terça-feira, 3 de novembro de 2009

CRÔNICA DA SEMANA


INFINITO PARTICULAR
(Eduardo Loureiro Jr.)

Acontece comigo pouco antes do orgasmo: o desejo de infinitude. Vontade de que aquilo nunca acabe, ou que recomece imediatamente. Mas quando o prazer escorre — líquido — o desejável infinito já se acabou.
Acontece também durante a escrita ou a leitura. Quando me aproximo do final, retardo o ritmo na esperança de que a criação ou a contemplação não tenha fim. Mas sempre tem.
Acontece ainda quando, vendo o sorriso no rosto da mulher amada, meu coração acredita que será assim pra sempre. Mas meu coração, fraco por natureza, logo esquece.
E tudo depois se repete: o prazer, a criação, o amor. Mas, antes que se repita, aparece a vontade de solidão, o fastio das letras e o desassossego do coração.
Eu brinco de lua com o infinito: ora cheio, dominante, ora novo, invisível. As fases, as frases, as fibroses. E de tanto brincar, no fim do que se chama tarde, às vezes me dá um cansaço: vontade de banho e de sopa de feijão, de futebol na TV e de sono.
Em quase tudo que quero, há o que não quero. Feito promoção: compre o que você precisa e leve o que você não precisa, grátis. "Grátis". E eu levo tudo ou levo nada, quase nunca levo só o que quero. Vida é assim o presente com penduricalho, o doce que amarga no final?
Mas não sou eu que rejeita o mel infinito e gosta de alternar entre o doce e o salgado? Não sou eu que admira o drible adversário? Sim, sou eu. Essas coisas todas do mundo — comida, comércio, futebol — falam mesmo é da gente. Com a lua lá em cima, cheia de si feito mulher bonita, como é que posso olhar pro céu e achar que estou sozinho nesse planeta? É nóis na fita!
Bom mesmo é o abraço que acalma e excita. A bola parando na rede enquanto a torcida grita. O livro que vira filme, o filme que vira vida.
O infinito é não dar pelo fim — por esperança, ignorância ou distração. O infinito à moda da casa de cada um. Infinito particular feito impressão de dedo, feito interpretação de juiz em lance duvidoso, feito DNA. Nada se pede, nada se tira, tudo se transborda.
Feito Sol que se põe, feito Lua que mingua, feito sêmen que vinga, feito palavra que rima, feito coração que expia... tudo que finda não finda: começa aqui mesmo em outro lugar.

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