terça-feira, 30 de setembro de 2008

RESENHA LITERÁRIA


AS MENINAS
(Lygia Fagundes Telles)

O livro As Meninas foi lançado no ano de 1973, um dos períodos mais críticos da História recente de nosso país, já que a censura e a repressão do governo militar estava no auge. O livro nos trás a história de três meninas que têm o seu destino trançado, ao se encontrar em um pensionato de freiras. A partir de então, a autora nos trás o relato do dia a dia das meninas, em uma sucessão de acontecimentos e diálogos surpreendentes. Com uma dose de coragem, Lygia Fagundes Telles aborda temas polêmicos em seu livro e apresenta uma crítica velada ao sistema imposto naquele momento.
Em um primeiro momento temos a descrição das três personagens principais. Lorena é apresentada como a menina rica e cheia de ideais. Apaixonada por Marcos Nemesius, um médico casado e pai de cinco filhos, a estudante de Direito passa o livro a sonhar com um telefonema, uma visita ou mesmo um recado de seu amado, o que nunca ocorre.
A segunda personagem retratada é a revolucionária Lia, chamada algumas vezes por suas amigas de “Lião”. Filha de uma brasileira, natural da Bahia, com um alemão ex-nazista, Lia tem seus ideais bem resolvidos e demonstra muita fibra ao persegui-los, não importando as dificuldades que tenha que superar. Estudante de Ciências Sociais, tenta a todo custo reencontrar seu namorado, um preso político que será enviado para a Argélia.
Já, Ana Clara, é uma atormentada aluna de Psicologia que passa toda a história envolta com problemas de drogas, seu namorado traficante e alucinações com seu trágico passado.
A primeira vista, o livro parece se tratar de simples banalidades, problemas de mulheres recém-saídas da adolescência e futilidades. Contudo, sob uma análise mais cuidadosa do enredo, podemos depreender uma genial crítica à ditadura e a sociedade brasileira da época. Se considerarmos cada personagem principal, descrita acima, como sendo um segmento da sociedade, veremos que cada papel encaixa-se com perfeição.
A sonhadora Lorena seria a elite de nosso país. Uma classe a parte, rica, sonhadora e com a tendência de florear a real situação.
A drogada Ana Clara encarnaria as classes média e popular, atormentada e fora de sintonia da realidade. Sempre preocupada com uma subida de nível e se torturando com o passado, ela acaba ficando em um mundo particular, distante de tudo.
A lutadora Lia seria a parte da sociedade envolvida com guerrilhas, manifestações e qualquer tipo de contestação ao sistema, que tentaram a todo o custo reverter a situação em curso no país.
Algumas passagens do livro nos transmitem a idéia da busca da liberdade e da esperança de voltarmos à democracia. A personagem de Ana Clara a todo o momento exclama: “Pomba!”. Seria o símbolo da tão sonhada paz que a população brasileira estava clamando, mesmo que secretamente, naquele momento? Já a personagem Lorena vive a sonhar e esperar um amor impossível (Democracia?) e seu gato Astronauta que fugiu ainda filhote. Lia, desesperançosa, resolve fugir do país e encontrar com seu namorado no exterior, recurso este muito utilizado na época.
Todas as passagens citadas nos mostra como foi hábil e muito inteligente Lygia Fagundes Telles. A semelhança de diversos compositores de música da época, que falavam através de sentido figurado para escapar da censura, Lygia com sua habitual maestria aplicou o que poderíamos chamar de um verdadeiro “drible” nos censores do regime e publicou esta obra prima da literatura brasileira.

(Fonte: www.netsaber.com.br/resumos)

Um comentário:

  1. Gosto de Meus contos preferidos. Assim que possível, comprarei As meninas. bjo

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