O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA
(Augusto dos Anjos)
Como
um fantasma que se refugia
Na
solidão da natureza morta,
Por
trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu
fui refugiar-me à tua porta!
Fazia
frio e o frio que fazia
Não
era esse que a carne nos contorta...
Cortava
assim como em carniçaria
O
aço das facas incisivas corta!
Mas
tu não vieste ver minha Desgraça!
E
eu saí, como quem tudo repele,
--
Velho caixão a carregar destroços –
Levando
apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
UM CLOWN DE SHAKESPEARE
(Lucia Pereira Bezerra)
Se ontem eu me desfiz
E hoje, por acaso,
Eu me desfaço,
É que não trago
No rosto verniz
Tampouco maquilagem
De palhaço.
Não trago no meu peito
Um órgão fechado
E de aço
De tamanho tal e tal jeito
Que se atrasa ou se apresse
Que, assim, parece que é feito
De algum tipo de poliéster
Ou um outro tipo de plástico.
Se ontem eu desapareci
Eu hoje não mais me acho
É que em meu rosto cansado
Tem uma máscara a cair,
Um rio efêmero a fluir
Ou quem sabe um riacho.
Não.
Meu coração é um rio fantástico,
Caudaloso e que, acreditem, quase sorri;
Similar a pequenos e numerosos pássaros,
No espaço, sem saber o caminho a seguir.
Meu coração é um clown de Shakespeare
Em uma armadura de tarlatana e titânio.
Meu coração é de um poeta-mecânico,
Dono do meu destino e Senhor de mim.
Por isso ontem me desfiz
E hoje me desfaço:
É que não trago
No rosto verniz
Tampouco maquilagem
De palhaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário