O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA
A ÁRVORE DA SERRA
(Augusto dos Anjos)
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
— Meu pai, por que sua ira não se
acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo
brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no
junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma!
...
— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu
viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria
serra,
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
CARREGADO DE MIM ANDO NO MUNDO
(Gregório de Matos)
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de
enganos,
Ser louco c'os demais, que só, sisudo.
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