CRÔNICA DA SEMANA
LOUCOS E SANTOS
(Oscar Wilde)
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco
e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e
angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem
das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e
pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior
alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos
assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros
piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de
aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos
adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice!... Crianças,
para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca
tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois
os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me
esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
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