domingo, 23 de dezembro de 2012

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA



HOJE ACORDEI MEIO DIA
{Cassiane Schmidt}

Respirei dois goles de saudade
Fechei as cortinas
Quero mudar de cidade...

Sou avessa à rotina
Não gosto dessa coisa de estar sozinha
Solidão não é plural de gente
Se fosse assim as multidões seriam contentes

Quero um prato de flores
Um vaso de terra
Respirar novos amores
Construir uma casa na primavera

Uma cachoeira e uma lanterna.
Ver a noite desfilando vaga-lumes
O barulho da água feito fechadura
Abrindo portas dessa escura caverna.

Abrir as cortinas
Olhar o calendário sem tristeza
Ver lá fora o que não via
Ser um poema esquecido em cima da mesa...


A FOLHA SOLTA
(Ana Luísa Vasconcellos)

Atacada de liberdade,
Perseguiu-me desesperada,
Rolando suplicante pelo chão.
Dei de banda, pois,
Não queria ouvir o seu lamento.

Porém, quando bateu à porta a noite,
A notícia: a folha estava morta.
E foi de golpe de vento.
Seu cadáver na minha porta,
Com a culpa indesculpável a seu lado
Indagando-me:
Por que não acudi a tempo?

Sem razão, e já com a infeliz sobre a mão,
Disse-lhe baixinho, envergonhada:
Não entendi que clamava pela árvore mãe,
Tomei-lhe por vegetal a lastimar a independência.

Hoje, na tarde de ventania – eu não sabia –
Fui seguida por uma folha livre
Que morria...

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