CRÔNICA DA SEMANA
CONSEQUÊNCIAS DO PERISPÍRITO
(Washington Pires)
Estou num estado
letárgico de realidade introspectiva. Cheguei num ponto onde meu fluxo jorra
diante de mim como alagamento. Tudo o que eu passei com você virou uma
lembrança cheia de vontades e domínios. Criou-se um sentimento que tem
insistido em me levar até você. Tenho dificuldades de aceitar muitos de seus
defeitos, os que causaram raiva, por isso te crio e recrio na mente, mas a vida
continua a mesma. Quisera eu poder transformar o que me impede de vincular-me,
de poder manter minha presença sem precisar pressionar. Admito estar fraco em
assistir o desfazimento, o ceifar de “tantos tantos”. Relutar parece ceder à
cova que mesmo criei.
Bate um imenso
desejo de sedimentar nossos elos e percolar as distâncias, que de tão soltas
pouco se tocam. Como é difícil ver as correspondências ficarem pelo caminho,
jogadas ao sabor e a sorte delas mesmas. As dificuldades nos levaram a um
percurso de transição dolorosa, as alegrias vêm pontuais e de intensidade
violenta. Palpita coração, balançam as entranhas quando forma sua imagem.
Tentar entender
o outro é tarefa que poderia ser dada ao criminoso mais hediondo, grande é o
enigma de perceber o coração. Um ditado diz ser inatingível, eu já caí, me
debrucei e nadei em várias de suas veias. Seria muito ambicioso querer saber tudo,
creio que o essencial conhecer é aquele bastante para sem dizer nenhuma palavra
exercer um comando oculto e subliminar, mesmo que de corpos distantes, você
sente a água do outro.
Existe a magia
de fascinar meu ego e o dom de amaciar minha carne. Este já seria motivo
suficiente para eu nunca mais esquecer, você extrai o melhor de mim quando sem
cerimônia fica como numa terapia diz sua alma, pestaneja sua dor e fagulha a
felicidade, muitos nem no barato de alguma substância conseguiriam fazer isso.
O amor vai
sempre renascer em várias formas, e quando ouvir a música pode ser sem os
óculos mesmo.
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