UM DEDO DE PROSA
A NOIVA
(Joésio Menezes)
Ansiosos,
lá estavam todos os convidados. Na igreja não mais havia lugares sequer para o pouso
tranquilo de um mosquito. O suor escorria pela testa do noivo que,
incansavelmente, enxugava-a com um pequeno lenço branco enquanto olhava, minuto
a minuto, para o relógio de pulso.
O desespero começava a tomar-lhe conta.
E mais uma vez olha o relógio. E mais outra, e outra mais. Os ponteiros
pareciam-lhe parados. O tempo não passava, a nubente não chegava, a angústia
aumentava, o suor não cessava...
Àquela
altura, os murmurinhos começavam a se espalhar. Piadinhas de mal gosto
começavam a surgir. O zum zum zum ecoava igreja adentro e chegava aos ouvidos
do noivo como um mal presságio. “O que terá acontecido? Será que ela desistiu?”
– pensava ele, agora inda mais desesperado.
De
repente, todos olham para trás ao mesmo tempo. Eram os padrinhos que, de dois
em dois, entravam lentamente carregando no rosto sorrisos amarelados pelo
cansaço da espera, desgastados pelo tempo em que ficaram aguardando aquele
momento. Um sorriso de alívio esboça-se no rosto do jovem noivo, pois sabia ele
que o grande instante estava por chegar.
As grandes portas de madeira da igreja
fecham-se lentamente. Minutos mais tarde são reabertas. Por trás delas, ao som
da marcha nupcial, surge a estrela da noite toda de branco. Linda, majestosa,
encantadora, deslumbrante, deslumbrada... No seu rosto, um sorriso de
incomparável beleza contrastava-se com as lágrimas que banhavam o rosto do seu
pai que, de braços dados, levava-a ao altar.
Empurram-se daqui, espremem-se dali,
esticam o pescoço de acolá. Enfim, todos se ajeitam como podem para vê-la
passar.
Os
poucos metros que havia entre as portas da igreja e o altar transformaram-se em
eternos quilômetros do ponto de vista de quem, ansioso, a esperava para
desposá-la. Mas, finalmente, ei-la diante dos seus olhos, próxima do seu corpo,
mais perto do seu coração.
Com um riso sem
outro igual estampado no rosto e o coração quase a sair-lhe pela boca, o noivo
beija a testa do homem que lhe entregara a filha. Em seguida beija a face
esquerda da amada, entrelaça seus braços e a conduz ao altar com a certeza de
que aquele instante ficará para sempre marcado na vida de ambos e que aquela
angustiante espera foi recompensada com o maior presente que Deus poderia ter
dado a um simples mortal.
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