quinta-feira, 4 de outubro de 2012


O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

POÉTICA
(Antonio Miranda)

para Trina Quiñones

Um menino me disse
- mas estava enganado -
gostar de poesia porque
ele lia tudo rapidinho.

Ledo engano: quanto menor
o poema, mais denso
requer pausas, releituras
cruzar os pensamentos.

Ler no espaço das palavras
além das formas/idéias
não ler as palavras
mas sua tessitura interna.

A poesia é mais de quem lê
do que de quem escreve
- o poema circunscreve
um universo qualquer.

Todo poema é hermético
requer um certo desvendar
porque o poeta-ventríloqüo
fala pela boca de outrem.

Palavras-coisas, lapidais.
Palavras-pessoas, além
de si mesmas - outras
- palavras homologais

mesmo as circunstanciais
cifradas no eu-mesmo
da poesia do circunlóquio
que se liberta e ganha
espaço.


CONTADO, PESADO E MEDIDO
(José Geraldo Pires de Mello)

Por que afirmas que tudo, nesta vida,
Tem de estar, de uma forma ou de outra forma,

Sujeito à condição, sujeito à norma
Da contagem, do peso e da medida?

Eu não creio na dor funda e sentida
Que em triplo de si mesma se transforma,
Nem creio num amor que se conforma
Com sete oitavos de uma despedida.

A décima potência do desejo,
Que pode interessar? Que vale o beijo,
Se na raiz quadrada se apresenta?

A mim, que as certas contas ando alheio,
Mais me importa a ternura do teu seio
Que o cosseno dos arcos que ele ostenta...

Nenhum comentário:

Postar um comentário