quinta-feira, 21 de março de 2013

CRÔNICA DA SEMANA


COISAS QUE PODEMOS ESQUECER
(Tais Luso de Carvalho)

Por natureza, não sou uma pessoa triste, muito pelo contrário, mas sei que nossas vidas sempre serão povoadas por alegrias e tristezas, por coisas que passaram e por desafios que virão. Por vezes, certas coisas incomodam. Outras não. Fazem parte da bagagem.
Há dias, recebi uma mensagem por e-mail, um pps lindo. Mostrava Veneza num rigoroso inverno, enquanto Charles Aznavour cantava “Que c'est triste Venise”. Lindamente triste, se dá para dizer assim. O inverno é uma estação um pouco melancólica - se for longo.
            Veneza e o Velho Mundo... tão lindo.  Fiquei olhando a cidade e sua arte; seu Palazzo Ducale  maravilhoso e histórico.  Imaginei-me no inverno de Veneza, mas não como turista, e sim fazendo parte da cidade.  Porém, eu não aguentaria por muito tempo o inverno europeu. 
Mas, “Que c'est triste Venise” me pegou de mau jeito: começou a desencadear e a trazer à tona, algumas perdas, o passado, presente, futuro... Em pouco tempo estava aberto o baú das lembranças, onde estava tudo ajeitado, dobrado, guardado.
Mais tarde, dando uma volta no meu bairro, fui pensando na vida, na minha família, no próprio bairro e na minha cidade – que adoro. Lógico que certos pensamentos me acompanharam no passeio – ao olhar tantas árvores, o parque e as construções já tão íntimas. Tive a sensação de que tudo era meu, mas que um dia tudo deixará de ser. Senti que fui levada para outro patamar.  São pensamentos difíceis de serem dominados, pois chegam a mil, sem pedirem licença para entrar. E junto, chegam alguns questionamentos.
Qual a criança que não tem seus medos, suas inseguranças? Qual adolescente que não tem seus sonhos, suas frustrações, suas recaídas? Qual de nós, adultos, não temos nossas dúvidas, nossas preocupações, nossos pressentimentos quanto aos anos restantes caindo de maduro?
Este é o resultado de sermos tocados por uma música triste, por um filme triste, um inverno nebuloso e pintado por uma triste neblina. E hoje fui tocada por umas fotos tristes. Estas situações têm o poder de buscar tudo o que estava em repouso e jogar na nossa frente: taí, te vira com o entulho! Às vezes nos incomoda.
Mas hoje aconteceu o que eu não previa: certas lembranças, que vieram de supetão, não me surpreenderam.  Vi que ficaram muito longe, esquecidas. Nada despertou; nada se desarrumou. Minhas perdas já assimilei e algumas bobagens – esquecidas. Tudo aquietado, empoeirado no velho baú que cada um carrega consigo. Preferi ficar com coisas significativas, conquistas.
Penso nisso como um amadurecimento. De que adianta remexer tanto no passado, trazendo mágoas, raivas e lembranças que só servem para  tirar o foco do presente e do futuro?
Como estamos informatizados demais, quem sabe a gente não  aprende, sem querer, a deletar certos arquivos  que não fazem mais falta...
            Os anos nos tiram o viço da pele, mas nos dão algo em troca.
            Ainda bem...

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