terça-feira, 10 de março de 2009

RESENHA LITERÁRIA


O JOGADOR
(Fiodor Dostoievski)

Alexei Ivanovich é um homem jovem que vive a plenitude de dias sem objetivos maiores. Está agregado à uma família, onde faz as vezes de professor dos filhos do general viúvo, um personagem de onde dá-se a partida para o desenrolar dos conflitos. Antônia Vassilievna, a Babuschka, a salvação finaceira do general, é uma anciã que todos julgavam caquética e esperavam sua morte para que o general, de posse da herança, saldasse suas dívidas e desposasse de sua amada, uma mulher dúbia, de passado duvidoso, ex-prostituta francesa.
Enquanto isso, Alexei Ivanovich vai nutrindo paixão avassaladora por Paulina Alexandrovna, enteada do general. Esse amor não é correspondido e Paulina o despreza, dando-lhe atenção somente quando resolve que Alexei irá jogar no cassino para ela, pois estão todos sem dinheiro, hospedados em requintado hotel à espera da morte da velha senhora.
O conflito começa nessa primeira parte quando a velha, que só fala usando de impropérios, aparece na cidade com seus criados, altiva, ainda que numa cadeira de rodas, ridicularizando a todos que esperavam por sua morte para se apropriar de sua fortuna. Ferina e loquaz, resolve, juntamente com Alexei, conhecer o cassino que fica a uns quinhentos metros do hotel.
A velha Babuschka se rende à sedução das roletas e diante dos olhares aterrorizados dos pretendentes à sua riqueza, perde todo seu dinheiro, restando-lhe apenas as propriedades. Aqui, Dostoiévski descreve com riqueza de detalhes a sordidez da avareza humana, criando ironicamente essa personagem anciã, de força moral incrivelmente superior à de todos os outros personagens.
Em meio a esta convulsão moral, Alexei Ivanovich ainda tem que se debater em angústias por um amor que não é correspondido, até que…
À essa altura, Dostoiévski provoca, surpreendentemente, uma reviravolta na vida de todos. O próprio Alexei Ivanovich se perde entre as páginas do livro, tentando, ele próprio, enquanto personagem narrador, buscar, deprimido e desesperado, o fio da meada, embolado subtamente pelo próprio escritor.
O leitor entra definitivamente nessa aventura porque já não está mais ao lado de fora como simples leitor. Agora ele já é parceiro de Alexei Ivanovich e, solidário, o acompanha na trilha do desdobramento dos desfechos, sempre inseguro porque nosso jogador está subitamente sem memória!
Alucinante cenário do que era a trajetória de pessoas que dependiam da sorte do outro, da morte de uma altiva senhora para resolverem suas agoniadas vidas atribuladas em dívidas e miséria, pondo seu status em jogo — sem trocadilho.
Alexei parece ter desistido de seu grande amor, ou antes, ainda procura explicar para o leitor o que de fato aconteceu naquelas jogatinas do cassino e no meio de tantos enredos obscuros, o leitor quer saber como terminou seu caso de paixão doentia por Paulina Alexandrovna. Que foi feito dos personagens? Quem herdou o quê? E a senhora desbocada, onde foi parar? Morreu? E por que Alexei declara de repente para o leitor que seu amor acabou estupidamente como se jamais tivesse existido?
Neste livro, tem-se a oportunidade de ouvir uma autobiografia narrada pelo próprio Dostoiévski, oportunidade única de se estar por horas a fio ao lado do gênio. Do próprio Fiódor, podendo enxergar sua alma, seu mais íntimo olhar descritivo da condição humana. Assim justifica-se ser O Jogador o maior livro, a mais extasiante obra do gênio.

(Fonte: www.lendo.org)

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