CRÔNICA DA SEMANA
COMO COMECEI A ESCREVER
(Fernando Sabino)
Quando eu tinha
10 anos, ao narrar a um amigo uma história que havia lido, inventei para ela um
fim diferente, que me parecia melhor. Resolvi então escrever as minhas próprias
histórias.
Durante o meu
curso de ginásio, fui estimulado pelo fato de ser sempre dos melhores em
português e dos piores em matemática — o que, para mim, significava que eu
tinha jeito para escritor.
Naquela época os
programas de rádio faziam tanto sucesso quanto os de televisão hoje em dia, e
uma revista semanal do Rio, especializada em rádio, mantinha um concurso
permanente de crônicas sob o titulo "O Que Pensam Os Rádio-Ouvintes".
Eu tinha 12, 13 anos, e não pensava grande coisa, mas minha irmã Berenice me
animava a concorrer, passando à máquina as minhas crônicas e mandando-as para o
concurso. Mandava várias por semana, e era natural que volta e meia uma fosse
premiada.
Passei a
escrever contos policiais, influenciado pelas minhas leituras do gênero. Meu
autor predileto era Edgar Wallace. Pouco depois passaria a viver sob a influência
do livro mais sensacional que já li na minha vida, que foi o Winnetou, de Karl May, cujas aventuras
procurava imitar nos meus escritos.
A partir dos 14
anos comecei a escrever histórias "mais sérias", com pretensão
literária. Muito me ajudou, neste início de carreira, ter aprendido
datilografia na velha máquina Remington do escritório de meu pai. E a mania que
passei a ter de estudar gramática e conhecer bem a língua me foi bastante útil.
Mas nada se pode
comparar à ajuda que recebi nesta primeira fase dos escritores de minha terra
Guilhermino César, João Etienne filho e Murilo Rubião - e, um pouco mais tarde,
de Marques Rebelo e Mário de Andrade, por ocasião da publicação do meu primeiro
livro, aos 18 anos.
De tudo, o mais
precioso à minha formação, todavia, talvez tenha sido a amizade que me ligou
desde então e pela vida afora a Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo
Mendes Campos, tendo como inspiração comum o culto à Literatura.
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