domingo, 11 de setembro de 2011

CRÔNICA DA SEMANA

A VELHICE
(Tais Luso de Carvalho)

Ontem à tarde, assentei meus olhos em uns escritos sobre a velhice, de Marco Tulio Cícero, filósofo de escrita elegante. Mas, encontrei algumas coisas com ímpetos um pouco patéticos, ao falar dos velhos e da morte. Foi um tanto desconfortável, e fiquei a refletir.
Confesso que algumas coisas me abateram, é difícil admitir que a perspectiva de morrer seja natural para os velhos. Não por acreditar na nossa perpetuação, somos finitos, mas por ter a consciência de como e em que circunstâncias os velhos se aproximam do fim. Nenhum velho desapega-se da vida de uma maneira natural, aceitando conformado o que lhe é arrancado com brutalidade. Eles calam, silenciam, encobrem. Mas eles pensam, sentem e, quando a sós, choram... E isso é tenebroso para os filhos.
Enquanto estiver existindo lucidez, existirá o instinto de conservação, o apego à vida. A esperança.
Não contradigo, no entanto, que os velhos não possam perceber a morte, porém não com resignação, mesmo acreditando que possa existir outra vida.
Fiquei algum tempo a pensar na morte, o que não me foi nada agradável, pois sou uma pessoa alegre e otimista. Mas isso se deu pelas minhas primeiras perdas, já que nunca tinha me deparado com tal sentimento, com esta situação dilacerante da perda de alguém tão próximo. E aos poucos...
Penso que o ato de morrer deveria vir como um presente, como uma dádiva - se é que Deus existe -, sem sofrimento e sem dor, tanto para os que vão, como para os que ficam. Até como recompensa por nossos velhos terem sido corajosos, por terem trilhado caminhos difíceis ou vivido, alguns, numa festança quiçá equivocada. Seria um ato de misericórdia D’Ele. Sei que estou sendo utópica, mas se assim fosse, amenizaria um pouco nosso sofrimento.
Ver e sentir tal dor de perto e achá-la natural não existe, o que existe é um conformismo. Acredito nisso. E surgem as perguntas - algumas já conhecidas. E nehuma resposta.
O ser humano sempre precisou acreditar na perpetuação da vida através do espírito. Não importando o caminho. Confesso que eu ainda não sei de nada, até gostaria de acreditar em algo. Desde sempre o homem procurou acreditar em um Deus. Ter fé é como ter um coringa; é sorte e um privilégio.
Os homens sempre foram em busca de um Deus, seja em Cristo ou venerando o Sol, a Lua, enfim, a vários elementos onde um ser superior pudesse ser representado com grandeza e perfeição para atenuar nosso morrer ou nossa 'passagem'.
Porém, se ao ter lido aquele trecho de Cícero fiquei com uma sensação desconfortável, mais tarde recuperei-me com a paz e a doçura de Gilberto Freire quando diz: Venha doce morte... Não, a morte não é doce, mas peço a amarga morte que ela venha docemente...
Seria um sonho se assim fosse: tanto para os que têm fé como para outros que ainda buscam encontrar a sua paz.
Espero, no entanto, quando meu dia chegar, quando meu olhar tiver o brilho opaco da despedida, que eu tenha a doce ilusão de que a morte não me venha tão amarga, que me toque docemente e, sobretudo, com compaixão.

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