terça-feira, 28 de abril de 2009

CRÔNICA DA SEMANA


A NOIVA
(Joésio Menezes)

Ansiosos, lá estavam todos os convidados. Na igreja não mais havia lugares sequer para o pouso tranquilo de um mosquito. O suor escorria pela testa do noivo que, incansavelmente, enxugava-a com um pequeno lenço branco enquanto olhava, minuto a minuto, para o relógio de pulso.
O desespero começava a tomar-lhe conta. E mais uma vez olha o relógio. E mais outra, e outra mais. Os ponteiros pareciam-lhe parados. O tempo não passava, a nubente não chegava, a angústia aumentava, o suor não cessava...
Àquela altura, os murmurinhos começavam a se espalhar. Piadinhas de mal gosto começavam a surgir. O zum zum zum ecoava igreja adentro e chegava aos ouvidos do noivo como um mal presságio. “O que terá acontecido? Será que ela desistiu?” – pensava ele, agora inda mais desesperado.
De repente, todos olham para trás ao mesmo tempo. Eram os padrinhos que, de dois em dois, entravam lentamente carregando no rosto sorrisos amarelados pelo cansaço da espera, desgastados pelo tempo em que ficaram aguardando aquele momento. Um sorriso de alívio esboça-se no rosto do jovem noivo, pois sabia ele que o grande instante estava por chegar.
As grandes portas de madeira da igreja fecham-se lentamente. Minutos mais tarde são abertas. Por trás delas, ao som da marcha nupcial, surge a estrela da noite toda de branco. Linda, majestosa, encantadora, deslumbrante, deslumbrada... No seu rosto, um sorriso de incomparável beleza contrastava-se com as lágrimas que banhavam o rosto do seu pai que, de braços dados, levava-a ao altar.
Empurram-se daqui, espremem-se dali, esticam o pescoço de acolá. Enfim, todos se ajeitam como podem para vê-la passar.
Os poucos metros que havia entre as portas da igreja e o altar transformaram-se em eternos quilômetros do ponto de vista de quem, ansioso, a esperava para desposá-la. Mas, finalmente, ei-la diante dos seus olhos, próxima do seu corpo, mais perto do seu coração.
Com um riso sem outro igual estampado no rosto e o coração quase a sair-lhe pela boca, o noivo beija a testa do homem que lhe entregara a filha. Em seguida beija a face esquerda da amada, entrelaça seus braços e a conduz ao altar com a certeza de que aquele instante ficará para sempre marcado na vida de ambos e que aquela angustiante espera foi recompensada com o maior presente que Deus poderia ter dado a um simples mortal.

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