quarta-feira, 18 de novembro de 2009

CRÔNICA DA SEMANA


REMÉDIOS: MINHA NEUROSE
(Tais Luso De Carvalho)

Sou daquelas criaturas com tolerância zero para tomar remédios, é uma tortura. Detesto. A cor e o tamanho do remédio é algo que abala o meu psiquismo; se for cápsulas tipo míssil, aquelas com formato de bomba, de cor alaranjada, azul forte ou vermelho carmim, é um problema. Só ao olhar tenho náuseas. A força que tenho de fazer é inacreditável. Tenho de pensar em algo meio celestial, tomar o comprimido pensando que estou comendo morangos com nata, empurrados com um tipo de líquido que me engane, e depois assumir uma psicose qualquer. Já assumi, mas de nada adiantou. Continuo a mesma azarada.
Dia desses fui à farmácia de manipulação e encomendei uns comprimidinhos de cálcio. No dia seguinte fui buscar. Para minha surpresa, a cápsula era um canhão! Pedi para falar com a farmacêutica e perguntei se não haveria nada menor... Veio com uma explicação que não me interessou; na minha modesta opinião aquilo era comprimido pra cavalo. Paguei, mas não tomei. Dei pra minha diarista que, por sinal achou a glória poder tomar cálcio. Até que fiquei feliz com minha boa ação. Passei por outra farmácia e comprei uns comprimidos que se dissolvem tipo bala. Ótimo; fiquei fã.
Outro problema torturante são as bulas: ah...essas bulas! Não tomo nada sem ler a bula. Os médicos odeiam quem lê bula... Sei, no entanto, que para se eximirem de qualquer problema em relação às reações, efeitos colaterais e óbitos, os laboratórios colocam tudo o que é possível e impossível de acontecer, e naquelas letrinhas minúsculas onde não se lê nada com desenvoltura. E os termos, aqueles hieróglifos indecifráveis? Ora, desde quando um leigo vai entender aquilo? Então, para que bula? Por que colocam tantas reações e os médicos mandam ir adiante? Particularmente tenho vontade de dar meia-volta... Até hoje é um mistério. Mas acho que a melhor explicação já dei acima.
Sou de opinião que não podemos ficar à margem e entregues totalmente na mão de profissionais da saúde sem tentarmos entender o que tomamos, seus efeitos, a interação com outros medicamentos; o mínimo. Dizem, os médicos, que temos de nos ajudar... Mas também temos de entender! Não sou favorável em buscar na Internet e nos Compêndios Médicos uma luz para nossos problemas, mas temos o direito de saber o que está acontecendo.
Há uns anos atrás, eu estava um tanto estressada - pela doença de meu pai - e apareceu em meu rosto uma mancha pequena que coçava. Fui ao dermatologista e me foi indicado um remédio novo no mercado, próprio para aquela dermatite. E tive um choque anafilático. É, aquela coisa meiga que nos deixa roxa, com tremores, febre, dores em todas as articulações, etc e tal. E que o atendimento tem de ser rápido.
Quando fiquei melhor, peguei a bula do remédio: ali dizia que um dos efeitos daquele remédio seria choque anafilático... Foi a primeira vez que não li uma bula. Penso que se tivesse lido, talvez tivesse falado com meu médico sobre essa possibilidade e ele teria dado um remédio tradicional, como me falou depois. Geralmente os médicos dizem que ‘se lermos as bulas não tomamos os remédios...’ E então, fazer o quê?
Sou contra em tomarmos decisões; mas em ler a bula, em apresentar para o médico nossas dúvidas é um direito nosso e uma obrigação de qualquer médico em esclarecer; se não devemos ler bulas, que tirem das caixas. Médico tem Compêndio, não precisa de bula.
Mas parece que está a caminho algo novo quanto às bulas... Tô na espera: quero ler sem ter medo de ser feliz.

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