quinta-feira, 20 de setembro de 2012


O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

DESEJO
(Cassiano Ricardo)

As coisas que não conseguem morrer 
Só por isso são chamadas eternas. 
As estrelas, dolorosas lanternas 
Que não sabem o que é deixar de ser. 

Ó força incognoscível que governas 
O meu querer, como o meu não-querer. 
Quisera estar entre as simples luzernas 
Que morrem no primeiro entardecer. 

Ser Deus — e não as coisas mais ditosas 
Quanto mais breves, como são as rosas 
É não sonhar, é nada mais obter. 

Ó alegria dourada de o não ser 
Entre as coisas que são, e as nebulosas, 
Que não conseguiu dormir nem morrer.


SE EU MORRESSE AMANHÃ!
(Álvares de Azevedo)

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

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