. Mas... e quem não tem tempo para esperar?
Cada vez exercito mais a objetividade. Enxugar um texto se faz necessário pra não cansar o coitado do leitor, ainda mais com a Internet que requer textos curtos e objetivos. Não dá pra ficar enfeitando, usando adjetivos desnecessários num país que já lê pouco.
Por que não paro por hoje? Por que não fecho o computador e recomeço outro dia? Só tenho uma resposta: escrever vicia. Insisto, tento. Não me entrego. Faço um esboço do assunto e paro. Volto, releio, enxugo, modifico. Troco de assunto no meio do caminho porque surgiu uma nova ideia. É como se estivesse pintando uma obra e vejo que não acertei o tom, o traçado, o equilíbrio, a harmonia, sei lá!... Dá uma agonia. Mas uma agonia diferente, não de dor, mas de procura. Tudo que é bom e que gostamos, vicia! Uma parte do cérebro dita a regra: faça porque é bom!
Mas, nem tudo o que se pensa deve ir para a mídia. Pode ser importante para alguns, mas não para outros. E principalmente quando falamos de sentimentos. Aí pode ser desastroso. Enquanto me sensibilizo e sofro por algo, para o leitor pode ser galhofa.
Ninguém escreve para si; se assim fosse não sairia da gaveta. Penso que na era da informática, da escrita livre e rápida dos blogs, sites, Facebook... as gavetas ficaram limpas. Todos querem se manifestar, porque o ser humano sempre tem algo para dizer. E cada um se manifesta e se expressa de seu jeito: uns na escrita, outros na arte, outros na oratória, na dança, na mímica... Enfim, queremos criar.
E essa comunicação livre, essa liberdade que temos na Internet, é que deve ser preservada. Naturalmente com qualidade e com respeito; escrever por prazer, exercitar nossa mente e colocar ordem nas ideias.
Não tenho dúvida de que escrever é um vício tanto quanto gostar de ler ou praticar esporte. Os que gostam de escrever sabem o quanto é viciante e desafiador olhar para uma folha em branco.
É trabalhoso, mas como é bom!...

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