terça-feira, 31 de março de 2009

CRÔNICA DA SEMANA


QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO
(Joésio Menezes)

Naquela noite eu tranquilamente ensinava aos meus alunos surdos a distinção entre Substantivo Concreto e Substantivo Abstrato. Em meio às explicações e exemplos, comecei a sentir algo estranho: um reboliço fora de hora na barriga.
Inicialmente, não dei bolas para o que me acontecia. Pensando ser algo passageiro, continuei minhas explicações com exemplos dentro da realidade de cada aluno. De repente, o reboliço aumenta e, em seguida, uma dor de barriga insuportável acompanhada de calafrios toma conta de mim. Percebi que se não procurasse imediatamente um sanitário, a dor “abstrata” poderia se tornar em algo “concreto”, porém de odor abstratamente insuportável.
Pedi licença aos alunos para afastar-me por alguns minutos. Disse-lhes que precisaria ir ao banheiro. Naquele instante, notei que no rosto de cada um esboçara-se um riso sarcástico, pois haviam percebido o que se passava comigo.
Com as pernas meio tesas devido à necessidade de se trancar a saída do orifício terminal do intestino, saí lentamente da sala de aula em direção à “casinha”. No meio do percurso até o banheiro, senti que se não apressasse os passos, o “concreto” diarréico poderia acontecer ali mesmo, no meio do caminho. Porém, se isso eu fizesse e relaxasse um pouco, certamente o inevitável aconteceria. Parei e respirei fundo enquanto suava frio...
Minutos depois, lá estava eu no banheiro dos alunos. Entrei na primeira latrina que vi de porta aberta, pois a situação não me dera tempo de fazer escolhas. Só tive tempo de, apressadamente, arriar as calças. O que aconteceu a seguir, já se pode imaginar.
Depois de a “obra” concluída, senti aquela sensação de alívio, mas fui surpreendido com a falta de um artigo de primeira necessidade num banheiro: o substantivo concreto utilizado na anti-higiênica higienização pós-evacuação, popularmente conhecido como papel higiênico.
Diante dessa situação, tive que ficar como se fosse uma rosa: plantado no vaso até que alguém adentrasse naquele recinto de ar poluído. Deixei a porta entreaberta a fim de que a fedentina pudesse circular mais à vontade e ali fiquei por um longo e angustiante tempo. Nenhuma “alma penada” por lá apareceu. “E agora, o que fazer?” - eu pensava.
Com os braços cruzados sobre os joelhos, abaixei a cabeça e, enquanto aguardava socorro, fiquei contemplando o lindo par de meias que eu ganhara uma semana antes de uma aluna por ocasião do meu aniversário. “Heureca, eis a solução!” – exclamei...
Me vesti e, finalmente, voltei para a sala de aula.

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