quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

CRÔNICA DA SEMANA

À LUZ DE VELA
(por Mônica, cronicasurbanas.wordpress.com)

Vivi boa parte da minha vida numa parte da cidade onde não havia edifícios. Todo mundo morava em casas espaçosas construídas em terrenos enormes, jardins bem cuidados e quintais com árvores e muito espaço pra meninada brincar.
Minha rua era de calçamento de pedra, ladeada por flamboyants que na primavera cobriam tudo de vermelho, laranja e verde. À noite tinha aquele cheirinho inconfundível do pé de dama-da-noite que ficava do lado do portão. A gente ouvia sapos e corujas, de manhã cedo tinha bem-te-vi cantando bem embaixo da janela. Era uma delícia. Problema mesmo, só quando chovia. Aliás, nem precisava chover, era só ameaçar e pronto, a luz ia embora.
O estoque de velas, fósforos e lanternas da nossa casa era respeitável e aos primeiros sinais de uma possível tempestade (um vento mais forte ou trovões, mesmo que bem longe) todo mundo já se colocava a postos. Quando o céu desabava pesado, ventania nos galhos das árvores, o cheiro de terra molhada, era uma questão de tempo pra ficarmos sem luz. Não que me importasse muito, sobretudo se fosse à noite. Eu adorava ficar vendo o quintal e a lagoa através do clarão dos relâmpagos. A gente sentava na mesa da sala de jantar e ia bater papo, ou então meu irmão pegava o violão e começava a tocar. Algumas (raras) vezes a luz voltava logo, mas o mais comum era irmos pra cama levando velas para o quarto.
Ainda hoje gosto de ver as tempestades quando estou quietinha e quentinha em casa, elas me trazem imagens e sensações da infância. E, mesmo morando hoje numa região onde esse problema não existe, continuo mantendo velas e fósforos sempre à mão…

Nenhum comentário:

Postar um comentário