quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


DIVAGAÇÃO
(José Geraldo Pires de Mello)

Tu – que decerto muita vez já ouviste
O voto que em meu lábio se pressente –
Tu – Santa imagem do meu culto ardente –
Perguntas-me, a cismar, se o Amor existe...

O Amor está na essência em que consiste
O Universo com tudo o que é presente:
O homem, a fera, a pedra, a rola triste,
Do átomo menor ao Sol fulgente.

O Amor é Divindade que, no Mundo,
Anda a espalhar seu germe mais fecundo
Desde a matéria bruta ao ser mais nobre.

O Amor – que do Universo vai nos rastros –
É chama que num beijo teu se encobre,
É força cósmica que manda os astros...


À MORTE
(Vivaldo Bernardes de Almeida)

Vens chegando, à sacapa, sorrateira,
mandando-me alertas convincentes,
no preparo da hora derradeira,
com avisos mui graves e freqüentes.

Não te temo, pois vens me prevenindo,
mas suplico: dês mais tempo à poesia,
que só ela me traz ardor infindo,
e só nela eu me quedo em fantasia.

Mas, se pedir-te mais, e mais, eu posso,
atende um meu pedido qu’eu endosso,
e atrasa teu afã por mais um dia.

E pronto eu estarei, dia que quiseres,
e despedir-me-ei de mil mulheres,
em ritual de infrene boemia.

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