domingo, 20 de novembro de 2011

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

CRIOULA
(Alzira Rufino)

Eu sou criola decente
Não sou vil
Estou nas cordas
Em equilíbrio

De um Brasil
A minha cor apavora
Essa raça agride ouvi dizer
Não é nos dentes do negro


Não é no sexo do negro
É na arte do negro
De viver
Melhor dizendo

Sobreviver
Com essa coisa que arrasta
O tronco que tentam esconder
Mas esses troncos existem

No conviver
Os troncos estão nas favelas
Vejo troncos nas vielas
Nas moradias fedidas

Nas peles sem esperança
Nas enxurradas de não
No jogo das damas e reis
Eu me perdi

Nas rotas dos estiletes
Nas celas e nos engodos
Negro carretel de rolo
Querem fazer um mundo
Marginal criolo


A SENZALA
(Castro Alves)

Qual o veado, que buscou o aprisco,
Balindo arisco, para a cerva corre...
ou como o pombo, que os arrulos solta,
Se ao ninho volta, quando a tarde morre...,

Assim, cantando a pastoril balada,
Já na esplanada o lenhador chegou.
Para a cabana da gentil Maria
Com que alegria a suspirar marchou!

Ei-la a casinha... tão pequena e bela!
Como é singela com seus brancos muros!
Que liso teto de sapé doirado!
Que ar engraçado! que perfumes puros!

Abre a janela para o campo verde,
Que além se perde pelos cerros nus...
A testa enfeita da infantil choupana
Verde liana de festões azuis. I

É este o galho da rolinha brava,
Aonde a escrava seu viver abriga...
Canta a jandaia sobre a curva rama
E alegre chama sua dona amiga.

Aqui n'aurora, abandonando os ninhos,
Os passarinhos vêm pedir-lhe pão;
Pousam-lhe alegres nos cabelos bastos,
Nos seios castos, na pequena mão.

Eis o painel encantado,
Que eu quis pintar, mas não pude...
Lucas melhor o traçara
Na canção suave e rude...

Vede que olhar, que sorriso
S'expande no brônzeo rosto,
Vendo o lar do seu amor...
Ai! Da luz do Paraíso
Bate-lhe em cheio o fulgor.

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