terça-feira, 24 de março de 2009

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


O POETA E A LUA
(Vinicius de Moraes)

Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de volúpia.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua.
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se pazígua...
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.


RAINHA DAS FLORES
(J. O. Nascimento)

A rainha das flores é a rosa
Quem há de discordar desta verdade?
Sendo flor perfumada e tão mimosa
É exemplo perfeito de vaidade.

Por poetas citada em verso e prosa
Brinda tanto ao amor, quanto à amizade
Presente em confidências amorosas
Presente em momentos de saudade.

Apesar do orgulho da beleza
Tem na haste agressiva a tristeza
Visto que ela não quer ferir ninguém.

Com o seu doce aroma e porte lindo
Parece que essa flor está pedindo
Perdão pelos espinhos que ela tem.

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