quinta-feira, 10 de maio de 2012

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


FAREJADO
(Glauco Mattoso)

Bassê no apartamento fuça em tudo!
Passeia pela sala e faz lambança
no pé dos móveis, máximo que alcança
um corpo tão comprido e salsichudo...

Já li de especialistas um estudo
provando que o bassê, mais que a criança,
precisa bagunçar, e só se amansa
com beijo. Então, do meu nunca desgrudo.

Comigo no sofá, também cochila;
só falta, à mesa, usar o mesmo prato;
na cama nossa noite é bem tranquilla.

Estranham que ao cão como gente trato?
Pois saibam que até cocker, collie e fila
me latem dos vizinhos! E eu lhes lato!


MELHOR IDADE
(Enrique de Resende)

Envelheci... Na minha ingenuidade,
sem que eu jamais os percebesse um dia,
surpreenderam-me os anos... Em verdade,
não sou quem fui, não valho o que valia.

Sempre afeito, porém, à fantasia,
pois quem vive a sonhar não tem idade,
povoam-me a cabeça, na invernia,
os mesmos sonhos meus da mocidade.

Fluiu-me a vida, descuidosa e manda,
por entre sonhos de ilusão refeitos,
por entre os poemas que, a sonhar, componho.

Vida de poeta – um sonho de criança.
- Mas se em vida sonhei, de olhos abertos,
é que eras tu a vida do meu sonho.


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