CRÔNICA DA SEMANA
COISAS QUE PODEMOS ESQUECER
(Tais Luso de Carvalho)
Por natureza,
não sou uma pessoa triste, muito pelo contrário, mas sei que nossas vidas
sempre serão povoadas por alegrias e tristezas, por coisas que passaram e por
desafios que virão. Por vezes, certas coisas incomodam. Outras não. Fazem parte
da bagagem.
Há dias, recebi
uma mensagem por e-mail, um pps lindo. Mostrava Veneza num rigoroso inverno,
enquanto Charles Aznavour cantava “Que c'est triste Venise”. Lindamente triste,
se dá para dizer assim. O inverno é uma estação um pouco melancólica - se for
longo.
Veneza e o Velho Mundo... tão
lindo. Fiquei olhando a cidade e sua
arte; seu Palazzo Ducale maravilhoso e
histórico. Imaginei-me no inverno de
Veneza, mas não como turista, e sim fazendo parte da cidade. Porém, eu não aguentaria por muito tempo o
inverno europeu.
Mas, “Que c'est
triste Venise” me pegou de mau jeito: começou a desencadear e a trazer à tona,
algumas perdas, o passado, presente, futuro... Em pouco tempo estava aberto o
baú das lembranças, onde estava tudo ajeitado, dobrado, guardado.
Mais tarde,
dando uma volta no meu bairro, fui pensando na vida, na minha família, no
próprio bairro e na minha cidade – que adoro. Lógico que certos pensamentos me
acompanharam no passeio – ao olhar tantas árvores, o parque e as construções já
tão íntimas. Tive a sensação de que tudo era meu, mas que um dia tudo deixará
de ser. Senti que fui levada para outro patamar. São pensamentos difíceis de serem dominados,
pois chegam a mil, sem pedirem licença para entrar. E junto, chegam alguns
questionamentos.
Qual a criança
que não tem seus medos, suas inseguranças? Qual adolescente que não tem seus
sonhos, suas frustrações, suas recaídas? Qual de nós, adultos, não temos nossas
dúvidas, nossas preocupações, nossos pressentimentos quanto aos anos restantes
caindo de maduro?
Este é o
resultado de sermos tocados por uma música triste, por um filme triste, um
inverno nebuloso e pintado por uma triste neblina. E hoje fui tocada por umas
fotos tristes. Estas situações têm o poder de buscar tudo o que estava em repouso
e jogar na nossa frente: taí, te vira com o entulho! Às vezes nos incomoda.
Mas hoje
aconteceu o que eu não previa: certas lembranças, que vieram de supetão, não me
surpreenderam. Vi que ficaram muito
longe, esquecidas. Nada despertou; nada se desarrumou. Minhas perdas já
assimilei e algumas bobagens – esquecidas. Tudo aquietado, empoeirado no velho
baú que cada um carrega consigo. Preferi ficar com coisas significativas,
conquistas.
Penso nisso como
um amadurecimento. De que adianta remexer tanto no passado, trazendo mágoas,
raivas e lembranças que só servem para
tirar o foco do presente e do futuro?
Como estamos
informatizados demais, quem sabe a gente não
aprende, sem querer, a deletar certos arquivos que não fazem mais falta...
Os anos nos tiram o viço da pele, mas
nos dão algo em troca.
Ainda bem...
Nenhum comentário:
Postar um comentário