quarta-feira, 12 de setembro de 2012


CRÔNICA DA SEMANA

O SEGUNDO DEUS
(Vivaldo Bernardes)

‎“Cessa tudo o que a antiga moral canta porque outro valor mais alto se alevanta”.
Mudada uma palavra, os versos de Camões servem como uma luva aos tempos atuais.
Mas, que valor é esse que de tão grande sobrepuja a própria moral, a própria honra? O que poderia impor-se mais alto que elas? Por que essa subordinação exacerbada, soberana e extremamente inevitável ao homem deste milênio? Que razões geram essa dependência intrínseca definidora do presente, do futuro, enfim, do destino das almas neste grãozinho do Universo?
Tremendo paradoxo!... criado e alimentado pela insensatez das diminutas dimensões neurônicas, cegas, surdas e mudas a todos e quaisquer interesses que não lhes possa sustentar o momento de superioridade material e monetária, mesmo em detrimento da evolução anímica neste estágio terreno.
É justo, natural e até louvável a busca do bem-estar e do conforto gerados pelo poder do cifrão, na medida do necessário, do indispensável à digna sobrevivência do homem de bem, desde que esse desejo não se sobreponha à razão por fortunas escamoteadas, ao arrepio do bom-senso.
A dependência hodierna ao chamado “vil metal” cresce assustadoramente na medida em que a ciência tecnológica avança, tornando obsoleto hoje o que era novidade ontem, o que obriga a sociedade mais carente a fazer das tripas coração para se considerar atualizada e se equilibrar no arame esticado do salário mínimo.
No fundo, a ânsia e adoração pela moeda é assunto corrente nos bares e botecos aos luxuosos gabinetes das altas estirpes, onde se discute a alta do dólar no câmbio mundial, tudo calculado numa fração de segundo porque tempo é dinheiro e a bolsa de valores não deve perder tempo.
A subserviência à moeda é tanta que fará, um dia, o homem tirar o chapéu a um cachorro se ele tiver dinheiro.
Vil metal!... Onde há vileza senão no homem que o usa inescrupulosamente e o adora como se inclina ante um bezerro de ouro?
Que dizer do lamentável suborno de Judas Iscariotes, que vendeu o próprio Cristo por trinta dinheiros, trinta dinheiros que o lançaram ao inferno dos suicidas?
No século atual, o prestígio social do cidadão equivale ao peso da sua conta bancária e ponto final!...

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