quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CRÔNICA DA SEMANA


SOMOS TODOS FILHOS DA MÃE
(Cecília Egreja)

Se há coisa que ninguém entende é o fato de uma mulher não querer ter filhos. Não entendem e não perdoam.
É tão grande a incompreensão que já tive o desprazer de ouvir que jamais vou me realizar como mulher se não tiver filhos. Então ser mulher se resume, unicamente, ao fato de poder gerar outro ser? Ah, que bobagem! Poder eu posso, mas não quero e nem devo.
Antes de gerar um filho é necessário saber-se uma boa mãe, ter a certeza, ou ao menos a desconfiança, de que será capaz de desempenhar esta tarefa, que acredito ser, a mais difícil da vida.
É fundamental dar bons exemplos. Nunca beber além de uma taça de vinho e ainda assim, ficar risonha e rosada. Fumar, nem em sonho. Quanto aos jogos, está liberado o dominó, aos domingos. É imprescindível que uma mãe durma sempre antes das 23h e nunca acorde depois das 7h, que goste de cozinhar, lavar, passar, limpar remelas e trocar fraldas. Isto, claro, sem contar as insuportáveis apresentações de balé do final de ano.
Não. Não é por egoísmo que não quero crianças. E sim por amar demais, mesmo que em projeto, o suposto filho. Além do mais, meus irmãos já fizeram isso por mim, me dando sobrinhos adoráveis.
Uma mulher só deveria ser mãe após os sessenta anos, quando o seu maior problema já não é mais o rosa ou o vermelho do esmalte. Deveria ter mestrado, doutorado, ser PHD em vida. Saber a medida exata entre o excesso e a carência, mimar sem estragar. Mas o que vejo são crianças brincando com crianças. Seus filhos são as Barbies e os Kens, com certa dose de veracidade.
No mais das vezes, nem é preciso amor para gerá-los. Basta um encontro casual, uma camisinha furada e pronto! Nove meses depois vem o choro de arrependimento e inépcia.
Ser mãe não é para mim. O mundo não precisa de mais humanos. Precisa de poesia e meus poemas são meus filhos. E estes sim, para gerá-los, só com amor.
Ser mãe não é pra qualquer uma. É preciso ser uma mulher fora do comum pra poder ensinar uma pessoinha a ser gente. A maioria põe crianças no mundo para, mais cedo ou mais tarde, enriquecer os psicólogos.
Alguns casos deram certo. Maria, por exemplo. A mãe de Gandhi também deve ter se empenhado... Mas ainda assim, não puderam defender seus filhos dos outros filhos da mãe.
Minha mãe é uma mulher que acredita piamente no amor. Se o amor não transforma, nada mais no mundo resolve, diz ela. Talvez esta seja a minha real razão de não querer filhos. Perto dela serei sempre uma aprendiz despreparada e sem jeito. E quem a conhece, sabe que a tarefa, por melhor desempenhada, nem sempre é garantia de sucesso. Coração de filho é invariavelmente menor que o da mãe, o que só colabora pra deixar ainda mais estreita a humanidade.
Ah, mas eu não. Não quero deixar frutos, frutas ou sementes. Não tenho idade pra isso, nunca tive e nunca vou ter.
Definitivamente não quero filhos. Quero ser avó. Disto não abro mão. Darei um jeito.

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