CRÔNICA DA SEMANA
(Clarissa
Corrêa)
Escrevo para
você, que se sente sozinha. Que quer despertar com um beijo de bom dia. Que de
vez em quando sente medo e não tem quem abraçar. Que quer alguém para dormir de
conchinha. Que, por mais que tenha amigos, carreira e sonhos, não tem um amor.
Quero te dizer
que não precisa ter inveja da sua colega de faculdade, da sua amiga de infância,
da vizinha ao lado, daquela moça bonita que outro dia andava de mãos dadas com
aquele moço bonito. Você não precisa sentir-se deslocada por ir ao cinema sem
namorado. Nem por almoçar ou jantar sem ninguém do outro lado.
Escrevo para
você, que sente uma ponta de inveja ao ver sua amiga que está namorando feliz.
Que sente um leve recalque por ter visto sua colega da primeira série vestida
de noiva. Que não consegue esconder que também queria que o final feliz pulasse
dos finais dos filmes para a (sua) vida real.
Quero dizer-lhe
que ter um amor não basta. Assim como ter um corpo em dia não basta. Assim como
ser reconhecida no trabalho não basta. Assim como ter um cabelo que não arrepia
em dias chuvosos não basta. Assim como realizar todos os sonhos do mundo não
basta. E nunca, nunca vai bastar. A gente quer mais, sempre mais. O pouco não
contenta. O mais ou menos não convence. O alguma coisa não enche a barriga, o
coração, os poros, a vida.
Escrevo para
você que acha que ter um namorado resolve todos os problemas do mundo. Não se
engane, por favor, não se engane. É claro que existe companheirismo,
cumplicidade, tesão, amor, amizade, parceria, admiração. É claro que existem
todos os prós do mundo. Mas também existe briga, cara feia, troca de farpas e o
lado sujo daquilo que a gente sempre quis um dia. Existe a chatice, o egoísmo
humano, os defeitos em luzes neon piscando pela cidade.
Quero te dizer
que muito mais importante que ter alguém é ter paz. Muito mais importante que
ter alguém é saber lidar com você mesma. É se gostar, se curtir, se suportar,
se superar todo dia. É gostar do que vê e do que não é visível aos olhos. É
engolir e sorrir para a própria companhia. Muito mais importante que ter alguém
é estar todo dia verdadeiramente apaixonada pelo “alguém” mais importante da
sua vida: você mesma.
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