quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

POEMA DOS OLHOS DA AMADA
(Vinícius de Morais)

Ó minha amada,
Que olhos os teus!
São cais noturnos
Cheios de adeus,
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...

Ó minha amada,
Que olhos os teus!
Quanto mistério
Nos olhos teus,
Quantos saveiros,
Quantos navios,
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus!
Se Deus houvera,
Fizera-os Deus,
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus,
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.


A ÁRVORE DA SERRA
(Augusto dos Anjos)

— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário